Busca por corpos de desaparecidos da ditadura começa na zona leste de SP

Ainda que sejam encontrados, identificação depende das condições do material genético, diz promotora

Cemitério passou por descaracterização na década de 1970, o que dificulta localização de ossadas (Foto: Maurício Morais)

São Paulo – Na manhã desta segunda-feira (29), foram iniciadas as primeiras buscas oficiais por desaparecidos políticos da ditadura militar enterrados no cemitério de Vila Formosa, na zona leste da capital paulista. O trabalho conta com a participação do Ministério Público Federal, da Polícia Federal, do Instito Médico Legal e da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. As escavações eram cobradas há anos por ativistas de direitos humanos e por familiares dos desaparecidos.

A expectativa do procurador da República Marlon Weichert é que os trabalhos avancem em duas frentes. A primeira fase das escavações deve ir até esta sexta-feira (3). O trabalho iniciado nesta manhã, tem agentes da Polícia Federal e funcionários do cemitério.
As escavações tentam acessar um objeto que pode ser uma câmara com ossadas. Em outubro, um equipamento especial que usa uma tecnologia de sonar, detectou a existência de uma estrutura de três metros de largura por três metros de comprimento. Não há informações sobre a profundidade.

A outra frente, que pode começar também nesta semana, é a tentativa de localizar o corpo de Virgílio Gomes da Silva, conhecido como Comandante Jonas, da Aliança Libertadora Nacional (ALN). Em 1968, ele participou do sequestro do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Elbrick. No ano seguinte, foi preso, torturado e morto por agentes do regime autoritário.

A eventual localização de ossadas não assegura a identificação. Isso depende do estado dos corpos e do acondicionamento em que se encontrarem. Se for grande a quantidade e se não estiverem envoltas por sacos plásticos, por exemplo, reduz-se a possibilidade de que o material genético tenha sido preservado.

“Por mais que seja ifícil o trabalho, é um avanço”, avalia a procuradora da república em São Paulo, Eugênia Gonzaga. “Ainda que não seja possível identificar nenhuma ossada sequer, será possível cobrar as autoridades para que criem um memorial no cemitério para que fique registrado que este é o local onde estão repousando essas pessoas”, reitera.

Cemitério alterado

O cemitério de Vila Formosa passou por grandes transformações a partir dos anos 1970. Agentes do regime militar empenharam-se para descaracterizar o local com mudanças na numeração de quadras, nas vias e no local de jazigos. Antigos funcionários confirmaram à Rede Brasil Atual, em junho deste ano, que havia grande movimentação na época da ditadura. Alguns confirmaram que caminhões com corpos apresentados como indigentes eram encaminhados do local.

Arte: Julia Lima; Fotos: Arquivo

 Redação: Anselmo Massad

Leia também

Últimas notícias