Dia Internacional pelo Direito à Verdade reúne ativistas e artistas em São Paulo

Leitura feita pela Companhia do Latão, inspirada em texto de Bertolt Brecht, marcam celebração do Dia Internacional pelo Direito à Verdade (Foto: Paulo Fávari/cortesia) São Paulo – Artistas e ativistas […]

Leitura feita pela Companhia do Latão, inspirada em texto de Bertolt Brecht, marcam celebração do Dia Internacional pelo Direito à Verdade (Foto: Paulo Fávari/cortesia)

São Paulo – Artistas e ativistas promoveram neste domingo (24) um ato público no centro da capital paulista para lembrar o Dia Internacional pelo Direito à Verdade. Organizada pela psicanalista Maria Rita Kehl, integrante da Comissão Nacional da Verdade, e pelo grupo teatral paulistano Companhia do Latão, a celebração teve discursos, canções e uma encenação inspirada no texto As cinco dificuldades de escrever a verdade, do dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898-1956). 

O ato ocorreu na rua Maria Antônia, palco do enfrentamento ocorrido entre membros do chamado Comando de Caça aos Comunistas (CCC), da Universidade Mackenzie, e estudantes da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. “Aqui começou a rebelião estudantil de 1968 e é um sítio histórico da resistência à ditadura. As novas gerações estão assumindo coisas que estavam enterradas há décadas e isso é fundamental”, disse o presidente da Comissão Estadual da Verdade de São Paulo, o deputado Adriano Diogo. 

A celebração também contou com a participação de ex-estudantes do Centro Universitário Maria Antônia da USP (entre 1949 e 1968). “Esse lugar foi palco de amor e luta. Em certo momento, o que estava em jogo era a adesão de estudantes e colegas à luta armada”, lembrou o compositor e professor de Literatura Brasileira da USP José Miguel Wisnik.

Em sua fala, Wisnik prestou uma homenagem a Elenira Nazaré e Iara Iavelberg, militantes desaparecidas e mortas durante a ditadura militar. “Não queremos instaurar uma verdade única, mas a dimensão das verdades que desvelam a mentira maiúscula de que nada disso aconteceu. O torturador não admite que essa história seja contada”, disse.

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O Dia Internacional pelo Direito à Verdade para as Vítimas de Graves Violações dos Direitos Humanos foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2010, em homenagem a Oscar Romero, arcebispo de El Salvador, assassinado em 24 de Março de 1980 por seu ativismo contra a violação aos direitos humanos.

“É a primeira vez que esse dia é celebrado no Brasil. Trata-se de uma verdade à qual todos temos direitos e que está silenciada até hoje”, disse Maria Rita Kehl (Foto: Paulo Fávari/cortesia)

“Vivemos um momento em que o pensamento conservador não tem medo de ir às ruas. É preciso marcar posição histórica e discutir esse processo, que se tratou de crime de Estado”, disse Sérgio de Carvalho, diretor da Companhia do Latão, sobre o período da ditadura no país (1964-1985).

A celebração contou também com a presença de Débora Maria Silva, integrante do grupo Mães de Maio, fundado em 2006, após a execução de centenas de jovens nas periferias da capital, entre eles, o próprio filho. “Juntar o passado e o presente faz parte do nosso movimento, que foi feito para ajudar aqueles que não tem fala. As mães também pleiteiam a Comissão da Verdade para a história dos ‘crimes de maio’ que não foram contados.”

“Hoje, o direito à verdade ainda é um debate no Brasil. O modo como a ditadura acabou criou um clima para que ninguém mexesse com os militares. Trata-se de uma verdade à qual todos temos direitos e que continua silenciada”, disse Maria Rita Kehl.

O ato pelo Dia Internacional pelo Direito à Verdade recebeu o apoio de inúmeros coletivos culturais e grupos teatrais e foi encerrado com uma apresentação do bloco de percussão Ilu Obá De Min.

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