Moradora de São Paulo aposta na reciclagem até na decoração da casa

Com objetos doados e trocados, paulistana mostra na prática ativismo pelo meio ambiente e consumo consciente

Troca de roupas, sapatos e objetos recicla a vida, acredita Clarissa (Foto: Maurício Morais)

São Paulo –  Eva é quem dá as boas-vindas na casa da jornalista Clarissa Beretz. O manequim sem punhos revela o traço de bom humor e de ativismo da moradora. Reciclar, reutilizar e compartilhar é o lema da dona da casa. Apesar do semblante sempre sério, Eva tem atitude: usa óculos escuros, gorro, cachecol e echarpe. No que depender de Clarissa, Eva vai fazer escola na moda de reciclar.

Ao lado da bicicleta, meio de transporte da jornalista, e muitos livros, o manequim disputa o hall de entrada do apartamento em Santa Cecília, região central da capital paulista, com várias sacolas de materiais recicláveis que a jornalista reúne para encaminhar à coleta seletiva. Além de uma cadeira de madeira antiga, um pufe aveludado que restou do conjunto de estofados de um amigo e uma poltrona de revestimento de couro.

“A política da minha vida é reutilizar, reciclar e trocar”, afirma.

Em todo o apartamento, móveis, decorações, utensílios e roupas vieram da casa de amigos e parentes ou foram encontrados por Clarissa no lixo ou no depósito do prédio. Tudo recolhido sem culpa. “Não tenho medo de parecer pobre. A gente tem de pensar no meio ambiente, parar de sair comprando e passar a trocar.”

Nas paredes da sala, do apartamento antigo e amplo, Carmen Miranda, em preto e branco, foi premiada com uma echarpe laranja de plumas e uma moldura, oriunda do lixo, larga, dourada, de uns 30 anos atrás e com ar de nobre. Fotos do avô quando jovem, da Virgem Maria e de Frida Kahlo são vizinhos na mesma parede, entre quadros, painéis e pôsteres.

A mistura de estilos, cores, materiais e origens se estende por toda a sala. O sofá foi presente de uma amiga. A mesa do notebook moderno e a pequena estante da “TV dinossaura” – também presente de amigos – foram resgatados no porão do prédio. Um dos pufes veio de amigos que não quiseram mais o item quando mudaram de casa.

Eva, a recepcionista

O armário antigo, da casa da avó, ia ser jogado, junto com a cama de casal e o guarda-roupa – que Clarissa deixou sem portas, para caber no quarto – quando foi resgatado por ela. “Isso é peroba maciça, valem muito e duram décadas”, avalia. “São chiques e tem um enorme valor sentimental, muito melhor que esses compensados que vendem nas lojas populares e logo viram lixo”.

A cama de sua infância também fica na sala. A casa tem cadeiras de madeira, de todos os tipos, vindas de diversos lugares. E “viva a diversidade”. Uma, em especial, é criação própria. Ela aproveitou adesivos, que não podem ser reciclados, para criar uma cadeira com ar moderno e exclusivo.

Do teto, pendem o lustre, um globo espelhado de danceteria envolto por parte da luminária que foi da casa da avó. “Virou um planetinha”, compara. No quadro verde a giz, encontrado no lixo, Clarissa deixa seu preceito diário: “gentileza gera gentileza”.

Feira de trocas

Sala recicladaClarissa não se limita a trocar ou doar roupas a amigas. Ela promove feiras de trocas entre amigos. “Acho muito solitário ficar sozinho comprando coisas”, argumenta Clarrissa. De encontros desse tipo, ela comprou por R$ 10 o sapato com o qual foi ao casamento do irmão. “Acaba sendo um encontro de amigos, surgem business, encontros e… trocas de roupas”, define. “Coisas que para mim não têm utilidade agora para minha amiga são muito úteis. Você sente que gira a energia, que renova. A gente sente a alegria da outra pessoa.”

Por meio da rede social Facebook, a jornalista encontrou uma amiga disposta a emprestar uma luva de boxe para seu novo hobby. Ainda sem saber se iria gostar do esporte, evitou a compra para experimentar a prática.

O sapato de dança flamenca, que havia perdido, também surgiu rápido depois de perguntar a amigos na rede. “É muito rico trocar. Quem nunca fez acaba adorando”, indica. “Eu aprendi que se pode viver com menos. Que a gente não precisa da metade de tudo o que dizem que a gente precisa”, conta.

No dia a dia, a correria não impede que Clarissa aproveite a água de lavar verduras para regar as plantas e a água da máquina de lavar roupas para a limpeza do banheiro.

Ela também recusa canudos “porque é um lixo perigosíssimo para os mares”, exclama. Na bolsa, a canequinha é companhia constante para evitar o uso de copos plásticos.  Aos fumantes, a jornalista sugere uma bituqueira. “Quase todo fumante arremessa pelos ares sua bituca, como se não fosse lixo.”

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