Maior inimiga da Comissão da Verdade é a pressa, diz Ivo Herzog

Filho de Vladimir Herzog, jornalista assassinado durante a ditadura, pede participação da sociedade

São Paulo – Após a declaração da ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, afirmando que a Comissão Nacional da Verdade deve ser aprovada ainda no primeiro semestre, o tema ganhou força entre aqueles que viveram e combateram o regime ditatorial. No evento que marcou o lançamento, na segunda-feira (27), de uma coleção de DVDs contendo depoimentos de jornalistas que se opunham à ditadura, a palavra de ordem foi cautela para não se atropelar etapas importantes do processo.

Um dos idealizadores da coletânea com os relatos dos profissionais da imprensa, Ivo Herzog, recomendou prudência no processo da instalação da Comissão. “A Comissão da Verdade é um processo democrático, com começo, meio e fim”, defendeu o ativista, que é filho do jornalista Vladimir Herzog, o Vlado, assassinado por agentes da repressão em 1975.

A Comissão de Verdade teria a tarefa de investigar violações de direitos humanos cometidos durante a ditadura militar no país (1964-1985), incluindo crimes cometidos por agentes da repressão. O organismo buscaria reestabelecer a verdade histórica sobre episódios do período.

“Se nós fizermos as coisas às pressas, ela pode sair mal feita, então é melhor que seja feito algo que envolva a sociedade civil, para que dessa forma ela não seja apenas algo criado para não se levar a nada”, explicou Ivo.

O ex-ministro dos Direitos Humanos no governo Lula, Paulo Vanucchi, acredita ser possível uma aprovação nos próximos meses do projeto que cria a Comissão da Verdade. Para ele, deixar um tema tão importante para ser votado em ano eleitoral – como o de 2012 – não seria a melhor alternativa.

“A posição da Maria do Rosário representa a posição da presidenta Dilma (Rousseff). A ideia era justamente essa, sabemos que no ano eleitoral a disputa político-partidária se acirra e a tendência da vida parlamentar é ficar travada. Portanto é bom aproveitar os primeiros meses de governo. Há chances reais, concretas e palpáveis para dentro de alguns meses o projeto de lei virar lei”, observou Vanucchi.

No dia 15 de julho, deputados federais e senadores entraram em recesso parlamentar. Para se votar o texto ainda no primeiro semestre, o projeto teria de passar em plenário das duas casas em, no máximo, 17 dias.

Também ministro no governo Lula, Franklin Martins (da Secretaria de Comunicação Social), considera provável a aprovação do projeto ainda em 2011. “Seguramente neste ano será aprovado o projeto que cria a Comissão da Verdade”, apostou.

A convicção decorre de não haver, em sua visão, obstáculos para a criação do organismo. “Não acho que o governo enfrentará grande dificuldades para aprovação do projeto, pelo que sei há um acordo político bastante amplo, inclusive com partidos de oposição no sentido de aprovar a Comissão da Verdade”, assegurou Martins.

O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (ex-DEM, rumo ao PSD), também prestigiou o evento e, depois de ser recebido com vaias pelos participantes, afirmou que o governo “vai proporcionar a consolidação de um debate para mostrar a importância da implantação de algo que é fundamental para que se consolide a democracia em qualquer país”. De acordo com Kassab, o PSD, legenda que articula desde o início do ano, “sempre apoiará a verdade”.

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