O trabalho eleva o ibope

O governo comprou uma briga, no começo do atual mandato, sobre os juros e o spread bancário, abrindo um debate ainda não digerido pela ala rentista do mercado, que voltou […]

O governo comprou uma briga, no começo do atual mandato, sobre os juros e o spread bancário, abrindo um debate ainda não digerido pela ala rentista do mercado, que voltou à baila com o crescimento da inflação verificado nos últimos meses. Para essa turma, o Banco Central perdeu independência e cedeu aos ditames do Planalto, coisa que não se dizia, claro, na época em que a taxa básica batia até nos 40%. Basta o presidente do BC falar o óbvio, que está preocupado com a inflação, e alguns comentaristas tomam a observação como fato consumado de aumento iminente de juros, assanhando o mercado.

A inflação realmente deve ser motivo de acompanhamento severo. Tem a ver com a vida real, com o dia a dia das pessoas. Mas é um assunto que não pode ser separado de outro tema importante, o crescimento econômico. Ainda que timidamente e em ziguezagues, a atividade parece mostrar recuperação. As taxas de desemprego vêm se mantendo estáveis, em seu menor nível histórico. Os postos de trabalho com carteira assinada continuam sendo criados, ainda que em ritmo menor. 

Um mercado de trabalho aquecido, embora seja exagero falar em pleno emprego, e a manutenção da renda sustentam a popularidade do governo, que tem como desafio garantir mais investimentos, especialmente em infraestrutura. Boa parte do atual mandato foi gasta com medidas anticrise. Agora, espera-se, o país voltará a crescer de forma mais consistente. 

Nesse contexto, que inclui ainda um precipitado debate sobre sucessão presidencial, as centrais sindicais organizaram um ato em Brasília, pouco notado pela mídia, cobrando maior atenção às suas reivindicações, reunidas em uma pauta entregue ainda em 2010, durante a campanha eleitoral. Sabe-se que há – e sempre haverá – uma queda de braço, dentro e fora das instâncias de poder, pela formulação de políticas e medidas voltadas a estes ou aqueles setores da sociedade. Esse embate inclui uma permanente tensão própria das relações entre capital e trabalho. Mas não se pode esquecer que foi este último que, por meio da produção e do consumo, garantiu boa parte do crescimento e, por que não dizer, da própria popularidade do governo.