Álcool, drogas e falta de perspectivas motivam suicídios de índios Carajás

Audiência pública realizada hoje (12) no Senado cobrou maior presença da Funai nas aldeias

Cacique Iwrarú Karajá (1º à direita) disse que os traficantes entram à vontade nas aldeias (Foto: Geraldo Magela/Ag. Senado)

São Paulo – O suicídio de quatro jovens entre 14 e 17 anos entre janeiro e fevereiro e mais seis tentativas no período, além de sete casos registrados em 2011 entre os índios Carajás, no Tocantins, está associado à livre circulação de bebibas alcoólicas e drogas e à falta de opções de estudo, trabalho e lazer para os jovens, segundo lideranças que realizaram audiência pública realizada hoje (12) na Comissão de Direitos Humanos do Senado hoje. O debate foi proposto pelo senador Vicentinho Alves (PR-TO) e presidido por Paulo Paim (PT-RS).

Segundo o cacique Iwrarú Karajá, da aldeia Watau, a situação se agrava porque não existe fiscalização da entrada de bebidas e drogas na Ilha do Bananal. “Traficantes entram à vontade, as aldeias estão dominadas”, disse. O cacique cobrou a presença da Fundação nacional do Índio (Funai) e condições de segurança ao seu povo.

Vicentinho Alves sugeriu um modelo específico de segurança para atender às particularidades das comunidades indígenas. Ele também cobrou a presença da Funai nas aldeias e considerou exagerada a contratação de organizações não governamentais para realizar atribuições da fundação. “As políticas para os povos indígenas deveriam ser aglutinadas em uma secretaria ligada à Presidência da República”, sugeriu.

O coordenador de Assuntos Indígenas da Secretaria de Cidadania e Justiça do Tocantins, Kohalue Karajá, concorda com o peso do álcool e das drogas nos suicídios. Mas, para ele, o problema é agravado pela feitiçaria, “uma questão cultural muito relevante para os indígenas”.

As perdas sofridas pelos índios no relacionamento com os não índios também leva à falta de perspectivas nas aldeias, na análise do membro da organização não governamental Cátedra Indígena Internacional MarcosTerena. Ele julga prioritário o resgate dos valores ancestrais para esse povo. 

“Não podemos deixar de ouvir a sabedoria da mulher nas aldeias. São elas que ensinam a língua e o conhecimento. Também é preciso valorizar a parte espiritual. A força dos pajés pode ajudar a recuperar valores ancestrais, para que povos indígenas sintam firmeza nas relações interculturais”, disse.

Medidas

O secretário especial da Saúde Indígena do Ministério da Saúde (Sesai), Antonio Alves de Souza, afirmou que foi reforçada a proibição da venda de bebidas alcoólicas para indígenas na cidade de São Félix do Araguaia (MT) e a fiscalização nas aldeias desde o registro dos suicídios no ano passado. As medidas foram tomadas em conjunto com a Funai e o Ministério Público.  

Cleso Fernandes de Morais, coordenador Regional da Funai em Palmas, aposta na vontade política para melhorar a atuação nas aldeias. Também aponta a necessidade de maior articulação dos governos federal, estadual e municipal para tornar o trabalho realizado mais eficiente.

A assessora da Secretaria de Justiça do Estado do Tocantins Leonídia Batista Coelho observou que as causas de suicídios entre indígenas são conhecidas, assim como as soluções: ampliar as opções para os jovens e melhorar as condições de educação e saúde. Para ela, a maior dificuldade para implementar essas medidas está na falta de articulação dos órgãos envolvidos.

Com informações da Agência Senado