Uma releitura da Bíblia, não autorizada

Flávio Aguiar bebe da Sagrada Escritura, Camões, Caymmi, Erasmo Carlos. E constrói uma ficção repleta de meras semelhanças com a origem do mundo e seu possível fim

(Foto:Divulgação)

Os pais de Heitor não queriam que ele entrasse para a luta armada contra a ditadura, como fez sua irmã, Lúcia Murat. Enviado em 1969 para Londres, o caçula dos três filhos mergulhou na inquietação. Foi para os mares do sul, Indonésia, Tailândia, Afeganistão. Deu a volta ao mundo por duas vezes e viveu experiências viscerais. As cartas que enviou à família, na época, guiam o documentário Uma Longa Viagem (dirigido pela própria Lúcia), interpretadas por Caio Blat e permeadas por projeções de fotos, vídeos, narrações da irmã-diretora e entrevistas em que Heitor revela hoje o que não podia revelar aos pais nas cartas: as prisões e suas viagens pelo mundo das drogas. Em DVD.

 

A Bíblia segundo Beliel (Foto:Divulgação)Releitura bíblica

Flávio Aguiar, colaborador assíduo desta Revista do Brasil, lança no início de dezembro mais um livro: A Bíblia Segundo Beliel – Da Criação ao Fim do Mundo: Como Tudo de Fato Aconteceu e Vai Acontecer (Editora Boitempo, 122 pág.). Beliel é um anjo desgarrado que decide reunir narrativas bíblicas perdidas. Os coadjuvantes da história são, em sua maioria, também desgarrados, como o demônio Misgodeu, o porteiro do inferno, a pomba que Noé soltou para ver se as águas do dilúvio tinham baixado, o escravo de Jó, entre outros. Beliel nos mostra sua versão do mundo e o autor apresenta não só as previsões apocalípticas de origem religiosa, mas também as de natureza científica e histórica, como guerras nucleares e o aquecimento global.

Falando assim, parece até um livro sisudo com pretensões proféticas, mas não. É engraçado e tem uma narrativa melódica bem atual. Para isso, o autor se ancorou nas tradições bíblicas (as quais conhece profundamente) e cruzou leituras da Sagrada Escritura com as do Evangelho segundo Nicodemus e segundo Maria Madalena, textos de Camões, cancioneiros de Carlos Gomes, Dorival Caymmi e (até) Erasmo Carlos, poemas de Catulo da Paixão Cearense e livros de Teilhard de Chardin.

As fontes de onde Flávio bebeu para escrever são ricas, e sua costura, refinada. Ele combina a leveza da chanchada com reflexões profundas sobre temas que lhe são caros e podem levar à redenção da sociedade: a liberdade, a justiça, o amor e a crença contrapondo-se à religião, ao fanatismo, à opressão e à desigualdade.

Sobre o churrasco que Noé prepara com os animais da Arca, Flávio, gaúcho de Porto Alegre, é enfático: “Não inventei o churrasco de Noé. Ele está em Gênesis, 9, 20-22. (…) Aliás, inventei muito pouco neste livro todo. Alguns nomes, nada mais. Apenas li muita coisa com o espírito aberto. Cruzei as leituras e traduzi tudo para um novo contexto”, escreve nos comentários finais. As ilustrações são de Ricardo Bezerra.

Livro "Magnum – Contatos" (Foto:Thomas Hoepker/magnum photos/latinstock)Epitáfio

Antes de a fotografia digital tomar conta das redações, os fotógrafos faziam uma primeira prova em miniatura das imagens dos filmes numa folha de contato ou em cromos antes de escolher as que queriam ampliar. O livro Magnum – Contatos chega ao Brasil com 139 folhas de com 435 imagens feitas entre 1930 e 2010 por 69 fotógrafos da agência. Os desembarques na Normandia, por Robert Capa, e os distúrbios em Paris, em maio de 1968, por Bruno Barbey, estão no livro, além de imagens de Henri-Cartier Bresson, Elliot Erwitt e Inge Morath. (Ao lado, os fotogramas em que Thomas Hoepker flagra grupo de jovens alheios às Torres Gêmeas ardendo ao fundo, no 11 de setembro de 2001; acima, a foto publicada.) Quem não quiser pagar R$ 190 pela obra, pode conferir, de graça, a exposição com 39 fotos até 6 de janeiro na loja do Instituto Moreira Salles, no Conjunto Nacional, em São Paulo. De segunda a sábado das 9h às 22h e domingo e feriado das 12h às 20h.

 

Teresa Cristina + Os Outros (Foto:Divulgação)Uma brasa, mora?

Teresa Cristina mudou de ares. Com uma carreira consolidada no samba, ela aceitou a proposta da banda de rock Os Outros e lançou disco em homenagem a Roberto Carlos. O namoro com o repertório começou quando foi convidada pelo grupo (que é fã do rei) para fazer shows. A parceria deu certo e o álbum foi lançado em novembro pela Deck, com sucessos como Proposta, Como Dois e Dois, Sua Estupidez, Cama e Mesa, As Curvas da Estrada de Santos. Preço sob consulta.

 

Exposição Acervo Tom Jobim (Foto:Divulgação)Acervo de Tom

Um dos mais nobres visitantes do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Tom Jobim ganhou uma exposição permanente que torna acessível parte de seu acervo pessoal e de sua obra. A mostra vai ocupar 190 metros quadrados do instituto que leva seu nome e traz a público móveis do estúdio de gravação, objetos pessoais e até o piano no qual o maestro compôs suas músicas quando vivia na emblemática Rua Nascimento Silva, 107, em Ipanema. De terça a domingo, das 10h às 17h, ­na Rua Jardim Botânico, 1008. Grátis.