Região do ABC paulista pode ficar sem água potável em 2015

Lançamento de esgotos, desmatamentos e assoreamentos são principais ameaças, indica Agência Nacional de Águas

São Paulo – A falta de políticas de preservação ambiental coloca a região do ABCD de São Paulo (que compreende as cidades de Santo André, São Bernardo, São Caetano e Diadema) sob sério risco de ter de procurar novos mananciais para abastecimento público de água já a partir de 2015, uma vez que o braço Rio Grande, da represa Billings, será insuficiente para suprir a demanda de abastecimento. O estudo consta do levantamento realizado pela Ana (Agência Nacional de Água), divulgado na segunda-feira (4).

De acordo com o último relatório de Impactos Ambientais da Billings, publicado pelo Proam (Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental), o manancial do ABCD já perdeu 22% da capacidade de armazenamento original, o que equivale a 286 milhões de metros cúbicos. O principal problema está nos frequentes assoreamentos do espelho d’água, de nascentes e rios que abastecem o manancial, somados aos desmatamentos e lançamentos de esgoto in natura na represa. 

Para o advogado ambientalista Virgilio Alcides de Farias, a situação reflete o crescimento populacional e industrial, que requer a utilização cada vez maior de água, e o descaso político com o meio ambiente. “Ainda não olhamos para o futuro. Ao invés de recuperar, percebemos que os assoreamentos na Billings são frequentes. Temos de frear isso”, avaliou. Como resultado, o ABCD terá de procurar alternativas de abastecimento. “Provavelmente teremos de buscar água no Vale do Ribeira”, ressaltou.

Assoreamento

O exemplo mais recente de maus tratos às reservas de água na região está no manancial da represa. Após a passagem das obras do trecho Sul do Rodoanel e da Gasan 2 – gasoduto da Petrobras que cruza Santo André, São Bernardo, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra –, que resultaram em assoreamentos de nascentes, várzeas e do próprio espelho d’água da Billings, o último dano ambiental à represa foi constatado em uma várzea do rio Grande, um dos afluentes responsáveis pelo abastecimento da Billings. 

No local, a Preserva Engenharia realiza obra de ampliação e recuperação estrutural de uma ponte. A Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) garante que a empresa não possui autorização para a intervenção e, por isso, realizará nos próximos dias uma vistoria no local. A prefeitura da cidade de Rio Grande da Serra, onde está a ponte, garante que obteve permissão para os trabalhos. 

“A obra agride o meio ambiente, mas é preciso fazer”, destacou um funcionário da construtora à reportagem. Para o ambientalista José Soares da Silva, a obra está “aterrando a várzea de inundação do rio que na época de cheias se espraia justamente onde está sendo assoreado. A cidade que deveria ter mais cuidado com a água, por estar em área de proteção, é a que mais contamina”, desabafou.