Churrasquinho diferenciado

E os grã-finos de Higienópolis perderam a oportunidade de ficar calados

Metrô não é problema, é solução, estúpido (foto: Maurício Morais)

Espetinho, churrasqueiras, farofa, queijo coalho, batucada, isopores e palavras de ordem. O “Churrascão da gente diferenciada”, convocado por usuários da rede social Facebook, começou à tarde em frente ao Shopping Pátio Higienópolis, no dia 14 de maio, e seguiu noite adentro pela Avenida Angélica. O evento foi um pacífico e bem-humorado protesto – mais que por uma política de transporte público séria – contra o preconceito.

O Metrô (vinculado à Secretaria dos Transportes Metropolitanos de São Paulo) havia desistido de instalar no bairro uma estação da futura Linha 6-Laranja, prevista para ligar a Rua da Consolação, na região central, ao bairro da Freguesia do Ó, na zona norte. A desistência teria sido “estimulada” pelo movimento de um grupo de moradores e comerciantes do bairro, de classe média alta.

A onda que arregimentou milhares de mensagens na rede social e culminou no protesto teve início após a lembrança, por ocasião da decisão do Metrô, da declaração da psicóloga Guiomar Ferreira, moradora do bairro, dada a um jornal em 2010: “Eu não uso metrô e não usaria. Isso vai acabar com a tradição do bairro. Você já viu o tipo de gente que fica ao redor das estações do metrô? Drogados, mendigos, uma gente diferenciada”.

Com o cruzamento da Rua Sergipe com a Angélica cheio de gente e quatro churrasqueiras espalhadas – a pleno vapor –, os manifestantes esbanjaram ironias contra o preconceito por meio de músicas, faixas e gritos de “guerra”. No final da tarde instalaram, de um poste a outro no meio da avenida, um varal cheio de roupas. A resposta da “gente diferenciada”, além de engraçada, parece ter surtido efeito. Dois dias depois o governo anunciou: haverá estação em Higienópolis, apesar de, na época, não ter informado o local exato.