A cena black reunida

Festival em SP celebra a força e o suingue da música negra, no Brasil e no mundo

Artistas nacionais e internacionais, como o britânico Pato Banton, espetáculo de som e diversidade durante três dias na pista do Anhembi (foto: Divulgação)

Em 2004, a cantora Sandra de Sá lançou um álbum chamado Música Preta Brasileira, brincadeira com a sigla MPB. Sete anos depois, rola na Arena Anhembi, em São Paulo, entre 22 e 24 de julho, a primeira edição do Black na Cena Music Festival, com grandes nomes da música black brasileira e internacional. E o que um caso tem a ver com o outro? Além da presença da cantora, a preocupação em demonstrar como a raça negra é fundamental na música do Brasil e do mundo. 

Dias 22, 23 e 24 de julho no Sambódromo do Anhembi. Informações sobre pontos de venda, compras on-line, programação completa, promoções e pacotes:
www.blacknacena.com.br 

A ideia do Black na Cena surgiu há um ano e meio e nunca houve festival do gênero no Brasil. São três dias divididos em clássico, popular e rap, com a expectativa de reunir 60 mil pessoas. “A realização é um grande reconhecimento à música e aos artistas influenciados pela cultura afro”, afirma Ricardo de Paula, diretor da Entre Produções, idealizador e realizador do festival.

A primeira atração, na sexta-feira 22, é o músico norte-americano George Clinton, que completa 70 anos no dia. Clinton é considerado um dos mais importantes nomes do funk, ao lado de James Brown e Sly Stone.

Na mesma noite se apresenta Seu Jorge. Antes de mergulhar no sonhado mundo da música, o cantor carioca já havia trabalhado em borracharia, marcenaria, como office-boy, e entrou no Exército. 

O prazer mesmo ele buscava nas rodas de samba e bailes funk no subúrbio do Rio. Nome consolidado no cenário cultural, Seu Jorge tem como uma de suas referências Wilson Simonal – que será homenageado pelos filhos Max de Castro e Wilson Simoninha, com o “Baile do Simonal”, também na noite de estreia do festival.

Da mesma geração de Simonal, Tony Tornado, de 81 anos, subirá ao palco em seguida para interpretar sucessos como BR-3, com a qual venceu o 5º Festival Internacional da Canção, em 1970. 

Ambos despontaram na época em que os afro-americanos lideraram o chamado Black Is Beautiful – movimento nos Estados Unidos de reação ao preconceito racial –, que deu título à canção de Marcos e Paulo Sérgio Valle, gravada por Elis: “Hoje à noite, amante negro eu vou/ Vou enfeitar o meu corpo no seu/ Eu quero este homem de cor/ Um deus negro do Congo ou daqui!/ Que se integre no meu sangue europeu”.

“Hoje temos uma evolução na questão racial, há mais consciência de que negra é a música que o brasileiro faz. Somos o povo mais suingado e com a melhor música do mundo, que é negra. Eu canto Flor de Lis, de um alagoano (Djavan), e Madalena, de um garoto da zona sul carioca (Ivan Lins), e o suingue é o mesmo”, afirma Sandra de Sá, que encerra a primeira noite, após a apresentação da banda de samba-rock Farufyno.

Sandra de Sá começou a ficar conhecida ao integrar um movimento ocorrido na segunda metade da década de 1970, que fundia a soul music com o samba e outros ritmos do Brasil. Representante e homônima desse movimento, a Banda Black Rio, formada em 1976, se apresenta na segunda noite do festival.

Jorge Benjor, de 69 anos, também estará lá. Com sua batida diferenciada e atual de violão, Benjor é dos artistas brasileiros mais prestigiados mundialmente, graças a sucessos como País Tropical, Chove Chuva e 

W Brasil. Em 2006, a banda norte-americana Black Eyed Peas regravou, com o pianista brasileiro Sergio Mendes, o primeiro sucesso de Benjor, Mas Que Nada, de 1963, e fez ferver as pistas do mundo todo.

O cantor britânico Pato Banton, de 60 anos, ex-integrante da banda UB40, é outro que esquenta a noite do sábado. O artista diz amar o Brasil e considera oportuna a realização do festival. “A música negra é muito respeitada, mas, para que os negros vivam num mundo melhor, eles também precisam ter seus direitos respeitados”, diz. Ainda no sábado, tocam o músico de dub Mad Professor, o DJ e produtor musical jamaicano Lee “Scratch” Perry, o ex-Rappa- Marcelo Yuka e o rapper paulistano Xis.

A noite do domingo é dedicada ao cenário hip-hop, que surgiu, na década de 1970, nas áreas centrais de comunidades jamaicanas, latinas e afro-americanas de Nova York. Representando os norte-americanos no festival estarão a banda Naughty by Nature e os rappers e atores Method Man e Redman. Da cena brasileira, subirão ao palco Sandrão, Russo, Bocage e Banda Soul 3, Thaíde, RZO e Racionais MC’s.

No Black na Cena também haverá espaço para outras manifestações. “A gente se preocupou em montar um evento que mostre, por meio da música e de algumas manifestações artísticas, a influência da cultura afro na nossa sociedade. O grafite, a dança (break) e o DJ constituem, com o rap, o quadripé do hip-hop. Achamos muito importante que essas manifestações façam parte da festa e contagiem o público”, diz o produtor Ricardo de Paula.