Criada para conter danos de Belo Monte, Operação Xingu restringe-se a paliativos

Movimentos sociais enxergam limites nas ações organizadas pelo governo federal para as cidades atingidas pela construção da hidrelétrica

Região do Rio Xingu onde será construída a hidrelétrica de Belo Monte (Foto: Ministério do Meio Ambiente/divulgação)

São Paulo – Com a possibilidade de diminuir ou não os impactos sócio-ambientais causados pela construção da hidrelétrica de Belo Monte, na região de Altamira, no Pará, o governo federal inicia nesta quarta-feira (2) uma operação que tem objetivo de oferecer serviços, como o fornecimento de carteira de identidade, CPF, carteira de trabalho, regularização de situações fundiárias e outros. Movimentos sociais, entretanto, repudiam o mutirão, afirmando que a medida é apenas paliativa perto da violação aos direitos humanos que a construção da hidrelétrica no Rio Xingu configura.

De acordo com o diretor de Desenvolvimento Rural Sustentável do Ministério do Meio Ambiente, Paulo Guilherme Cabral, a operação marca o início dos trabalhos que terão continuidade com o desenvolvimento de ações nas áreas de saúde, educação, regularização fundiária e ambiental. Um dos carros chefes das ações do mutirão é a regularização fundiária para assentados e moradores, que deverá contar com 30 equipes do programa Terra Legal Amazônia, do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), que percorrerão os 11 municípios tirando dúvidas da população.

Operação Cidadania Xingu:
 
A operação foi montada pelo governo para fazer frente aos impactos regionais da contrução da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, alvo de manifestações de indígenas e integrantes de comunidades tradicionais da região do Xingu. Além de Altamira, mais 11 muncípios receberão os mutirões. O governo ainda pretende realizar mutirões em assentamentos da reforma agrária.

Rogério Hohm, coordenador do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), considera que a ação do governo na região deveria ter acontecido antes. “As políticas públicas para a região só vieram com a chegada de Belo Monte, agravadando duplamente a situação da população que vive em torno do Rio Xingu. Elas já não tinham acesso a nenhum tipo de política pública e agora os problemas só tendem a se agravar”, pontua Hohm.

Segundo ele, essa atuação do Estado – ou a falta dela – não é novidade. Primeiro, se levanta a demanda para depois retirá-la de discussão. “Então se faz todo um ‘auê’ agora que, com a chegada de Belo Monte, o Estado é colocado em xeque em relação aos impactos sociais e ambientais”, critica.

Os desafios da montagem de Belo Monte começam já com a suntuosidade da construção da usina. Com orçamento total previsto em R$ 26 bilhões, as obras podem chegar a 22 mil funcionários em 2013 e, como já se é estimado, aumentar a população das cidades, podendo, inclusive, dobrá-la em alguns casos.

Paulo Cabral acredita que as políticas iniciadas agora na operação e que, posteriormente, deverão ser levadas adiante pelos estados e municípios suprirão as demandas de saúde, trabalho e alimentação da população. “As pessoas que irão trabalhar na usina e também aquelas que serão atraídas pela obra aumentarão a demanda por políticas públicas. E é a soma desses esforços que resolverá essas problemas”, defende.

O coordenador do MAB conta que a situação das cidades que cortam o Rio Xingu, onde a usina será construída, está sob tensão já há alguns meses. Ele afirma que a região de Altamira já está vivendo o caos. “São mais de 20 mil pessoas que já chegaram ao município por todas essas promessas de geração de emprego e renda. E, provavelmente, nada disso acabará acontecendo”, afirma Rogério Hohm.

Para a diretora da ONG Xingu Vivo Para Sempre, Antonia Melo, essas medidas são apenas ações paliativas e insuficientes para diminuir a violação dos direitos humanos que uma obra como a de Belo Monte faz.

“As pessoas precisam de postos de saúde com médico para atendê-las. Precisam de escolas com educação de qualidade. Precisam de incentivos para a agricultura familiar. São ações deste tipo que elas precisam”, afima Melo.

Leia também

Últimas notícias