Retrato

Mestre de Cajuru

Lá pela década de 1950, no apogeu dos carros de boi, esculpir uma canga, um cacão, um chumaço, um fueiro, arreia ou recavém era tarefa de muita valia. Eram as […]

Lá pela década de 1950, no apogeu dos carros de boi, esculpir uma canga, um cacão, um chumaço, um fueiro, arreia ou recavém era tarefa de muita valia. Eram as peças que apresentavam maior dificuldade para o artesão, ricas em detalhes e precisão. “Esses nomes esquisitos você só encontra em letra de músicas sertanejas”, diverte-se Paulo da Zilda, mestre na arte. Polão, como é chamado, se envaidece ao falar dos cuidados na construção das peças, da escolha da madeira na mata aos entalhes minuciosos, feitos com mestria e muito carinho. “No começo eu fazia porque gostava, não pensava no dinheiro, mas o povo foi gostando, e o serviço não parou mais. Durante mais de 40 anos botei muito carro rodando nessas estradas de Minas Gerais.”

Polão nasceu e vive há 73 anos em São Miguel do Cajuru, pequeno arraial a 32 quilômetros de São João del Rei (MG). O acesso até o povoado é uma única e precária estrada de terra, na região de Campos das Vertentes, caminho dos antigos Tropeiros Paulistas, Estrada Real ou Trilha dos Inconfidentes. A estrada foi a grande passagem para escoamento de produtos agropecuários desde o fim do ciclo do ouro até meados do século passado. É esse isolamento que garante a qualidade de vida e a preservação da cultura. Quase tudo lá permanece como no início do século 18 – as casas de tijolos de adobe (mistura de barro com capim), o contato intenso com a natureza, o carinho ao receber os visitantes, o cafezinho com bolo de fubá.