Retrato

Resistência e desacato

Nelson Antoine/Folha imagem No último dia 7 de janeiro André Furlan, de 29 anos, foi paralisado pelo jato de spray pimenta lançado por um policial militar, durante manifestação popular comandada […]

Nelson Antoine/Folha imagem

No último dia 7 de janeiro André Furlan, de 29 anos, foi paralisado pelo jato de spray pimenta lançado por um policial militar, durante manifestação popular comandada pelo Movimento Passe Livre (MPL) contra o aumento da tarifa de ônibus na cidade de São Paulo. “Os policiais começaram a agredir as pessoas, eu decidi aplaudir a atitude e fui covardemente agredido. Eles ganham na força, mas moralmente a gente sempre vence”, desabafa o militante. A colega do lado esquerdo foi levada para o 1º Distrito Policial, acusada de desacato à autoridade depois de ter tentado defender o manifestante. Outras três pessoas foram detidas sob a mesma alegação.

O prefeito Gilberto Kassab elevou a tarifa de R$ 2,30 para R$ 2,70, o que representou aumento de 17,39%. Os protestos realizados naquela tarde no terminal de ônibus Dom Pedro, e no dia 14 em todo o centro da cidade, buscam reverter o reajuste, fato já ocorrido em Florianópolis, capital de Santa Catarina. Em julho de 2004, manifestação liderada pelo MPL conseguiu barrar a elevação de 15,6% nos preços. Porém, antes disso, também houve muita agressão policial. A cidade parou na famosa “Revolta da Catraca”. Houve a participação de estudantes, associações de moradores, professores, sindicatos e da população em geral.

O MPL, com atuação nas principais cidades do país, busca um modelo de transporte com garantia de acesso através do passe livre para toda a população. O movimento foi criado em 2005, durante a realização do Fórum Social Mundial. A revolta popular que originou o MPL aconteceu em Salvador, capital da Bahia. Em 2003, milhares de jovens, estudantes, trabalhadores e trabalhadoras fecharam as vias públicas, protestando contra o aumento da tarifa. Durante dez dias, a cidade ficou paralisada. O ocorrido foi retratado no documentário A Revolta do Buzu, de Carlos Pronzato.

Foi uma greve realizada em 2004 na Faculdade de Tecnologia de São Paulo (Fatec) que preparou o então estudante de Programação de Computadores André Furlan para a militância estudantil. Logo depois do engajamento ele passou a integrar um movimento político anarquista. Conclusão dele após esses anos de luta social é que não dá pra esperar nada além de violência e intimidação por parte da polícia.

Segundo André, ao desespero provocado pelos jatos de spray de pimenta no rosto, que dificultam a respiração, somou-se o mal-estar causado pela liberação de gás lacrimogêneo. “Tive a impressão de que morreria. Foram duas horas de sofrimento”, relata. Para ele, o importante é que episódios dessa natureza ajudam a criar consciência política na população. “Foi bacana ver o povo me aplaudindo depois de tanta violência. É a força da indignação.” E isso acontece lentamente. Ele disse que até a mãe, antes de direita, já está “despelegando”.