Ceia sustentável deve pensar no planeta, sem esquecer o paladar, recomendam especialistas

Orgânicos, frutas, verduras e doces caseiros são as sugestões para um Natal sustentável. Rede Brasil Atual apresenta dicas para uma ceia com baixa emissão de carbono

Frutas e orgânicos devem ser privilegiados na ceia sustentável (Foto: Dhiego Andrade/Sxc.hu)

A alguns dias do Natal, as famílias organizam-se para a ceia. Mas, em tempos de aquecimento global e da necessidade de cortar gases que contribuem para o efeito-estufa, como o gás carbônico, a Rede Brasil Atual buscou especialistas para sugerir uma ceia de Natal sustentável e livre de gases-estufa, responsáveis pelo aumento da temperatura do planeta.

Os especialistas em sustentabilidade consultados pela reportagem afirmam que é preciso emitir o mínimo possível de gases-estufa no dia a dia, mas sem desprezar bem-estar e conforto. “Se não as pessoas não vão mudar de hábitos”, afirmou Dal Marcondes, da Envolverde.

De acordo com Fabio Interaminense, do Grupo Eco Negócios Sustentáveis, é preciso ter consciência do impacto do consumo. “Toda compra deve equacionar a questão econômica, com benefícios sociais e impactos ambientais”, aponta. Entretanto, fica a ressalva: “temos de ter consciência do impacto de nossas compras, mas sem nos transformarmos em ecochatos ou biodesagradáveis”.

Pensando numa ceia com pequena emissão de gases-estufa, Marcondes sugere uma refeição com muita fruta e pratos baseados em legumes e verduras. Com um cuidado especial: tudo nacional e bem próximo da origem. “Não é sustentável trazer produtos importados da Europa para cá de avião. Castanhas portuguesas, por exemplo”, ensina.

O problema dos produtos importados não são os itens, mas o transporte. O deslocamento aéreo é um dos maiores emissores de carbono, ou seja, produtos importados devem ser evitados em um Natal sustentável.

Marcondes sugere pratos como saladas, maioneses e cereais. Todos elaborados a partir de produtos locais. Mas alerta: “também não vamos fazer uma ceia que pareça o prato do monge tibetano”. O peru, item tradicional, por exemplo, pode ser mantido sem culpa.

Já as carnes vermelhas oriundas do gado devem ser evitadas porque podem ser de áreas de desmatamento na Amazônia. A ruminação do boi produz gás metano que também contribui para o efeito-estufa. “A menos que a carne tenha certificado de origem, há 40% de chance que venha da Amazônia e contribua para o desmatamento”, explica Marcondes. Os suínos também têm impacto ambiental devido à produção de carbono.

saladas

Massas estão liberadas. Frangos, por outro lado, devem ser consumidos com cuidado porque têm muito hormônio. “Franguinho fresquinho caipira é o ideal”. Farofa, doces preparados em casa ou de confeitaria, desde que sejam frescos, são indicados. Bolos e tortas assados estão liberados.

As frituras não são problema, mas o óleo não deve ser jogado na pia. O ideal é encaminhar a sobra para a reciclagem.

Além das frutas importadas, é bom evitar produtos industrializados, porque liberam grande quantidade de carbono no processo produtivo. Nesse aspecto, Marcondes sugere trocar os refrigerantes por sucos. “É um processo industrial com muito uso de carbono”, avalia.

Ele recomenda inclusive vinhos orgânicos. Entretanto, o melhor é dar preferência para bebidas produzidas, no máximo, na América do Sul. “Trazer vinho da França para cá exige muito carbono”. Como alternativa, Marcondes propõe vinhos argentinos e chilenos que substituiriam, tranquilamente, os vinhos franceses, além de fazerem uma viagem bem menor.

sucos

Cerveja não está vetada. As sugestões de atitudes e consumo sustentáveis “não devem perder de vista que qualidade de vida também é ter acesso a algumas coisas que dão prazer”, pondera. Além disso, a cervejinha não tem substituta e, por isso, pode ser apreciada sem remorso, avalia.

Orgânicos e certificação

De acordo com Fabio Interaminense, da Eco Negócios Sustentáveis, para uma ceia com mínima produção de carbono é interessante priorizar produtos orgânicos, mesmo que não se tenha todas as opções. Inclusive é importante verificar se o produto é certificado. “O Instituto Biodinâmico (IBD) certifica que o produto não usou agrotóxico e consequentemente não poluiu o solo, nem a água. Certifica que os trabalhadores tiveram seus direitos garantidos, sem trabalho escravo ou infantil envolvido”, afirma. Ele sustenta que há critérios sociais e ambientais importantes avaliados por um selo de certificação orgânica.

Depois dos orgânicos, é importante optar por produtos com embalagens de papel certificado pela FSC (Conselho Brasileiro de Manejo Sustentável). O selo garante que a madeira usada pra produzir o papel é legal, não houve trabalho infantil, todos os impostos foram pagos. “É uma forma de amenizar o impacto ambiental dos produtos em relação à embalagem”, cita. “O ideal seria um produto orgânico numa embalagem certificada pela FSC”, indica Interaminense.

Decoração

decoração

Como lembra Marcondes, o planeta agradece quem evitar luzinhas na árvore de Natal. “Elas gastam energia à toa”. Materiais reciclados na árvore, como bolas e enfeites, são bem-vindos e darão um belo visual, atesta.

Depois da festa

Para facilitar a limpeza dos ambientes, a sugestão é desde o início da ceia (ou festa) separar recipientes para cada tipo de lixo e depois enviar tudo para reciclagem.

Na limpeza das louças, Marcondes lembra que há sabão produzido com óleo de fritura reciclado, mas o melhor é utilizar pouco, seja sabão ou detergente. “É bom reaprender a usar, porque a gente usa muito. Acha que tem de ter espuma e não é necessário”. Ele dá a dica: “Bebeu um copo d’água, não precisa pôr detergente para lavar. Precisa só passar uma esponjinha. Coisas que não têm gordura não precisam de detergente”. Também pode-se usar vinagre no lugar de detergente.

Os descartáveis em geral devem ser evitados e trocados por materiais de vidro para evitar geração de resíduos.

Consumidor consciente

Para Interaminense, o cuidado com o planeta passa principalmente por um novo tipo de consumidor. “Consumidor consciente é aquele que evita consumir por impulso e antes de comprar o produto faz três perguntas: o que é, quem fez e como fez”, classifica.

Segundo ele, é preciso considerar o cumprimento de legislações trabalhistas, ler atentamente embalagens, buscar onde foi fabricado para evitar consumir produtos geradores de desmatamento, verificar a responsabilidade social, se utiliza embalagem certificada, entre outras questões a serem levadas em conta para um planeta sadio e pessoas saudáveis.