Volta às aulas na USP é esperança de retomada do debate sobre democracia

Professores querem sabem dos candidatos à eleição para nova reitoria, que ocorre em outubro, posição sobre ampliação do debate dentro da universidade

Atrapalhado por férias e pelo adiamento do início do semestre letivo devido à gripe A, o movimento que pede democratização da Universidade de São Paulo (USP) quer aproveitar as eleições para reitor, marcadas para outubro, para debater o tema.

A volta às aulas, nesta segunda-feira (17), começa a dissolver o enigma sobre qual impacto teve a parada de meio de ano na discussão, que teve início em 9 de junho, quando a Polícia Militar reprimiu dentro da Cidade Universitária um protesto de alunos e de funcionários. Seguiu-se uma greve das três categorias acompanhadas por Unesp e Unicamp, as outras universidades estaduais paulistas, e que chegou ao fim pouco antes da entrada das férias.

Agora, a Associação dos Docentes da USP (Adusp) espera que a primeira semana de aulas sirva para colocar os pingos nos is sobre como será a pressão, com discussão em todas as unidades e assembleia já na outra semana para definir um calendário de mobilização. A ideia é realizar, a exemplo do ocorrido em outras ocasiões, uma consulta simbólica durante as eleições para reitor – a posição tirada das urnas não é levada em conta pelo restrito conselho que elege o próximo comandante da universidade nem pelo governador, no caso José Serra, responsável por escolher um dos três nomes de uma lista enviada a ele.

A expectativa é de que esta seja a última eleição feita de maneira indireta na USP, que tem uma das estruturas de poder mais rígidas no ensino superior brasileiro. A professora Heloísa Borsari, diretora da Adusp, entende que eleições diretas e paritárias “já seriam um grande avanço, mas o processo teria de ser muito mais amplo”.

O Conselho Universitário, fórum maior de decisões da USP, é o exemplo mais evidente: 75% dos cargos cabem a professores, em sua maioria titulares, grau mais alto da carreira universitária, e estudantes e funcionários dividem um pequeno espaço, com voto que na maior parte das vezes não pode ir além do simbólico.

Heloísa Borsari, do Instituto de Matemática e Estatística, concorda que a centralização na universidade tem a ver com sua origem – a instituição foi criada por oligarcas nos anos 1930. “Antes, era o poder dos catedráticos, hoje dos titulares. Passou da hora de entender que não se trata de abrir mão da excelência da USP, longe disso, mas de pensar de uma maneira diferente”, afirma.

Até agora, os candidatos têm se mostrado abertos à possibilidade de diálogo, embora o grau de abertura aceito por cada um não esteja claro. Para a diretora da Adusp, os acontecimentos de 9 de junho, quando houve a repressão policial, são um marco histórico na universidade. Daqui por diante será necessário discutir a democracia dentro da USP, e a classe docente, que na opinião da professora andava adormecida, despertou para o problema.

Saiba mais:

Debates serão realizados a partir da próxima quarta-feira (19) no Instituto de Psicologia com os candidatos a reitor.

Endereço: Bloco G do Instituto de Psicologia, Avenida Professor Mello Moraes, 1721, Cidade Universitária, São Paulo.

Quarta-feira, 19 de agosto
10 horas – Wanderley Messias da Costa, coordenador da Coordenadoria de Comunicação Social (CCS)
14 horas – Glaucius Oliva, diretor do Instituto de Física de São Carlos (IFSC)

Quinta-feira, 20 de agosto
15 horas – Armando Corbani Ferraz, pró-reitor de Pós-Graduação

26 de agosto
14 horas – Rui Alberto Corrêa Altafim, pró-reitor de Cultura e Extensão Universitária

3 de setembro
14h30 – João Grandino Rodas, diretor da Faculdade de Direito (FD)

 

 

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