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Hoje é dia…

Entre resquícios da Idade da Pedra e desafios do século 21, caminham as mulheres

Ainda existem maridos e namorados que acreditam na violência física para se impor. O patrão ainda paga menos pelo mesmo trabalho que fazemos, e nada acompanha o seu cetro de rainha do lar, a não ser um trabalho infindável, desvalorizado e invisível. Por outro lado, questões novas exigem nossa urgente atuação, para preservar as condições necessárias à vida e à justiça social em nossa espécie, em nosso planeta.

Em que modelo de sociedade cabe a efetiva equidade entre os gêneros? Pagaremos nós, com mais trabalho, o preço pelos efeitos da crise econômica de que se fala? Continuaremos estimuladas a plantar e consumir transgênicos, agrotóxicos e a gordura trans que preserva a crocância dos biscoitos? Continuaremos alienadas do processo de decisão e representação política equitativa? Como agir para não nos limitarmos a cuidar das doenças resultantes dos desequilíbrios ambientais, provocados pela atitude voraz e devastadora de quem só pensa em concentrar renda?

Entre a Idade da Pedra e o século 21, já descobrimos que somos capazes de fazer tudo – e melhor. Falta-nos uma série de condições básicas para tornar viáveis as mudanças que se fazem necessárias e urgentes – mas sabemos improvisar, sabemos criar do nada. Hoje (8 de março) nos concedem um espaço na mídia, para dizer a que viemos – é “o dia” da mulher. Concorremos com as floriculturas e a propaganda que espera transformar a data em mais um dia de consumo especial – mas não em nosso nome.

Da segurança do aquário, com ondas se espalhando pela web, trazemos e discutimos essas questões – ora denunciando, ora alertando, ora mostrando e estimulando. Nosso programa de radioweb. Assim como nós, milhares de rádios comunitárias navegam pela contramão das notícias oficiais. Do fundo da floresta amazônica, do alto do espigão da Avenida Paulista, do cume das montanhas mineiras, com a voz e a coragem. É importante saber. É urgente pensar. É fundamental se posicionar. E tomar o destino em nossas mãos.

Momentos marcantes palmilham a história e nos mostram o caminho. A batalha pelo direito à educação. Pelo direito ao voto. Pelo controle do próprio corpo – que já se concedeu ao abolir a escravidão, mas ainda se nega às mulheres. Olympes de Gouges morreu no cadafalso, em plena Revolução Francesa, por defender os direitos das mulheres. Operárias têxteis morreram nos Estados Unidos reivindicando jornada e salário decentes. Outras tantas contabilizaram vitórias. Mulheres anônimas marcharam batendo em panelas vazias, empurrando e sustentando grevistas, iniciando ou engrossando a greve, a anistia, a manifestação, a democratização, a reivindicação. Textos, artigos, depoimentos, cursos, programas de rádio e TV, muita tinta, muitas ideias, muito papel, muitas formas.

O 8 de março é o Dia Internacional da Mulher. É dia de balanço e de denúncia, é dia de ousadia. Hoje é o dia.

Rachel Moreno é psicóloga e pesquisadora, presidente do Observatório da Mulher e diretora do Instituto Opinião. É colunista do Jornal Brasil Atual e apresentadora do programa Observatório da Mulher na radioweb Brasil Atual.