Ponto de Vista

Amazônia Brasileira S.A.

Uma grande empresa, de controle público, poderia promover o uso sustentável dos recursos naturais, exercer a soberania sobre a região e criar milhões de empregos, diretos e indiretos, em diversas áreas

Antes que Vargas comandasse a Aliança Liberal e a Revolução de 1930, os pobres e as mulheres não tinham presença na sociedade brasileira. No Império, só os homens de posses tinham direito ao voto. Na Primeira República, o voto era aberto e os patrões determinavam quem eleger, e seus jagunços vigiavam os eleitores. O voto secreto, o sufrágio feminino e, depois, uma legislação trabalhista foram instituídos no governo Vargas. Havia ali, ainda, o pensamento de que nenhum país pode combater a injustiça interna se não for capaz de se defender contra a injustiça internacional. Seria dever de um povo estabelecer sua identidade política no mundo, assegurar suas fronteiras históricas e utilizar os recursos naturais em seu próprio desenvolvimento. Vargas expôs seu projeto nacional fundado nessas duas evidências.

O Brasil, a partir de então, abandonou a postura resignada de ser um pequeno país em território imenso e se deu conta de que, sem a integração dos trabalhadores nesse projeto, não sairíamos da periferia do mundo. Para os ricos, que viviam principalmente da exportação de café, açúcar e minérios, não interessava que os trabalhadores tivessem educação e, menos ainda, consciência política, porque implicava menos lucros.

A grande falha das lutas operárias estava na ilusão de que se resumiam aos salários e às condições do trabalho. Até hoje é difícil ao trabalhador que já adquiriu nível de vida decente, com os filhos nas escolas, automóvel, casa, compreender que só na medida em que todos os outros trabalhadores tiverem salários justos e emprego sua própria situação estará garantida. Para isso é preciso que haja desenvolvimento em todo o país e em benefício de todo o povo brasileiro. É papel do sindicalismo do futuro atuar para que o trabalhador enxergue a amplitude de sua importância no cenário nacional.

Estamos diante da invasão da cobiça estrangeira em duas frentes vitais para o Brasil. Uma delas é o petróleo do pré-sal. A outra, a Amazônia. Políticos norte-americanos, ingleses, alemães, franceses, noruegueses visitam a região como se se tratasse de território internacional semelhante à Antártica. Organizações que se dizem “não governamentais”, financiadas com dinheiro estrangeiro, ocupam extensas áreas amazônicas, nas quais exercem soberania de fato, proibindo até mesmo a entrada de brasileiros. Os próprios norte-americanos nos podem servir de referência para resolver o problema, com a Tennessee Valley Authority, a grande empresa estatal criada por Roosevelt para desenvolver a área de 106 mil quilômetros quadrados beneficiada pela bacia do grande rio.

Estamos diante da invasão da cobiça estrangeira em duas frentes vitais para o Brasil. Uma delas é o petróleo do pré-sal. A outra, a Amazonia

Não pode ser uma nova repartição pública, como a Sudam, mas sim uma empresa de economia mista. Temos boa experiência com as companhias estatais, criadas por Vargas e Juscelino. Muitas delas foram privatizadas pelo governo passado, outras continuam sendo exemplares na geração de tecnologia e emprego e na formação de capital, como Petrobras, Furnas, Chesf, Copel e Cemig. Dentro e fora do governo há estudiosos que aconselham a criação dessa companhia de desenvolvimento da Amazônia, nos moldes da TVA de Roosevelt. Ela coordenaria e executaria os estudos ecológicos e promoveria a exploração, ordenada e sustentável, de seus recursos florestais, minerais, da biodiversidade e da água. Esse parece ser o caminho para exercer a plena soberania sobre a região, que já se encontra infestada de estrangeiros.

Entre as ideias para viabilizar o projeto, há a de que o governo federal se articule com os estados interessados na criação de uma Amazônia Brasileira S.A. (como a Petróleo Brasileiro S.A.), com a maioria acionária controlada pela União e pelos estados e o restante em ações preferenciais, distribuídas apenas a cidadãos brasileiros. A empresa criaria milhões de empregos, diretos e indiretos na área ambiental, na ciência, na tecnologia, na produção industrial. É uma grande causa, cuja vitória depende da mobilização dos trabalhadores organizados. E será um meio para que as forças sindicais aumentem a importância de sua presença na sociedade brasileira.

Mauro Santayana trabalhou nos principais jornais brasileiros a partir de 1954. Foi colaborador de Tancredo Neves e adido cultural do Brasil em Roma nos anos 1980