‘Ação da polícia foi absurda, arbitrária e covarde’, diz vereadora agredida em SP
Movimento do Passe Livre repudia violência policial durante ato contra a alta da tarifa de ônibus, que não poupou nem jornalistas
Publicado 18/02/2011 - 19h15
Policiais agridem a vereadora Juliana Cardoso (de costas) com spray de pimenta (Foto: Anderson Barbosa/Fotoarena/Folhapress)
São Paulo – Para vereadores paulistanos agredidos durante manifestação contra o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo, a ação da Polícia Militar mostrou “despreparo” e tentou ‘marginalizar’ o movimento. O episódio ocorreu na tarde de quinta-feira (17), diante da Prefeitura, na região central.
Segundo a vereadora Juliana Cardoso (PT), o problema já começou na hora do almoço, quando foi impedida de entrar na Prefeitura pela Guarda Civil Metropolitana (GCM). A vereadora tentava chegar até os manifestantes que se acorrentaram nas catracas dentro do edifício. “Só depois de 25 minutos tentando entrar é que o inspetor da GCM chegou para dialogar. Os guardas foram ignorantes e chegaram a me empurrar para impedir minha entrada”, acusa.
Na sequência, os outros parlamentares não tiveram tanta dificuldade para acessar o interior do prédio na tentativa de intermediar o diálogo entre os manifestantes e o Executivo.
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No final da tarde, enquanto acontecia a manifestação em frente à Prefeitura, os vereadores Antônio Donato, José Américo (ambos do PT) e a própria Juliana estavam reunidos com o secretário de Relações Governamentais, Antonio Carlos Maluf, tentando negociar a abertura de diálogo entre a prefeitura e os ativistas.
Donato explica que, assim que o secretário declarou que não haveria conversações, os vereadores ouviram o barulho de bombas de gás lacrimogêneo na rua e desceram para tentar falar com a polícia e apaziguar ânimos. “À medida que se fecharam as negociações, a conduta policial endureceu. Ali, naquele momento, a gente só queria falar com o comandante.”
O vereador disse também que, quando desceram, a situação já estava sob controle e o comandante da operação se escondeu no meio da tropa de choque. “Tentei falar com o comandante e os policiais me agrediram para eu não chegar perto dele. Vários soldados estavam sem identificação”, acusa Donato. Imagens da TV Record mostram o momento em que Donato é agredido com um cassetete por um PM.
Os vereadores José Américo e Juliana Cardoso também foram atingidos com gás pimenta e cassetetes – os parlamentares prometem entrar com uma ação na corregedoria da PM contra o comandante da operação. “Se a gente (vereadores) não tivesse interferido naquela hora, a coisa ficaria feia, eles (PMs) estavam indo para machucar (os manifestantes, a maioria estudantes). Infelizmente é essa forma que o prefeito Kassab tem de dialogar, não só com os movimentos, mas também com o Poder Legislativo que é conferido a nós com o poder do voto”, critica Juliana.
Para Donato, a decisão de reprimir o protesto de quinta-feira foi política, já que, em outros atos, alguns manifestantes já haviam “provocado” a PM e a postura dos policiais era de diálogo. “Sempre tem algum jovem que se empolga um pouco e exagera. A serenidade tem de vir da tropa. A repressão de ontem (quinta) foi articulada e não um descontrole do comando.”
Movimento Passe Livre
O Movimento do Passe Livre São Paulo (MPL), que é um dos grupos que integra a luta contra o aumento da tarifa, também se manifestou sobre a repressão policial. Por meio de nota, o MPL qualificou a ação como “desproporcional, violenta e despreparada”. Na nota, o movimento ressalta que não só os manifestantes foram agredidos, mesmo estando desarmados, como também os jornalistas que cobriam a ocorrência e os parlamentares presentes.
“As imagens da detenção de Vinicius Figueira (integrante do MPL), bem como a cena de policiais militares com suas armas de fogo em punhos e a repressão que se abateu também contra a mídia, somada as agressões aos vereadores que estavam presentes no local, deixam clara a desproporcionalidade e o absurdo da ação policial. Por esse motivo, manifestamos aqui nosso repúdio à essas ações conduzidas pela Polícia Militar de São Paulo” destaca o movimento.
O Movimento Passe Livre São Paulo considera desproporcional, violenta e despreparada a ação policial ocorrida na manifestação do dia 17/2 em frente a Prefeitura.
O Comando da Operação se excedeu no uso da força, agindo violentamente contra manifestantes desarmados e em protesto contra o aumento abusivo das tarifas de ônibus em São Paulo. As imagens da detenção de Vinicius Figueira, bem como a cena de policiais militares com suas armas de fogo em punhos e a repressão que se abateu também contra a mídia, somada as agressões aos vereadores que estavam presentes no local, deixam clara a desproporcionalidade e o absurdo da ação policial. Por esse motivo, manifestamos aqui nosso repúdio à essas ações conduzidas pela Polícia Militar de São Paulo
Por fim, cabe destacar nossa preocupação com o estado de saúde atual de Vinicius. Nós, do MPL-SP, estamos sinceramente à disposição para apoiá-lo no que for preciso, desde a articulação para punir os policiais envolvidos na ação, bem como no auxílio com seus cuidados médicos. Acreditamos que a solidaredade militante se faz fundamental em momentos como esse, e é por esse motivo que estamos aqui!
Movimento Passe Livre São Paulo, 18 de fevereiro de 2011.