Saúde melhorou depois da lei antifumo. Até a dos fumantes

Pesquisa do Incor revela que em 12 semanas, a concentração de monóxido de carbono, um dos principais componentes da fumaça, caiu de 5 partes por milhão (ppm) para 1ppm. Esse gás reduz a oxigenação do sangue, células e tecidos, causando sérios danos ao organismo

(Foto: Marcello Casal Jr./ABr)

São Paulo – Imagine ficar horas dentro de um túnel congestionado, respirando a fumaça dos motores ligados, e depois sair dali para um parque arborizado. A diferença na qualidade do ar é comparável à sentida nos ambientes fechados depois da lei 13.541, que proibiu o fumo nesses locais. A constatação é de pesquisadores do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo, o Incor, que em parceria com a Vigilância Sanitária, avaliaram o impacto da proibição que está completando quatro meses.

Jaqueline Scholz Issa, cardiologista do Incor e coordenadora do estudo, diz que em 12 semanas, a concentração de monóxido de carbono, um dos principais componentes da fumaça do cigarro, despencou de 5 partes por milhão (ppm) para 1ppm. Na medição anterior à entrada em vigor da lei, feita em 6 de agosto passado, o ar expelido por garçons fumantes apresentou nível médio de 14 ppm de monóxido de carbono (CO) — extremamente danoso para a saúde cardiovascular.

Doze semanas depois, essas mesmas pessoas submetidas ao mesmo exame apresentaram média de 9 ppm. Para garçons não-fumantes, o impacto positivo é ainda maior — passaram de um índice de 7 ppm para 3 ppm. Em ambientes parcialmente fechados e abertos, a Vigilância Sanitária registrou, na primeira medição, respectivamente 4 ppm e 3 ppm. Na segunda, três meses depois, esses mesmos locais apresentaram registros médios de apenas 1 ppm de CO no ambiente. A melhora da qualidade do ar traz impactos positivos até mesmo para a saúde dos fumantes.

“O banimento do cigarro em ambientes fechados traz beneficia freqüentadores e funcionários, inclusive fumantes, de bares, restaurantes e casas noturnas”, diz Jaqueline Issa. “Os resultados enterram de vez o conceito do fumódromo até mesmo em locais parcialmente fechados. Não há ambiente seguro para o ser humano com qualquer concentração de fumaça do cigarro no ar”, alerta a especialista.

Como ela explica, depois de inalado com a fumaça, o monóxido de carbono concorre com o oxigênio. Quanto mais monóxido no organismo, menos oxigênio – gás fundamental para a vida de todas as células do corpo – e maior oxidação celular. Isso acontece porque, aos poucos, essa condição acelera o envelhecimento do endotélio, que é a camada interna da parede de vasos e artérias. Surgem então inflamações e obstruções dessas vias de passagem do sangue que, quando entopem, causam infarto e derrame, entre outros problemas também graves. Além disso, sem poder se alimentar de oxigênio e nutrientes, as células, tecidos e órgãos do corpo humano morrem.

A pesquisa pioneira no mundo utilizou a variável biológica – o monóxido de carbono – como indicador de redução de risco de exposição ambiental à fumaça do cigarro. Os estudos mundiais feitos até então, segundo a especialista do Incor, levavam em consideração o banimento do cigarro em lugares fechados e a redução da incidência de mortes e internações por infarto na população.

Nos países em que a lei vigora há mais tempo, houve queda de 10% a 30% no número dessas mortes e internações. O resultado, aliás, é o esperado pelos pesquisadores do Incor também em São Paulo, na segunda fase do estudo, que deve terminar em agosto de 2010. A expectativa é de que o mesmo ocorra no Rio de Janeiro, onde pesquisadores do Instituto do Coração iniciaram estudo idêntico ao de São Paulo, em novembro passado, antes de entrar em vigor a lei de ambientes livres do tabaco naquele Estado.

A pesquisa foi realizada em conjunto com a Vigilância Sanitária de São Paulo, responsável pela medição do nível de monóxido de carbono em 710 casas noturnas, bares e restaurantes da cidade de São Paulo, antes e depois de a lei entrar em vigor. Nesses dois momentos, além da poluição ambiente pela fumaça do cigarro, também foram medidos os níveis de monóxido de carbono expirados por funcionários desses estabelecimentos — cerca de 200 tabagistas e 200 não-tabagistas.

Os primeiros resultados do estudo foram analisados ao final de três meses de vigência da lei. Ao final de 12 meses, ou seja, em agosto de 2010, o estudo avaliará o impacto da lei sobre o número de mortes e internações por infarto e derrame.

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