A faca e o queijo na mão

O maior parque urbano do mundo pode se tornar também, pelo menos, o melhor do Rio de Janeiro

(Foto: Divulgação)

O Parque Estadual da Pedra Branca é um destino turístico ainda pouco conhecido no Rio de Janeiro, embora seja considerado a maior reserva florestal em área urbana do mundo. Essa joia ambiental, na zona oeste carioca, tem 12.500 hectares e abriga o Pico da Pedra Branca, ponto culminante da cidade, com 1.024 metros. Mas também abriga problemas, decorrentes do abandono pelo poder público e da ocupação irregular, que só aumenta desde sua criação, em 1974. Para transformá-lo em atração ecológica, numa cidade que vai receber a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016, o governo estadual traça alguns planos, como alterar os atuais limites e criar o Parque do Carbono, com o plantio previsto de 2,6 milhões de mudas.

Idealizado pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), o Parque do Carbono começou a sair do papel em fevereiro, com o início do plantio de mudas na vertente norte do Parque da Pedra Branca, que se estenderá ao longo do ano, viabilizado pela parceria com a iniciativa privada. “Empresas interessadas em compensar suas emissões de gases poluentes podem fazê-lo na área que disponibilizamos para o plantio. Assim, à medida que crescem, as mudas sequestram o carbono da atmosfera e, consequentemente, reduzem os gases de efeito estufa”, afirma o diretor de Biodiversidade e Áreas Protegidas do Inea, André Ilha.

Cinquenta espécies nativas estão sendo plantadas em uma área de 204 hectares, resultado de um trabalho realizado pelo Instituto BioAtlântica, com recursos do BNDES definidos em seu primeiro edital próprio destinado a reflorestamento. Outros módulos estão a caminho, sempre com o objetivo de reflorestar a área degradada da vertente norte do Parque da Pedra Branca, que se estende entre os bairros de Vila Valqueire, Bangu e Senador Camará. São 1.300 hectares completamente cobertos por capim-colonião ou, em alguns trechos, precisando de um imediato enriquecimento biológico.

O próximo módulo, já acertado, compreenderá 600 hectares, fruto da compensação pela implementação do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro, que tem como obrigação legal prevista em seu processo de licenciamento o plantio de 3,5 milhões de mudas. A meta é chegar a 24 milhões de novas árvores até 2014, volume estimado para uma expectativa inicial de compensação das emissões extraordinárias decorrentes da Olimpíada de 2016. 

Novos limites

Os atuais limites do parque, alvo histórico de críticas, serão redefinidos, seguindo um plano de manejo a ser executado nos próximos sete meses pelo Instituto Ipê, ONG de São Paulo reconhecida por seu trabalho em unidades de conservação. “Embora tenha sido instituído em 1974, o Parque da Pedra Branca só agora tem seu plano de manejo elaborado”, diz André Ilha.

Para o diretor do Inea, o parque foi criado de forma simplista: “O decreto afirma que todo o maciço da Pedra Branca da cota 100 para cima lhe pertence, o que significa que algumas áreas importantíssimas do ponto de vista ambiental ficaram de fora por estar abaixo da cota 100 e aquelas que já em 1974 se encontravam com ocupação urbana consolidada, que só cresceu de lá para cá, ficaram dentro”. Essas áreas ocupadas perderam seu significado ambiental e são fonte permanente de problemas para a administração do parque e para o Inea. “Faz todo o sentido que sejam excluídas, porém compensadas por outras que venham a ser agregadas também em decorrência do plano de manejo.”

Os limites do parque só poderão ser alterados após a aprovação de um projeto de lei na Assembleia Legislativa. O instituto ainda não sabe se o novo parque será maior ou menor que o atual, mas aposta em um muito melhor, mais racional do ponto de vista ambiental e da gestão. “Hoje, na forma como está, é ‘inadministrável’, ao menos em sua plenitude”, diz o diretor do Inea. 

Visitação

O Parque da Pedra Branca tem um potencial extraordinário para visitação, mas ainda é desconhecido de grande parte dos cariocas, mesmo os moradores da zona oeste ou da Barra da Tijuca, onde tem seus limites. A instalação de novas estruturas para uso do público e a melhoria das já existentes podem resgatar essa vocação.

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Um exemplo desse potencial turístico foi a inauguração, em 2009, de sua subsede Piraquara, localizada no bairro de Realengo, sucesso de público no último verão. A alternativa de lazer gratuita e saudável é muito procurada pelos habitantes do bairro, de Padre Miguel e cercanias. No recente verão, em torno de 1.200 chegaram a visitar o espaço nos dias mais quentes. A readequação ambiental e estrutural deve tornar suas atrações mais conhecidas entre os demais cariocas e turistas.

Mesmo para quem não faz questão de cachoeiras – y las hay! -, a fauna e a flora exuberantes enriquecem o sabor das trilhas e caminhadas nos parques do Rio. Para não perder a força desses ingredientes naturais, o Inea preparou uma publicação com dicas e orientações: “Vamos lançar em abril o primeiro guia impresso de trilhas de um parque estadual, no Parque do Desengano, e em seguida partiremos para outros três, nos parques da Serra da Tiririca, dos Três Picos e da Pedra Branca, com uma rede de trilhas extraordinária, que merece ser divulgada por meio de um guia consistente e educativo sobre as melhores práticas de respeito à natureza”, diz Ilha.