Moradores protestam contra obra que vai desalojar 2 mil famílias na zona sul de SP

Construção de túnel não estava prevista no projeto inicial da Operação Água Espraiada e deverá custar R$ 2,2 bilhões. Ao todo, obra vai desapropriar 14 mil famílias

Moradores da região da avenida Jornalista Roberto Marinho, realizaram um protesto em frente ao prédio da Prefeitura de SP. Os manifestantes questionam as desapropriações por causa das obras de ampliação da avenida. (Foto: Robson Ventura/Folhapress)

São Paulo – Moradores de sete bairros da região de Jabaquara, zona sul de São Paulo, protestaram na tarde da quarta-feira (11), em frente à prefeitura de São Paulo, contra a contrução de um túnel na região. A obra é parte do projeto da Operação Urbana Consorciada  Água Espraiada e deve atingir bairros como Jardim Aeroporto, Parque Jabaquara, Vila Santa Catarina, Vila do Encontro, Vila Fachini, Cidade Vargas e Jardim Leonor.

Segundo os moradores ouvidos pela Rede Brasil Atual, a mudança no projeto original de 2001, com a construção de um túnel no meio da região, vai levar à retirada de duas mil famílias de bairros “constituídos”. Mais 12 mil famílias de comunidades carentes que ficam ao longo da avenida Roberto Marinho, antiga Água Espraiada, que deve ser estendida até a rodovia Imigrantes, também serão atingidas.

Na avaliação dos organizadores do “Movimento dos Moradores Afetados pela Operação Urbana Consorciada Água Espraiada” cerca de 300 moradores participaram do protesto, no centro de São Paulo. “Queríamos ser ouvidos”, afirma José Orlando Guedini, morador do Jardim Aeroporto. “A prefeitura não atende a gente”, lamenta o militante.

>> Projeto inicial

A Operação Água Espraiada teve início em 2001 com a lei 13.260/01 e previa a construção de uma avenida expressa com duas pistas em cada sentido, viadutos, passarelas, um parque linear, a retirada e realocação de 12 mil famílias de comunidades carentes e um túnel de 400 metros sob a avenida Eng. Armando Arruda Pereira.

“A obra inicial não previa túnel no meio do bairro e atendia bem à população das comunidades que iriam para moradias dignas e não haveria mudanças no bairro”, explica o engenheiro José Orlando Guedini, morador da região.

Em 2009, a prefeitura apresentou novo projeto com um túnel menor, mas construído no meio da região e que levará à desapropriação de duas mil famílias de bairros com 40 anos de história, detalha o militante.

Na quarta, mais uma vez os moradores tentaram dialogar com a prefeitura, mas não foram atendidos pela gestão municipal. “Tinham prometido que seríamos atendidos, mas só uma socióloga da [Secretaria Municipal de] habitação, que não sabia de nada, conversou com a gente, no subsolo da prefeitura”, descreve o morador.

Pressão

Uma moradora, que prefere não ser identificada, conta que desde a publicação do decreto de utilidade pública da área, em novembro de 2009, os moradores estão sendo pressionados pela prefeitura da capital para deixar o local. “Recebemos cartas com ameaças”, informa. “Se não sairmos por bem, dizem que a PM vai nos tirar de qualquer jeito”, denuncia a moradora.

Ghedini confirma a truculência da gestão municipal. “Eles estão jogando com a população. Querem fazer a obra, remover as famílias, porque depois que as famílias são removidas da área vai cada um para um lado e perdemos a força do grupo. Eles usam da maior truculência”, anuncia o militante.

Às pressas

Segundo os moradores, a prefeitura “está correndo para realizar a obra”. Embora tenha havido uma audiência pública para discutir o novo projeto do túnel, Ghedini cita que a comunidade local não soube da reunião e não participou da discussão. “Estão ‘desesperados’ para começar essa obra, aprovando estudo de impacto ambiental com sessenta e uma irregularidades”, aponta.

O mais estranho, comenta o morador, é que o túnel previsto no projeto inicial teria 3.650 metros e custo de R$ 1,6 bilhões. Já o novo túnel, no centro da região do Jabaquara, vai ter 2.350 metros de extensão e custar R$ 2,2 bilhões aos cofres públicos. “o túnel diminuiu mais de 26% e aumentou o custo em 38%, é uma coisa para se pensar”, compara.

A obra deve ficar em R$ 4 bilhões, sem incluir o túnel. O projeto de 2001 ficaria em R$ 1,1 bilhão, anuncia Ghedini.

Das 12 mil famílias de comunidades carentes que devem ser retiradas da região, o morador cita que só há projeto para construção de moradias para quatro mil delas. “A prefeitura diz que tem convênio com a CDHU [Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano], que vai fazer outras oito mil casas. Mas não existe terreno na região, não existe verba e porque a CDHU vai fazer? Ela é boazinha?”, indaga. 

Para o militante, a prefeitura está jogando com a vida das pessoas. “Estão jogando essa brincadeira de convênio em vários lugares de São Paulo. Prometem no Jardim Pantanal, fazem cadastro lá, mas é tudo mentira”, avalia Ghedini.