Monsanto admite falha de herbicida Roundup

À base de glifosato, o agrotóxico vendido como infalível contra qualquer planta não adaptada geneticamente já não tem o efeito prometido sobre 130 espécies de ervas daninhas

São Paulo – A Monsanto promete reestruturar seus produtos, especialmente herbicidas, para tentar conter a disseminação de ervas daninhas resistentes a agrotóxicos. São 130 variedades de “super ervas daninhas”, cuja origem é atribuída à empresa por críticos.

“Precisamos assumir a dianteira disso (combate à super ervas daninhas)”, admitiu o presidente da Monsanto, Hugh Grant, em uma teleconferência com analistas. As variedades de pragas resistentes ao Roundup, baseado no glifosato, já são um problema para algumas culturas, como a de algodão.

Produtores de soja começam a preocupar a gigante do setor de sementes geneticamente modificadas e de fertilizantes. Para o milho, a empresa garante que não há problemas. A Monsanto é a fornecedora do popular herbicida Roundup.

Boa parte das sementes transgênicas foi desenvolvida sob a alcunha de “Roundup-ready” (prontas para o herbicida Roundup). Essas variedades eram as únicas que resistiam à aplicação do agrotóxico. Mesmo pragas não daninhas, como variedades não geneticamente modificadas para isso, são mortas pelo insumo – incluindo gêneros alimentícios.

Com o desenvolvimento dessas sementes, o uso de herbicidas foi acelerado. Especialistas estimam que as ervas daninhas resistentes ao glifosato já tenham infestado 11 milhões de acres até agora (equivalente a 4,5 milhões de campos de futebol). Mais de 130 tipos de ervas daninhas desenvolveram algum nível de resistência a herbicidas em mais de 40 estados norte-americanos, mais do que em qualquer outro país, de acordo com cientistas.

“É muito ruim que tenha levado esse tempo todo para a Monsanto falar seriamente sobre esse problema”, disse Charles Benbrook, cientista do Organic Center e ex-diretor-executivo do conselho de agricultura da Academia Nacional de Ciências, à agência Reuters.

Grant disse que a Monsanto vai criar uma nova oferta de produto que combinará o Roundup com produtos químicos complementares para um novo regime de controle de ervas daninhas a um custo menor do que o que os produtores pagam hoje.

Segundo a empresa, um produtor de algodão do sul dos Estados Unidos gasta de US$ 40 a US$ 60 por acre em medidas de controle, contra US$ 20 a US$ 25 dólares de alguns anos atrás. À parte, precisa pagar cada vez mais caro pelos royalties da Monsanto ou de alguma das outras cinco empresas que praticamente controlam o mercado mundial de sementes.

O Brasil, que tem liberado cada vez mais rapidamente novas variedades de transgênicos, tornou-se em 2009 líder mundial no uso de agrotóxicos. São 713 milhões de litros por ano que, indiretamente, chegam à mesa do consumidor. Um dos principais argumentos dos organismos geneticamente modificados (OGMs), os transgênicos, era o de que seria possível utilizar menos agrotóxicos, resultando em custos mais baixos para os produtores e em produtos mais saudáveis para a população em geral.

Com informações da Reuters