Dilma pede à sociedade reação contra violência que atinge população de rua

Dando continuidade à tradição criada por Lula, em 2003, a presidenta se encontrou hoje em São Paulo com representantes dos movimentos de catadores de materiais recicláveis

Na quadra do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Dilma reafirmou compromisso com catadores e moradores de rua (Foto: Roberto Stuckert Filho)

São Paulo – A presidenta Dilma Rousseff pediu hoje (21) à sociedade brasileira que deixe de tolerar a violência praticada no país contra catadores de materiais recicláveis e pessoas em situação de rua. “A sociedade deve assumir esse repúdio, porque não é admissível que o Brasil, que é cada vez mais respeitado em todo o mundo, dê esse tratamento à sua população de rua e olhe com desconsideração a essa população, que eu chamo de batalhadora, lutadora e trabalhadora, que vive da atividade de reciclar o lixo que produzimos”, expressou. “Esse país só será desenvolvido se todos os brasileiros forem tratados como cidadãos.”

Dilma reconheceu que a maioria das agressões contra moradores de rua acontece durante a madrugada, longe dos olhos das autoridades. “A não ser que sejam denunciadas, não será possível que se tome uma posição efetiva em relação à impunidade”, explicou. “Precisamos esclarecer os crimes e reduzir a impunidade. A pessoa acha que pode matar morador de rua ou cometer outro tipo de violência, e ficar impune é um incentivo que leva à repetição.” Por isso, a presidenta pediu a colaboração de igrejas, estados, municípios e Ministério Público na investigação dessas ocorrências, e prometeu: “Me empenharei para que a gente tenha possibilidade de reduzir essa violência inadimissível”.

Assumindo uma tradição criada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que em 2003 passou a reunir-se anualmente com os catadores às vésperas do Natal, a presidenta se encontrou hoje com membros do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) e do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR). O evento foi realizado na quadra do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osaco e Região, no centro da capital, e contou com a participação de lideranças de todo o país. Porém, sobrou bastante espaço na plateia, que ficou apenas parcialmente ocupada. Ainda assim, algumas pessoas foram impedidas de entrar.

‘Virei sempre’

“É a segunda vez que venho e tenho certeza de que, até o final do meu mandato, virei todas as vezes”, anunciou Dilma. “A presidenta tem a obrigação de governar para todos os brasileiros, mas deve dar atenção especial àquela população que tem mais fragilidade.” Em seu discurso, Dilma reagiu a um vídeo exibido pelos catadores momentos antes, e que mostra moradores de rua sendo agredidos por policiais e guardas municipais de São Paulo. “Devemos repudiar, combater e ser sistematicamente contrários a todas as formas de violência”, defendeu. “Não é concebível que se jogue spray de pimenta no rosto de um catador adormecido.”

Dilma reafirmou que “o acolhimento e o atendimento humanizado são fundamentais para garantir os direitos de toda a população de rua do Brasil” e citou como exemplo de política pública o Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua e Catadores de Materiais Recicláveis de Belo Horizonte (MG). “Garantiremos seu funcionamento até o final do meu governo”, se comprometeu a presidenta, anunciando ainda repasse de verbas para que as administrações municipais atendam melhor à parcela mais fragilizada da sociedade brasileira.

“Em 2013, o Ministério da Saúde vai implantar mais 144 consultórios de rua, e o Ministério de Desenvolvimento Social está sendo responsável pela instalação de centros de referência especializados em população de rua, os centros POP, para assegurar um abrigo e um local onde seus direitos sejam reconhecidos”, informou. Dilma comemorou as linhas de crédito abertas pelo Banco do Brasil e BNDES para equipar cooperativas de catadores, saudou a entrada de 10 mil catadores no Programa Minha Casa Minha Vida e reiterou que os programas federais de transferência de renda – Bolsa Família e Brasil Carinhoso – estarão a disposição dos trabalhadores que ainda não conseguiram estabilidade financeira.

Antes de fazer uso da palavra, a presidenta assistiu a um desfile de modas com modelos escolhidas nas cooperativas de catadores da região metropolitana de São Paulo, e que trajavam peças fabricadas a partir de materiais recicláveis, como cartões de crédito e garrafas pet. Dilma estava acompanhada dos ministros de Direitos Humanos, Saúde, Educação, Cultura, Trabalho e da Secretaria Geral da Presidência. Todos ouviram as exigências de lideranças dos movimentos de catadores e moradores de rua, que entregaram uma carta com 13 pontos para dialogar com o governo ao longo do ano que vem.

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