em transe

Cultura digital para todos

Fórum lançado pelo Ministério da Cultura propõe política pública que reconheça a centralidade da questão digital e busque meios de assegurar o acesso dos cidadãos a essa cultura

circo voador digital/divulgação

Circo Voador: pontos de cultura são acesso a equipamentos e a conhecimento para democratizar a web

A cultura digital é a cultura contemporânea. Ela surge quando as artes e a informação passam a se propagar por meio de bits e sem precisar de suportes físicos (para clarear, é a cultura do MP3, não do CD). E se alastra com grande velocidade, dando ao recentíssimo “ontem” um caráter de “antigamente”. Equipamentos e softwares surgem para alterar a forma como comunicamos, nos relacionamos, consumimos, nos divertimos, vivemos, enfim.

Desde 2003, quando Gilberto Gil chegou ao Ministério da Cultura, essa questão ganhou espaço nas políticas culturais do Brasil. De cara, iniciou-se um projeto para capacitar produtores da área e artistas nos usos das novas tecnologias de informação e comunicação (TICs), com destaque para os Pontos de Cultura, que estimulam grupos culturais populares a produzir para o mundo digital. Esses pontos (são 800 em todo o país) recebem um kit de produção multimídia dotado de, entre outros artefatos, computador e câmera. Além disso, outras ações foram desenvolvidas, como reconhecer nos jogos eletrônicos produtos culturais.

Agora, o ministério lançou o Fórum da Cultura Digital Brasileira, um processo que pretende produzir diretrizes e resoluções para a construção de uma política pública de cultura digital para o Brasil. O Fórum também vai ocorrer pela internet. No endereço www.culturadigital.br, criamos um site de rede social (para não restarem dúvidas, este autor está envolvido até a cabeça com o Fórum da Cultura Digital Brasileira, sendo um de seus criadores e promotores). A ideia é promover o uso da rede para a deliberação política, numa iniciativa pioneira em todo o planeta.

Nessa rede, o cidadão poderá se cadastrar, criar o seu perfil e articular grupos, postar conteúdos, além de conhecer pessoas que também pensam a cultura digital. Se o usuário não quiser se cadastrar na rede, ainda assim poderá acessar o conteúdo disponível e acompanhar os debates – diferentemente de redes como o Orkut e o Facebook, a rede da Cultura Digital é aberta e integrada às outras redes já existentes, gerando conversas dentro do site, mas também explodindo suas informações para a internet.

São cinco os eixos de discussão do Fórum: memória, comunicação, arte, infraestrutura e economia. Cada qual com um curador, responsável por estimular os debates e sistematizar as contribuições e diretrizes formuladas pela sociedade. O resultado desse trabalho será debatido no evento final, em novembro, e entregue ao ministro da Cultura e ao presidente da República.

As discussões também vão subsidiar os debates das Conferências Nacionais de Comunicação (cuja etapa nacional será realizada em dezembro) e da Cultura (que deve se encerrar em meados de 2010). Essas conferências são momentos nos quais o governo se debruça para ouvir a sociedade em busca de ideias para um determinado campo da vida social.

São muitas as questões em jogo nesse processo. Podemos listar algumas delas aqui. Como fazer para tornar públicos os acervos de museus e bibliotecas na rede mundial de computadores? Como construir novos modelos de negócio, considerando que a troca de arquivos por meio de redes Peer to Peer (Ponto a Ponto) pôs em colapso a indústria do entretenimento? O que fazer para reconhecer as novas formas de arte que emergem da cultura digital? Como garantir a todos os cidadãos acesso à rede e aos computadores? Como preservar a língua portuguesa e estimular a produção de conteúdos nacionais?

Como diz o presidente da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), Nélson Simões, em uma frase que Gil popularizou, as jamantas da cultura necessitam de banda larga. Ou seja, conexão veloz de internet é cultura. Para ver, ouvir e trocar filmes, discos, séries de TV e o que mais for inventado para entreter o ser humano, divertir-se e/ou informar-se. É  hora de discutir a sério essa questão e organizar aqueles que lutam pela igualdade e pela inclusão social também no mundo digital.

Nas grandes redes

No Orkut, rede social invadida pelo público brasileiro, uma busca pela expressão “políticas públicas” retorna 54 grupos geridos pelos usuários, o maior deles com pouco mais de 600 membros. Apenas 15 comunidades estão articuladas em torno da expressão “cultura digital”. Há uma comunidade, no entanto, sobre cibercultura, que reúne mais de 7 mil participantes.

Inovação econômica, política e social

O projeto Territórios da Cidadania, do governo federal, vem utilizando a rede mundial de computadores para fortalecer as comunidades locais. Em Minas Gerais, a Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia, com o auxílio da empresa Peabirus, organizou “uma rede de prestadores de serviços e de conhecimento que, usando ferramentas e aplicativos”, pretende difundir nas comunidades os métodos inovadores da web para aprimorar processos econômicos, políticos e sociais.

Experiências pioneiras

O uso de redes sociais para a construção de políticas públicas é uma novidade, aqui e no mundo. A ideia está no ar. A Rede Humaniza SUS, criada para gerar colaboração entre os usuários do Sistema Único de Saúde, é uma experiência pioneira, que merece ser conhecida. Outra experiência que acaba de ser lançada é a rede da Câmara dos Deputados que leva o nome sugestivo de e-democracia. Seu objetivo é permitir que os cidadãos se envolvam diretamente no processo de elaboração das leis.

 

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