Editorial

O Grande Colar de Joaquim vai dar no ‘New York Times’?

A parcialidade dos jornais não é mais mito na imprensa internacional. No Brasil, porém, falta coragem para que seja assumida com transparência.

Omar Freire/Imprensa MG

Ministro do STF recebe comenda na terra-mãe do mensalão

Há menos de um ano, a democracia brasileira tinha apenas um endereço, o Supremo Tribunal Federal. Juízes viraram celebridades, opiniões divergentes eram consideradas antipatrióticas e a cobertura da mídia convergiu, quase em sua totalidade, para a condenação prévia de alguns acusados e para a imortalização do julgamento como momento inigualável da história política do país, que passaria a se dividir em pré e pós-mensalão.

O tempo passou, vozes e análises discordantes, críticas, começaram a ser ouvidas, aqui e ali. Contestado tecnicamente, o processo fez alguns ministros “editarem” expressões usadas em seus votos, antes largamente divulgados, em sessões transmitidas como jogos da Copa. Porém, gestos que podem colocar sob suspeição a idoneidade dos magistrados, passam longe dos holofotes, câmeras, microfones. Claro, a mídia tradicional é livre para dizer o que quer e o que não quer, e isso é conquista da cidadania. Também por óbvio, as opiniões dissonantes não ecoaram.

Assim como certos fatos passam ao vento. Poderiam virar furacão nas palavras de alguns colunistas, mas tornam-se brisa nos moinhos das redações. Em 21 de abril, o presidente do STF, Joaquim Barbosa, foi à cidade histórica de Ouro Preto, que naquela data se torna simbolicamente a capital de Minas Gerais. Ali, recebeu o Grande Colar, comenda criada nos anos 1950 para homenagear personalidades que contribuíram para o desenvolvimento do estado e do país. Ao lado dele estava Aécio Neves, que, claro, falou sobre o julgamento do mensalão. Quase não se falou do fato de a Corte Suprema ainda não ter julgado o “mensalão pioneiro”, concebido e desenvolvido por integrantes do PSDB mineiro. A um questionamento sobre quando o STF começará o julgar o caso, Barbosa sorriu: “Está vendo por que não falo com vocês?”

A parcialidade dos jornais não é mais mito na imprensa internacional. No Brasil, porém, falta coragem para que seja assumida e exercida com transparência. E enquanto a imprensa daqui descarrega ódio no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele é convidado para assinar coluna a ser distribuída pelo The New York Times, maior jornal norte-americano. Vai falar sobre economia, política e combate à pobreza. Quem diria, o NYT, templo conservador liberal, sinaliza que um pouco de pluralidade não faz mal a nenhuma democracia.