Exposição em São Paulo lembra perdas familiares causadas pela ditadura

O fotógrafo argentino Gustavo Germano, que teve um irmão desaparecido no regime militar, mostra foto da própria família (CC/pixelicia.com) São Paulo – Retratos de famílias se tornam símbolos da brutalidade […]

O fotógrafo argentino Gustavo Germano, que teve um irmão desaparecido no regime militar, mostra foto da própria família (CC/pixelicia.com)

São Paulo – Retratos de famílias se tornam símbolos da brutalidade da repressão da ditadura militar no trabalho do fotógrafo argentino Gustavo Germano. Na exposição Ausências Brasil, Germano tem como ponto de partida as fotos de vítimas do regime juntamente com seus parentes. As cenas são, então, refeitas no presente, deixando óbvia a perda da família.

O projeto percorreu as regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste para reunir as fotografias das 12 famílias que estão representadas na exposição que abre na próxima sexta-feira (7) na capital paulista. A mostra ficará no Arquivo Público do Estado de São Paulo, zona norte.
 
O trabalho foi idealizado pela organização não governamental (ONG) Agência Livre para Informação, Cidadania e Educação (Alice) com base em um trabalho feito pelo próprio Germano com famílias argentinas, a maioria de sua  cidade natal: Entre Ríos. O fotógrafo perdeu um irmão para a repressão na Argentina.

As famílias brasileiras foram escolhidas após pesquisa no livro Direito à Memória e à Verdade, editado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência (SDH), que também financiou o projeto fotográfico, via edital. O coordenador do projeto na ONG, Luciano Piccoli, conta que foi difícil reunir material que preenchesse os requisitos para o projeto.

A primeira dificuldade foi encontrar fotos de família onde apenas a vítima da ditadura não estivesse mais viva. Com o aumento da perseguição aos opositores do regime, os militantes passaram a evitar registros que os vinculassem a pessoas queridas. “A partir de 68, com o extremo cuidado que eles tinham com os parentes, eles passaram a evitar o envio de fotos e cartas, qualquer referência”, ressalta  Piccoli.

A transformação das cidades ao longo do tempo também limitou as fotografias que pudessem ser selecionadas. “Um lugar que antes era uma praça pública tinha sido demolido e agora é um prédio”, exemplifica  Piccoli. Por isso, algumas fotos escolhidas para serem remontadas são em igrejas, espaços poucos propensos a mudanças radicais.

O resultado é um conjunto de fotos com força educativa e apelo emocional, na opinião do coordenador do Projeto Direito à Memória e à Verdade da SDH, Gilney Viana. “As fotos têm uma carga afetiva brutal. Então, desindividualiza aquele sofrimento, torna uma coisa coletiva”, disse.

Além disso, as fotos são mais uma forma de homenagear as pessoas que se opuseram à ditadura militar e, por isso, foram assassinados ou desapareceram. “Diz respeito à memória daqueles que se sacrificaram na luta pela democracia, por seus ideais”, ressalta Viana, lembrando que, agora que a Comissão da Verdade foi instalada, é um bom momento para que essas questões voltem a ser levantadas.

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