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Bola na rede

Augusto Coelho O iraquiano Ali Abu Taha costumava jogar bola num terreno pedregoso e irregular. O campo, em Ruweished, deserto da Jordânia, era de refugiados, não de futebol. Até que […]

Augusto Coelho

O iraquiano Ali Abu Taha costumava jogar bola num terreno pedregoso e irregular. O campo, em Ruweished, deserto da Jordânia, era de refugiados, não de futebol. Até que ele e sua família, juntamente com um grupo de 108 pessoas, deixaram o Iraque sob perseguição das milícias após a queda do regime de Saddam Hussein. Em setembro de 2007, depois de quatro anos de agruras na fronteira com a Jordânia, inóspita e foco de frequentes tempestades de areia, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) os reassentou em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo. Durante todo o tempo, Ali manteve o sonho de virar jogador profissional. Em maio passado, o atacante foi contratado pelo Brazsat, time que ajudou a levar da terceira para a segunda divisão no campeonato de Brasília.

Ali Abu Taha fez muitos amigos e já está totalmente à vontade com as gírias e com a nova condição: “Agora está tudo certinho, estou muito contente e treinando bastante. Aqui no Brasil há muitas pessoas boas”, diz, telegrafando o português. O treinador Alex Gomes garante que o novo reforço está cada vez melhor. “Ele chegou fora de forma porque não tinha onde jogar, mas hoje está no nível da equipe, com condição física, técnica e tática cada vez melhores.” O primeiro objetivo, a integração, já foi plenamente alcançado. Mas a jovem promessa quer ir além: “Tenho um sonho de jogar em time grande aqui no Brasil e depois ir para a seleção da Palestina”, revela Ali, primeiro refugiado a ser contratado por um clube brasileiro.