Equipe de buscas em Vila Formosa prevê retirada de primeiras ossadas ainda nesta 3ª

Sacos plásticos sem numeração devem ser retirados nesta terça (Foto: Maurício Morais) São Paulo – As equipes de busca por corpos de desaparecidos e mortos pela ditadura militar no cemitério […]

Sacos plásticos sem numeração devem ser retirados nesta terça (Foto: Maurício Morais)

São Paulo – As equipes de busca por corpos de desaparecidos e mortos pela ditadura militar no cemitério de Vila Formosa, na zona leste de São Paulo, planejam retirar as primeiras ossadas ainda nesta terça-feira (30). O segundo dia de trabalho no local já alcançou 1,4 metro de profundidade em uma área de nove metros quadrados e já puderam ser observados sacos plástico sem numeração contendo ossos. É cedo, porém, para afirmar se o material corresponde a restos mortais de vítimas do regime autoritário.

“Por enquanto, tudo o que foi retirado é material de entulho de obras no local, realizadas em 2002”, diz Jeferson Evangelista Correa, chefe da área de Serviço Forense da Polícia Federal. O ano mencionado pelo encarregado foi o de reformas no local, onde havia um cruzeiro desde 1995. Há oito anos, o monumento foi substituído por uma praça.

Em meio aos detritos, havia pedaços de tecido e de ossos dispersos, provavelmente fruto da transferência de solo para as obras. Os sacos plásticos percebidos devem ser retirados ainda na tarde desta terça, segundo o planejamento da equipe.

A primeira frente de buscas tenta localizar ossadas sob uma laje de três metros de largura por três de comprimento. Sabe-se que há ossadas, mas apenas exames de DNA podem determinar se pertenciam ou não a pessoas mortas pela ditadura militar, já que o cemitério foi empregado por anos também para o enterro de corpos de indigentes.

Na segunda-feira (29), além dessa frente, foi localizado o início da quadra 47, considerada a segunda frente de buscas. No local, foi enterrado Virgílio Gomes da Silva, o comandante Jonas da Aliança Nacional Libertadora (ANL). Ele foi morto em 1969 e, segundo documentos obtidos por familiares, um nome falso foi usado para o sepultamento.

Diferentes áreas do cemitério foram descaracterizadas a partir dos anos 1970 por seguidas reformas, com mudanças na localização de jazigos e de quadras. Segundo ativistas de direitos humanos, a medida foi adotada por agentes do regime autoritário com o objetivo de dificultar a localização.

O cemitério de Vila Formosa foi usado por agentes da ditadura como local de ocultamento de corpos de mortos em sessões de tortura. O local deixou de ser usado após a construção do cemitério de Perus, na zona norte da capital, onde foram identificadas ossadas apenas em 1991.

Além da Polícia Federal, também integram a equipe de buscas em Vila Formosa o Ministério Público Federal, o Instituto Médico Legal e a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. As buscas prosseguem durante a tarde.

Redação: Anselmo Massad