Para catadores, trabalho de coleta seletiva garantiu dignidade no governo Lula

Lula assiste à apresentações culturais de catadores; presidente emocionou-se repetidas vezes durante as falas de lideranças do movimento (Foto: Ricardo Stuckert/PR) São Paulo – Cerca de duas mil pessoas esperaram, […]

Lula assiste à apresentações culturais de catadores; presidente emocionou-se repetidas vezes durante as falas de lideranças do movimento (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

São Paulo – Cerca de duas mil pessoas esperaram, por horas, a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na quinta-feira (23), último dia da Expocatadores na capital paulista. A maior parte deles tinha a mesma expectativa. Baianos, mineiros, paranaenses e catadores de outros estados dividiam o espaço com trabalhadores de outras nacionalidade, como peruanos e equatorianos. O evento teve caráter internacional.

Adalvina Ribeiro, de 62 anos, é catadora de materiais recicláveis em Maringá (PR). Há três décadas ela trabalha dessa forma e mostrava com orgullho a foto que estampava a capa de um jornal local, em que ela abraçava o presidente Lula em uma visita à cidade, há cinco anos.

Ela revela que, hoje, sua atividade pode ser vista como uma profissão de verdade. “Eu sou catadora e vou continuar com muito orgulho”, explica. Dona Adalvina sabe que seu cotidiano pode melhorar, e parte dessas mudanças não envolve decisões políticas.

“O catador é importante, só que precisamos que as pessoas se conscientizem. Todo mundo tem de nos ajudar a separar o lixo”, avisa. “Mas eu gosto de lixo limpinho”, pede a paranaense, com um sorriso no rosto.

Legislação

O mestre de cerimônia do evento, paramentado de modo peculiar, incentivava o coro: “Não, não, não à incineração”. A queima de resíduos é considerada uma das maiores vilãs pelos catadores, que consideram que a solução pode representar vantagens para prefeituras e problemas para eles. Pressionadas pelo poder econômico, as administrações poderiam colocar em risco a profissão relacionada à separação de materiais recicláveis.

Entusiasmado com o protesto contra os incineradores, Ubiratan Santa Bárbara, líder da Cooperativa de Agentes Ecológicos de Canabrava (Caec), de Salvador (BA), analisa que há alternativas. Para ele, a Lei de Resíduos Sólidos assinada por Lula facilitará o trabalho diário da categoria.

A legislação recém modificada responsabiliza empresas pela chamada “logística reversa”,  que é o recolhimento de produtos descartáveis pelos fabricantes. A medida favorece a integração de municípios na gestão dos resíduos e responsabiliza mais setores da sociedade pelo lixo gerado.

Ubiratan pede às prefeituras que vejam os catadores com “bons olhos” e passem a apoiar as cooperativas e a coleta seletiva. “Eles têm de ver que não será um favor para nós, catadores, mas sim para a sociedade e para o meio ambiente”, ensina. E avisa: “É com a iniciativa de vocês (prefeitos) que isso chegará aos cidadãos catadores”.

Referência

A experiência brasileira despertou o interesse de outros países. A catadora Luana Guanaluiza, uma das líderes da associação de catadores da cidade de Quito, no Equador, conta que veio até o Brasil para saber como o governo brasileiro conseguiu fazer com que o trabalho dos catadores pudesse ser reconhecido.

“No Equador não somos reconhecidos por ninguém, nem pelo governo”, lamenta. “Lula é o primeiro presidente do mundo que oferece pelo menos um dia de sua agenda para os catadores”, reconhece.

De fala humilde, mas convicta, Matilde Ramos, da liderança do Movimento Nacional Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) em nome de todos os catadores fez um balanço do governo Lula, e , por muitas vezes, o deixou acanhado.

Sempre com o olhar direcionado a Lula, nem Matilde nem o presidente escondiam a emoção. Ao agradecer a presença e o compromisso de ter aderido à luta dos catadores, Matilde olhando para o presidente e lhe indagou firmemente: “Graças a você conseguimos sair de uma vida desumana. O senhor tem dimensão do que fez pela gente?. Ele reage com com um abraço.