Aumenta incidência de diabete no interior de São Paulo

Uma pesquisa da Universidade Federal de São Carlos revela que a doença já atinge 13,5% dos habitantes da cidade. A expansão, comparada com dados anteriores, reflete a tendência mundial de crescimento do distúrbio

Porções de frutas e saladas, por exemplo, são essenciais para manter a saúde em dia

São Paulo – Um estudo da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), localizada no Interior de São Paulo, mostra que a incidência do diabetes mellitus (DM) e da tolerância à glicose diminuída (TGD) aumentou entre a população de 30 a 79 anos daquela cidade. Segundo os dados encontrados pelos pesquisadores, 13,5% da população nessa faixa etária têm DM e 5% apresentam TGD. Pesquisas anteriores, realizadas no final da década de 1980, indicavam que a prevalência de DM no país era de 7,6%. Outra, feita em 2003, na região de Ribeirão Preto, SP, mostrava prevalência de 12%. “Os resultados que encontramos indicam franco crescimento dos casos do diabete”, comentou Ângela Merice de Oliveira Leal, professora do departamento de medicina da UFSCar que orientou a pesquisa.

Tipos de diabete
Tipo 1 (DM1) – é uma doença auto-imune, caracterizada pela destruição, pelo próprio organismo, das células beta produtoras de insulina, localizadas no pâncreas. A insulina é um hormônio que “abre as portas” das células de todo o organismo para a entrada do açúcar (glicose), que irá alimentá-las. Quando o organismo deixa de produzir este hormônio – ou o produz em quantidade insuficiente – a pessoa precisa tomar insulina sintética, por meio de injeção. Embora seja mais comum em pessoas com menos de 35 anos, nada impede que ela apareça em qualquer idade.

Sintomas – Pessoas com níveis altos ou mal controlados de glicose no sangue podem apresentar:

  • Vontade de urinar diversas vezes;
  • Fome freqüente
  • Sede constante
  • Perda de peso
  • Fraqueza
  •  Fadiga
  • Nervosismo
  • Mudanças de humor
  • Náusea
  • Vômito

Tipo 2 (DM 2) – Tem um fator hereditário maior do que o tipo 1. Além disso, há uma grande relação com a obesidade e o sedentarismo. Estima-se que 60% a 90% dos portadores da doença sejam obesos. A incidência é maior após os 40 anos, mas o aumento da obesidade a faz crescente entre pessoas mais jovens. Nesse tipo, o pâncreas continua produzindo insulina, porém, as células musculares e adiposas resistem à ação do hormônio e a glicose não entra para alimentá-las. Essa anomalia é chamada de resistência à insulina. O excesso de açúcar no sangue leva o pâncreas a trabalhar mais, na tentativa de produzir mais do hormônio. Com o tempo, exausto, o órgão já não trabalha a contento e a pessoa começa a depender de injeções de insulina. O diabetes tipo 2 é cerca de 8 a 10 vezes mais comum que o tipo 1 e pode responder ao tratamento com dieta e exercício físico. Outras vezes vai necessitar de medicamentos orais e, por fim, a combinação destes com a insulina.

Principais sintomas:

  • Aumento da sede
  • Aumento do número de micções (principalmente à noite)
  • Dores em membros inferiores
  • Infecções freqüentes
  • Alteração visual (visão embaçada)
  • Dificuldade na cicatrização de feridas
  • Formigamento nos pés
  • Furunculose

Fonte: Sociedade Brasileira de Diabetes

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde, mais de 220 milhões de pessoas em todo o mundo são diabéticas. Aproximadamente 80% delas estão em países em desenvolvimento. O distúrbio é caracterizado pelo aumento das taxas de glicose (açúcar) no sangue. Esse excesso leva a alterações nos vasos sanguíneos e nervos que, por sua vez, facilitam o aparecimento de diversas complicações, como infarto, derrame e neuropatias (veja destaque). A cada ano, 5% de todas as mortes no mundo são causadas pela DM.

Existem dois tipos principais da doença, o DM1 e DM2 (leia quadro). O primeiro é causado pela destruição, pelo próprio organismo, das células beta. Essas células, localizadas no pâncreas, são responsáveis pela produção de um hormônio chamado insulina. O segundo, que corresponde a 90% dos casos, está diretamente ligado à obesidade e ao sedentarismo. Além desses há ainda o diabete gestacional – caracterizado por alterações nas taxas de açúcar no sangue durante a gravidez, que pode persistir ou desaparecer após o parto – e formas indiretas, geralmente associadas ao aumento da função de glândulas endócrinas, como tireóide, supra-renal e hipófise, e a doenças do pâncreas e desnutrição.

