Mãe aflita pede internação ‘bem longa, de um ano, dois, três’, para filha dependente

Aos 35 anos, a filha da faxineira Aparecida Miranda já foi internada contra a vontade várias vezes. Agora, a mãe espera que a internação dure mais e que a obriguem a tomar remédios

Enquanto grupos protestavam contra internação forçada do lado de fora do Cratod, mãe pedia que forçassem a filha a se medicar (Foto: Gerardo Lazzari)

São Paulo –  “Acho que toda mãe que tem uma filha como a minha quer uma internação assim. Precisa. É muito difícil, difícil mesmo. Na casa que tem uma drogada ninguém tem sossego. A minha filha dá muito trabalho”, relata a faxineira Aparecida Miranda, de 54 anos. A filha, de 35 anos, é viciada em álcool, cocaína e crack desde os 20. 

Aparecida diz que desde que o anúncio sobre a internação compulsória foi feito, sem muitos detalhes, pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), no último dia 3, vizinhos do bairro Campos Elíseos, no centro, incentivam a procura do Centro de Referência de Álcool, Tabaco e outras Drogas, Coordenadoria de Serviços de Saúde (Cratod). Ela segue a recomendação desde o início da semana passada, sem nunca conseguir ser atendida. 

A faxineira relatou, logo após o lançamento do programa de internação compulsória hoje, em São Paulo, que a filha rouba e ameaça a família e os vizinhos e já chegou a agredir médicos que tentaram interná-la.  Sem trabalhar, é Aparecida quem precisa cuidar dos três netos com idade entre 18 meses e 14 anos. “Ela nunca quis se tratar, nunca procurou o atendimento. Mas ela fica muito agressiva dentro de casa e eu ligo para a polícia. A polícia leva minha filha amarrada, ela fica lá no hospital uma semana, 15 dias. Depois volta. “O que eu quero é uma internação bem longa para ela. Um ano, dois, três.”

Leia trechos da conversa com Aparecida  na manhã hoje (21), no Cratod:

Sua filha já foi internada outras vezes. A sra. acha que agora vai ser diferente?

Vai.

Por quê? Ela quer se tratar?

Ela não aceita. Essa lei aí não veio para internar quem não quer? Pois então, chegou a vez dela. Ela nunca quis fazer um tratamento. Ela não aceita.

Quando e por que ela voltou, depois de ser atendida por policiais?

Ela fica lá internada 15 dias, depois a ambulância deixa ela na porta de casa. Porque acham que ela melhorou um pouquinho, tá mais calma. Porque toma remédio, vem mais calma. Aí deixam na porta, da porta mesmo ela volta para a rua. Agora está há 15 dias internada. 

Repórter de outra equipe: A sra. acha que ela corre risco de morrer?

Não.

E de colocar outras pessoas em risco?

É. É um risco. Ela não pode ficar no meio de outras pessoas. Ela é antissocial. Ela agride as pessoas. Quer matar alguém. Ela estava dormindo com faca debaixo do travesseiro. Dizendo que queria me matar, matar os outros na rua. Tacar fogo em tudo.

Das outras vezes a levaram para casa porque ela não queria ficar ou porque estava melhor?

Porque estava melhorzinha. Mas que queria que ela ficasse um ano, dois. Mais.

Ela já ficou tanto tempo assim?

No começo ela ficava. Depois foram vendo que ela não tem interesse de fazer o tratamento. 

Esse tratamento é com remédios?

É. Mas ela nunca aceitou tomar os comprimidos.

A sra. acha que vão obrigá-la a tomar o medicamento?

Não sei. Eu sei que ela vai estar no hospital. Porque estando no hospital eu sei que ela vai estar segura. Eu sei que ela vai estar bem, em qualquer hospital que ela fique. O que eu quero é um tratamento prolongado, sabe. Não é de um mês e voltar embora para casa.

E se ela não quiser tomar o remédio?

Tem de forçar a tomar o remédio. Eu quero, preciso de alguém que force ela a tomar o medicamento. É o que ela precisa. Ela tem de tomar o remédio. Ela tem de fazer o tratamento. Ela não aceita. Ela não quer. Ela não aceita. Ela não ama ela. Ela não vê a hora de sair do hospital para voltar para as ruas. 

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