Para não desaprender

Ao deixar o Brasil, onde passou dois dias, Barack Obama foi ao Chile e teve de ouvir uma pergunta sobre a responsabilidade dos Estados Unidos no golpe de 1973, que […]

Ao deixar o Brasil, onde passou dois dias, Barack Obama foi ao Chile e teve de ouvir uma pergunta sobre a responsabilidade dos Estados Unidos no golpe de 1973, que terminou com a morte do presidente constitucional, Salvador Allende, e a formação de uma sangrenta ditadura. O presidente norte-americano esquivou-se, afirmando que não poderia falar sobre todas as decisões políticas do passado, só as do presente. Disse ainda que era importante aprender com a história, mas não ficar preso a ela. Aparentemente, as lições não foram aprendidas.

Influenciadas pelo poderio norte-americano, outras nações empenham-se em apoiar ataques a países como a Líbia, antes mesmo de buscar uma solução negociada. Mas essa indignação, em nome de ideais humanitários, é seletiva. Assim como aconteceu no Egito, no Bahrein, no Brasil, no Chile, na África do Sul, ditaduras podem ser toleradas e estimuladas, caso convenha a Washington. A velha história volta e meia se repete. Ao longo do século 20, incursões europeias pela Ásia e pela África, principalmente, levaram à formação de regimes autoritários, exploração, violência e a longas lutas por independência em diversos países – hoje convertidas em lutas contra a miséria –, à custa de um sem-número de vidas e após muita dignidade pisoteada. Os Estados Unidos não ficaram atrás, patrocinando golpes na América Latina. O “nosso” acaba de completar 47 anos e, até hoje, o país não consegue rever o que aconteceu naquele período. Empecilhos – alguns imaginários, paranoicos ou simplesmente cínicos – ainda se criam para impedir a formação da Comissão da Verdade.

Diferentes retratos do pensamento colonialista estão presentes nesta edição e servem de reflexão para que tipo de comportamento cada país deve adotar em relação aos demais. Por muito tempo, e com a cumplicidade da mídia, o Brasil seguiu a política de alinhamento incondicional ao que se chamava Grande Irmão da América do Norte. Reorientar essa política, priorizando as relações com países da América Latina e da África, bastou para despertar um bombardeio – internamente e no sentido figurado, claro – por quem ainda crê que o que é bom para os EUA é bom para nós, conforme anotava o velho bordão dos anos 1950-60.

Não há fórmula mágica. Ações que visem subjugar outros países resultam apenas em sua degradação e no desrespeito à vida. As relações internacionais pressupõem diálogo e respeito, sem retórica.

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