Uma semana após reintegração, Pinheirinho atrai catadores e curiosos

Terreno que abrigava comunidade virou campo de entulho, e Força Tática da PM ainda ronda o local. Moradores afirmam não ter acesso a galpão onde estão os bens recolhidos na operação

No meio do entulho na comunidade do Pinheirinho, só “sobrou” uma parabólica (©Foto: Felipe Castro/ Camillasbigscore.wordpress.com)

São José dos Campos (SP) – Após a demolição das casas da comunidade do Pinheirinho, em São José dos Campos, a 97 quilômetros da capital paulista, o terreno atrai catadores, uma vez que muitos dos pertences dos antigos moradores não puderam ser recolhidos antes da derrubada das casas. Alguns dos moradores desalojados queixam-se de proibição, por parte de soldados da Polícia Militar, de reaver seus objetos. Há relatos de perda de bens variados, de documentos pessoais a eletrodomésticos.

O cheiro de queimado ainda é forte no local. Há móveis novos perdidos em meio ao entulho, que toma os mil metros quadrados do terreno. A prefeitura da cidade organizou os bens das 1,7 mil famílias em um galpão até que fossem reclamados. Moradores afirmam que não tiveram tempo de reavê-los durante a operação.

Segundo Edmílson Nunes, de 34 anos de idade, ao ser barrado no acesso ao galpão, um policialr lhe disse: “Quem tirou, tirou. Quem não tirou, não tira mais”. Na reintegração, Edmílson perdeu televisão e geladeira e seus documentos ainda estão sob os escombros. “Quando pudemos pegar nossas coisas, roupas e objetos estavam no chão, espalhados”, lamentou.

A reportagem da Rede Brasil Atual acompanha um mutirão organizado pelo Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana de São Paulo (Condepe-SP), que viajou até São José dos Campos para colher depoimentos e denúncias de agressão e danos materiais durante ação policial na ocupação, no dia 22. O material colhido seguirá para a Defensoria Pública e para o Ministério Público Federal, órgãos responsáveis por eventuais processos judiciais movidos contra a PM e o governo estadual.

“O objetivo é que os moradores que foram dispersados nesta ação sejam ouvidos, porque o fato de eles estarem longe dificulta que formalizem suas denúncias”, disse Renato Simões, conselheiro do Condepe, um dos organizadores da ação voluntária. “O trabalho é furar o bloqueio e minimizar a violação de direitos humanos.”

As queixas dos moradores são registradas em fichas, que classificam aqueles que sofreram violência física ou danos materiais. “Isso vai garantir que  aquelas pessoas consigam processar o estado pelos danos, caso decidam, pois já estará formalizado”, explicou Renato.

Uma audiência pública com participação de outros movimentos sociais está programada para a noite desta segunda-feira (30), às 19h, na Câmara Municipal. No dia 22, policiais militares cumpriram uma decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo de reintegração de posse em um terreno da massa falida de uma empresa do megaespeculador Naji Nahas. A ocupação durava sete anos e uma negociação entre líderes do movimento e do governo estadual prometia adiar por duas semanas qualquer ação de retirada das famílias.

A ação teve contornos de operação de guerra, com excessos praticados por policiais, segundo moradores e observadores de direitos humanos. Até jornalistas que cobriam a situação foram alvos. A repórter Lúcia Rodrigues, da Rádio Brasil Atual, foi ameaçada por um membro da Guarda Civil Municipal sem identificação, que chegou a fazer disparos contra ela.

O episódio teve repercussões políticas. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), alega que a PM foi cedida à Justiça conforme determina a lei e que abusos serão avaliados a partir de imagens gravadas durante a operação. O ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, usou termos como “barbárie” e “terrorismo” para definir a ação policial.

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