Sem se justificar, reitora cancela reunião do órgão máximo da USP

Encontro do Conselho Universitário, primeiro depois da repressão policial e do início da greve, foi cancelado sem que motivos fossem explicitados

Uma mensagem eletrônica de três linhas informa professores, funcionários e estudantes do cancelamento do encontro da próxima terça-feira (30) do Conselho Universitário (Co). A última reunião do órgão máximo da Universidade de São Paulo (USP) no primeiro semestre deveria tratar, além dos assuntos relativos ao dia-a-dia da USP, de fatos nada cotidianos, como a ação da Polícia Militar dentro do campus que deixou feridos no início do mês e desencadeou a greve de professores e estudantes, além da paralisação da Unicamp e de parte da Unesp.

Nesta quinta-feira (25), a reitora Suely Vilela gerou mais um motivo para críticas. Antes, vários setores da comunidade interna a acusavam de não dialogar. Antes do cancelamento, um pedido para antecipar a reunião do Co havia sido negado pela administração central.

Pedro Barros, representante dos alunos de pós-graduação no conselho, lembra que foi a primeira vez em que houve maioria dos integrantes pedindo a antecipação. “E a resposta da reitora, como se esperava da sua política, foi de não só não acatar a solicitação como também suspender a sessão (prevista para terça)”.

Para o professor Pablo Ortellado, representante dos docentes com título de doutorado no conselho, a decisão “é um despropósito” na atual crise da instituição, por envolver a ação da PM no campus e uma discussão política que não avança. “(Após) uma baita crise que desgasta a Universidade perante a opinião pública ocorre isso, de não convocar o principal foro de discussão”, indigna-se.

O Conselho Universitário era tradicionalmente formado, em sua maioria, por professores favoráveis aos reitores. Na atual gestão, a instituição ganhou peculiaridades. Nos últimos meses, as reuniões têm sido realizadas no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), área isolada e militarizada da Cidade Universitária em que manifestações não são permitidas. Os representantes de alunos de graduação e de pós-graduação reclamam que nem sempre são avisados com antecedência de mudanças de local ou de horário, o que gera inclusive uma ação na Justiça pedindo o cancelamento de um dos encontros.

O professor Pablo Ortellado considera que há um processo de esvaziamento da discussão política no âmbito do conselho. “Nesta crise, o Co deveria ter sido chamado para tomar medidas, somar, propor, e ele foi solenemente ignorado. Agora, não sei se estão ocorrendo reuniões de grupo nos bastidores ou se a reitoria está isolada, tomando decisões por ela mesma”, lamenta.

Procurada, a assessoria de imprensa da reitora Suely Vilela não respondeu às questões levantadas pela reportagem e não apresentou justificativa para o cancelamento.