Obama e o petróleo

Acidente no Golfo do México é alerta sobre exploração em águas profundas. Temos de adotar procedimentos absolutamente seguros a fim de evitar acidentes semelhantes, principalmente sob a camada de sal

Quando os norte-americanos descobriram os primeiros poços de petróleo em seu território, tiveram o pressentimento de que chegava ao final a era do carvão. O fóssil líquido era de muito mais fácil extração, bastava furar o solo, atingir as camadas impregnadas do óleo e a pressão se encarregaria de ejetar a riqueza à superfície. Os custos de extração revelaram-se muito abaixo da escavação das minas. Em seguida, a utilização do petróleo refinado nos motores a explosão favoreceu o desenvolvimento da indústria automobilística e estabeleceu parâmetros para o desenvolvimento da sociedade industrial dos últimos 150 anos. Os norte-americanos e ingleses perceberam, mais do que os outros, que o petróleo significava poder – econômico e militar. Era necessário, portanto, assegurar o controle sobre suas fontes.

As pesquisas que se seguiram mostraram que as maiores reservas se encontravam sob o controle do Império Otomano, no Oriente Médio, e no que viria a ser o império soviético. Era necessário ao sistema capitalista anglossaxônico dominar tais fontes. O petróleo foi uma das razões não explícitas para a Primeira Guerra Mundial. Com a derrota do Império Otomano, ingleses e norte-americanos criaram os novos estados árabes e ali colocaram as suas empresas exploradoras.

A guerra contra o Iraque se fez para o controle dos depósitos petrolíferos do Oriente Médio. O presidente Bush, em raro momento de franqueza, afirmou que o seu povo estava viciado em petróleo e, para garantir à sociedade americana o acesso, se fez necessária a ocupação militar. Não por outra razão, agora travam sua segunda guerra no Afeganistão. Osama Bin Laden e os militantes da Al Qaeda – acusados pela queda das torres gêmeas – são um pretexto. O objetivo é o de se apoderar das ricas jazidas de petróleo, gás e lítio do Vale do Cáspio. A ocupação militar permitiu aos norte-americanos o controle dos governos dos dois países. E não nos esqueçamos de que o Irã é ribeirinho do Cáspio, ao sul.

O presidente Barack Obama, diante do desastre ocorrido no Golfo do México, encontrou oportunidade para pregar a necessidade de se mudar a matriz energética dos Estados Unidos, mediante o uso de fontes alternativas. Não parece provável que fontes alternativas de energia bastem para suprir as necessidades criadas pela sociedade industrial norte-americana e em todos os continentes que seguem o seu modelo. Se a produção de automóveis continuar nas taxas de expansão dos últimos 100 anos, será difícil encontrar nas fontes “limpas” produção suficiente para mover o transporte sobre pneus. É preciso, portanto, mudar o sentido e o rumo da vida na Terra. Sacrificar o conforto. O uso de ar-condicionado pelos americanos só se reduz por dois meses na primavera e por dois no outono, queimando energia nos demais para aquecer os ambientes no inverno ou esfriá-los no verão.

O melhor resultado, se for possível essa nova forma de viver, será a paz mundial. Sem a necessidade de invadir os outros países atrás do petróleo que consomem, os EUA salvarão centenas de milhares de vidas todos os anos – a de seus próprios cidadãos e a dos cidadãos do resto do mundo. Mas não podemos ter muitas esperanças. O poder dos lobistas do petróleo e o do Estado de Israel é muito grande sobre o Congresso e sobre os meios de informação dos Estados Unidos e do mundo. Esses poderes exercem sua influência também no complexo industrial-militar, que emprega milhões de cidadãos. O presidente está sendo pressionado, agora, a mergulhar mais fundo na aventura bélica – desta vez contra o Irã.

Outro aviso grave do acidente no Golfo do México é sobre a exploração em águas profundas. Temos, os brasileiros, de adotar procedimentos técnicos absolutamente seguros para evitar acidentes semelhantes, principalmente na extração sob a camada de sal. Ao que parece, Obama está disposto a mudar a legislação, a fim de impedir esse tipo de exploração nas costas americanas. É um problema que exige nossas reflexões técnicas, mas também políticas.