Algumas pessoas, no entanto, estão num grupo intermediário: os com TGD (tolerância à glicose diminuída) ou pré-diabete. Embora seus níveis de açúcar no sangue não estejam altos o suficiente para enquadrá-las entre os diabéticos do tipo 2, estão bem acima da taxa de normalidade. A condição é assim definida quando, ao teste oral de tolerância à glicose (TOTG), o indivíduo apresenta glicemia final entre 140 e 199 mg/dl. Diversos estudos demonstram que, além do DM, a TGD também constitui um importante fator de risco para problemas cardiovasculares. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, as pessoas deste grupo têm ainda grande risco de se tornar diabético. No entanto, nem todos deixarão a condição de pré-diabético para se tornarem diabético. Mas, por precaução, são considerados em estado de risco para essa progressão.

Como o estudo foi feito

A pesquisa da Universidade Federal de São Carlos envolveu 1.116 pessoas de 30 a 79 anos de idade, todas habitantes da área urbana. Os dados foram colhidos por meio de visitas domiciliares no período de agosto de 2007 a junho de 2008, questionários para obtenção do perfil sociodemográfico, condições de saúde, informações sobre dieta, hábitos de atividade física, coleta de sangue para análise e medida da altura, da circunferência abdominal e do peso dos participantes.

Diabete em plena expansão
Segundo levantamentos, o número de diabéticos no mundo todo aumenta sem parar.
1985 – 30 milhões
1995 – 135 milhões
2005 – 240 milhões
2030 – a projeção é de haja 366 milhões de doentes

Fonte: Universidade de Edinburgh, Escócia, 2004

Dos 1.116 voluntários, 862 demonstraram tolerância normal à glicose, 185 apresentaram DM e 69 ficaram no grupo dos indivíduos com TGD. Os que não apresentaram níveis de glicose suficientes para serem diagnosticados como diabéticos, eram submetidos a um teste de tolerância à glicose, com maior sensibilidade. Segundo a orientadora, atualmente os pesquisadores estão finalizando um trabalho semelhante para detectar a prevalência de síndrome metabólica (SM) na mesma região. A SM é um problema de saúde complexo, crescente, que combina alta taxa de açúcar no sangue – com diabetes ou não –, pressão alta, aumento da circunferência da cintura e alterações nas taxas de colesterol. Todos esses fatores multiplicam – e muito – as chances de problemas cardiovasculares.

Embora sejam importantes para dimensionar a doença no país e orientar políticas púbicas de saúde, há poucos estudos que mostrem a incidência do diabetes na população. Isso porque sua execução exige uma metodologia específica e participação de grande número de indivíduos, com amostras selecionadas minuciosamente.

Fonte: Universidade de Edinburgh, Escócia, 2004

 

Veja o que o excesso de açúcar no sangue causa ao organismo

As consequências do DM, que aparecem com o tempo e se tornam crônicas, são causadas por alterações micro e macrovasculares que levam à disfunção, dano ou falência de vários órgãos, além de amputações de membros inferiores.

Nefropatia – no início, alterações nos vasos dos rins fazem com que eles percam a capacidade de filtrar adequadamente o sangue, deixando passar para a urina proteínas essenciais. Com o avançar da doença, o órgão pode parar de funcionar.

No DM1, a insuficiência renal progressiva ocorre em cerca de 50% dos pacientes. No tipo 2, ainda é menor, mas já se observa-se um crescente número dessa complicação.

Infecções – Ao mesmo tempo em que reduz a eficácia dos glóbulos brancos responsáveis pelo combate a vírus, bactérias e outros microorganismos, o excesso de glicose no sangue cria condições ideais para alguns fungos e bactérias. Com isso, boca, gengiva, pulmões, pele, genitais e locais de incisão pós-cirurgia estão mais sujeitos a esse risco. Ferimentos em geral podem se tornar verdadeiras portas de entrada para infecções.

Infarto  – principal causa de morte relacionada ao diabetes, é de 2 a 4 vezes mais comum em diabético tanto do tipo 1 como do 2. Ocorre pelo entupimento das principais artérias do organismo, como as coronárias do coração. Com o tempo, essas placas podem se romper, formando coágulos de sangue que levam à obstrução que tecnicamente é chamada de infarto do miocárdio.

Derrame – como no caso do infarto, é causado pelo entupimento de vasos sanguíneos que irrigam o cérebro. O risco do problema é de 2 a 4 vezes maior em diabéticos.

Neuropatia – os nervos tornam-se incapazes de emitir as mensagens ao cérebro, ou as emitem na hora errada ou muito lentamente. Então há formigamento, dormência ou queimação das pernas, pés e mãos; dores locais e desequilíbrio; estado de fraqueza e atrofia muscular; e ocorrência de pele seca, traumatismo dos pêlos, pressão baixa, distúrbios digestivos, excesso de transpiração e impotência sexual.

Retinopatia – lesão causada por alterações vasculares na retina que pode causar pequenos sangramentos e, como conseqüência, a perda da acuidade visual. No caso do tipo 1, não há necessidade de começar os exames assim que a pessoa se descobre com diabetes, pois não possui um histórico de glicemia alta. Já no tipo 2, os exames serão realizados desde o momento do diagnóstico. Isso ocorre porque não é possível identificar por quanto tempo a pessoa permaneceu com altas taxas de glicemia.

Fonte: Sociedade Brasileira de diabetes

Leia também

Últimas notícias