Itamaraty cria canal direto com brasileiros que vivem fora do país

Rio de Janeiro – O governo fala em três milhões, mas estimativas extraoficiais dão conta de que pouco mais de quatro milhões de brasileiros vivem atualmente no exterior. Praticamente ignorada […]

Rio de Janeiro – O governo fala em três milhões, mas estimativas extraoficiais dão conta de que pouco mais de quatro milhões de brasileiros vivem atualmente no exterior. Praticamente ignorada pelo poder público até 2003, essa parcela considerável da sociedade brasileira foi uma das mais atingidas pelas mudanças políticas e econômicas iniciadas no país nos últimos oito anos. Os benefícios puderam ser percebidos em setores como assistência social e previdenciária, legalização de documentos e condições de trabalho e atendimento consular, entre outros.

Além da melhoria dos serviços oferecidos pelo governo brasileiro aos seus compatriotas que vivem no exterior, os emigrantes conseguiram finalmente articular um canal institucional de representação junto ao Ministério das Relações Exteriores (MRE). Foi um longo processo político, que passou pela realização desde 2008 das três conferências Brasileiros no Mundo e culminou com a eleição este ano do Conselho de Representantes de Brasileiros no Exterior (CRBE), que agora passa a ser o órgão institucional de intercâmbio entre o governo brasileiro e os emigrantes.

Representando todas as regiões do planeta, os 32 conselheiros eleitos do CRBE foram empossados durante a terceira edição da conferência, na semana passada no Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro. Durante o evento, foi entregue ao MRE um documento, chamado Ata Consolidada, com todas as reivindicações, divididas por temas e regiões, dos brasileiros que moram fora do país.

Representante do Conselho de Brasileiros na Suíça, Ocirema Kukleta também ressaltou aquilo que considera uma mudança histórica: “O Itamaraty começou a enxergar que existem brasileiros fora. Nunca considerou o público que está fora, mas agora está considerando. Essa mudança de comportamento, mesmo não acontecendo sempre nem por parte de todos, está em andamento. Existe uma marcha de todas as pessoas engajadas para que aconteça essa mudança política. No primeiro encontro europeu que nós tivemos _ com 77 pessoas de onze países _ o MRE sequer compareceu. Hoje, estamos aqui com o presidente, com ministros, com o governador e o prefeito do Rio. Vejo que esse peso político é uma grande conquista”.

De fato, não faltaram autoridades na Conferência. Além de Lula e Amorim, também circularam pelo Palácio do Itamaraty o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e o prefeito da capital, Eduardo Paes, assim como os ministros Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência), Franklin Martins (Secom), Juca Ferreira (Cultura), Carlos Lupi (Trabalho), Carlos Gabas (Previdência Social), Márcia Lopes (Desenvolvimento Social) e Márcio Fortes (Cidades).

Lula

Também presente à 3ª Conferência Brasileiros no Mundo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestou contas aos imigrantes: “Em 2002 eu fiz uma carta aos brasileiros que moravam no exterior e, agora no fim do governo, posso dizer que nós cumprimos tudo o que estava naquela carta. Mas, eu não me iludo. À medida que vocês forem conquistando tudo, ao invés de dizerem ‘obrigado’ vão apresentar uma pauta mais dura ainda. A vida é assim, e é assim mesmo que tem que ser. O governo não pode ficar de cara feia se vocês apresentarem uma outra pauta. Assim caminham a democracia e as conquistas da humanidade”, disse.

Lula disse aos emigrantes que espera para breve a volta de muitos brasileiros que vivem no exterior: “O Brasil oferece hoje mais oportunidades do que alguns países que consideramos ricos e de primeiro mundo, e certamente haverá espaço nas mais diferentes áreas para que os brasileiros possam voltar. No mundo da pesquisa e da ciência, já tem muita gente voltando para o Brasil. Só ficará lá fora o brasileiro que quiser ficar lá fora. Se a economia brasileira continuar a crescer no ritmo que está crescendo, eu penso que não faltará lugar para que os milhões de brasileiros que estejam fora possam começar a regressar para o nosso país”.

O presidente arrancou aplausos dos presentes ao falar em “mudança de comportamento” do governo em relação aos emigrantes: “Esse país merece tratar os nossos compatriotas que moram no exterior de forma mais humana e civilizada. (Não fazer isso) era uma visão. Eu cheguei a encontrar embaixadores em alguns países que tratavam o brasileiro indocumentado como se fosse um marginal. Ora, ele poderia até ser considerado um marginal pelo país onde reside, mas não pelo nosso embaixador! A nossa embaixada é o único refúgio que ele deveria ter! Nós promovemos uma mudança de comportamento, uma mudança política, uma mudança cultural”, disse.

Entre os avanços citados, estão acordos previdenciários e de assistência social com países como o Japão, Estados Unidos e Canadá, além de outros, da Organização dos Estados Americanos (OEA).

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