Delfim Netto é convidado a depor na Comissão da Verdade paulistana

Presidente do colegiado pede que Comissão Nacional convoque ex-ministro e prega colaboração entre órgãos municipal, estadual e federal

Delfim foi um dos signatários do AI-5, que levou ao período de maior repressão da ditadura (Foto: Luiz Carlos Murauskas/Folhapress)

São Paulo – A Comissão Municipal da Verdade de São Paulo aprovou hoje (9) requerimentos para convocar o ex-ministro Delfim Netto, que ocupou as pastas de Fazenda (1967-1974), Agricultura (1979) e Planejamento (1979-1985) durante a ditadura (1964-1985). Delfim foi um dos signatários, em 1968, do Ato Institucional número 5, o AI-5, que levou ao fechamento do Congresso, à cassação de liberdades políticas e ao período mais agudo da repressão do regime.

O requerimento foi apresentado pelo presidente do colegiado, Gilberto Natalini (PV), mas não tem força de convocação. A única comissão do gênero autorizada a convocar pessoas a depor é a nacional, criada por projeto de lei aprovado pelo Congresso e sancionado pela presidenta Dilma Rousseff. O pedido não esclarece o motivo pelo qual Delfim foi chamado.

Natalini pediu ao representante da Comissão Nacional da Verdade, Anivaldo Padilha, que a CNV use o direito de convocação, mas um ato concreto em relação a Delfim dependerá de acordo. Padilha respondeu que o colegiado está disposto a ajudar a “desvendar os tentáculos da ditadura e como diversas instituições colaboraram com o regime”, o que passa pela convocação de figuras ligadas à repressão para que prestem depoimento na sede do Legislativo paulistano.

A reunião marcou a retomada dos trabalhos da comissão municipal, que no ano passado não avançou nos trabalhos e foi reaberta na nova legislatura. Além de Delfim, foram convidados a depor o jornalista Cláudio Guerra, autor do livro Memórias de uma Guerra Suja, e Carlos Alberto Brilhante Ustra, comandante do DOI-Codi de São Paulo, um dos principais aparelhos usados pela repressão.

Além disso, os parlamentares aprovaram a realização de uma visita técnica às instalações do antigo DOI-Codi, hoje o 36º Distrito Policial, na rua Tutoia, no bairro do Paraíso, zona sul de São Paulo. Ustra ainda não prestou depoimento à CNV, embora outros integrantes do destacamento comandado por ele já tenham prestado informações.

Por sugestão do presidente da Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva, deputado Adriano Diogo (PT), o colegiado municipal procederá a um levantamento que consta das promessas de campanha do prefeito Fernando Haddad. 

“A Comissão Municipal poderia fazer um levantamento dos logradouros públicos que tenham nome de pessoas ligadas à repressão, além de escolas municipais e praças. Seria significativo mudar os nomes, como Elevado Costa e Silva, mas isso é difícil, então sugiro pelo menos o levantamento”, disse. 

A respeito do elevado que dá nome ao presidente entre 1967 e 1969, o vereador Nabil Bonduki (PT) apresentou este ano projeto de lei para que a alusão seja banida, deixando-se apenas o nome pelo qual a via é conhecida: Minhocão.

 

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