Em Transe

A melhor TV digital

Ela não é uma evolução da televisão. É mais parecida com um computador. E está em construção

divulgação

Os mais jovens são ávidos por tecnologias móveis e que combinam conteúdos

Clay Shirky, pesquisador norte-americano de novas mídias, escreveu um livro chamado Here Comes Everybody e mantém um blog com o mesmo nome. Em um texto publicado recentemente, ele compara a mídia no século 20 a uma corrida na qual só o que importa é consumir e indica que a mídia daqui para a frente será um triatlo, em alusão à modalidade esportiva em que os atletas nadam, pedalam e correm para cumprir a prova: “As pessoas consomem, mas também gostam de produzir e de compartilhar”. Ou seja, é uma mídia feita por e para todo mundo.

A TV Digital que se discutiu no Brasil, nos últimos anos – que consiste basicamente na migração do sistema de televisão aberta e gratuita do formato analógico para o digital – pertence a esse velho mundo que está ruindo. Ninguém, no fundo, quer uma televisão que continue a estimular a passividade do público, que não permita interação, que apenas ofereça uma qualidade de imagem melhor.

De acordo com dados do Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre divulgados em dezembro, quando o SBTVD fez um ano, apenas 150 mil receptores fixos foram vendidos no Brasil. A estimativa dos promotores do sistema é de que 600 mil pessoas tenham hoje acesso à TV Digital no país. Além disso, foi divulgado que a sonhada interatividade (o que poderia ser o diferencial da TV digital) só deve chegar – se chegar – em 2010.

Enquanto isso, uma outra TV Digital se estrutura no mundo todo, resultado da convergência do audiovisual com a internet. Uma TV Triatlo, para pegar a imagem construída por Shirky. Essa é a grande aposta de 2009. É assim que pensa Steve Balmer, sucessor de Bill Gates na Microsoft, conforme registrou o site G1: “Por mais de 60 anos, a TV se tornou o principal centro de entretenimento da família. Sua resolução das imagens melhorou, mas as funcionalidades se mantiveram praticamente as mesmas. Agora é a hora de TVs mais conectadas e do fim das barreiras entre televisão e computador”.

Um dos mais recentes exemplos dessa visão é o projeto [email protected], parceria do Yahoo! com a Intel, que consiste num conjunto de aplicativos que rodam integrados a vários modelos de aparelhos de televisão. Usando o controle remoto, o usuário de TV passa a navegar na web. Não se trata de transformar a televisão em um computador, mas de um formato híbrido. O presente ainda demonstra que a rainha dos lares brasileiros segue firme em seu trono. O futuro, no entanto, passa por aí.

A audiência dos telejornais, telenovelas e demais produtos das emissoras abertas até agora apenas sofreu arranhões. Mas, conforme reportagem publicada pela edição de novembro da revista Tela Viva, especializada no mercado de telecomunicações, o público plenamente satisfeito com a TV aberta está concentrado na faixa de idade com mais de 50 anos. Os mais jovens querem o triatlo (veja o gráfico).

Como será o amanhã

Ainda é difícil saber como será a TV do futuro, mas algumas experiências que estão em curso, no Brasil e no exterior, já apontam um caminho. Você já ouviu falar no Napster? O software que acabou com a indústria da música, por permitir às pessoas trocarem arquivos entre suas máquinas. E no Skype? O software que oferece ao usuário fazer ligações telefônicas pelo computador a custo zero. Pois bem, esses dois programas têm em comum o fato de utilizar Peer-to-Peer (ponto a ponto, ou, em tradução livre, pessoa a pessoa), tecnologia que permite às máquinas (consequentemente aos indivíduos) dialogar.

Essa ideia, aplicada à transmissão de arquivos audiovisuais, recebeu o nome de broadcatching e poderá ser o vilão definitivo da radiodifusão (broadcast). Um dos mais interessantes softwares de broadcatching é o Miro (www.getmiro.com), que você pode instalar em seu computador. Ele funciona em formato de compartilhamento de arquivos sob demanda e permite a “assinatura de canais”, alguns deles exclusivos. A maioria das ofertas é apenas em inglês.

Transmissão participativa

Desde setembro, a TV Cultura, no endereço www.radarcultura.com.br/rodaviva, promove transmissões experimentais participativas do programa de debates Roda Viva, às segundas-feiras à noite. Em uma página web são exibidos três vídeos, um deles com a transmissão “oficial”, outro com os bastidores (que ficam permanentemente no ar, inclusive antes e depois do término do programa) e outro que acompanha o cartunista Chico Caruso.

Nessa mesma página há também um chat e ambientes que reúnem mensagens postadas pela rede social Twitter (www.twitter.com) e fotos feitas na arena do programa por usuários da rede social Flickr (www.flickr.com). Nos intervalos, a repórter Lia Rangel invade a roda e faz aos entrevistados as perguntas propostas no chat ou pela Twitter. Essa interação tem agradado muito os participantes da experiência.

Current TV e Fiz TV

Lançada há dois anos pelo prêmio Nobel da Paz Al Gore, a Current TV (www.current.com) tem como diferencial uma programação produzida, em parte, pelos usuários. Funciona assim: você sobe um vídeo no site e o submete à aprovação da comunidade de usuários. Passada essa etapa, o conteúdo é avaliado por profissionais da Current. Se for bom, vai ao ar numa emissora de TV transmitida por satélite e cabo, nos Estados Unidos e na Inglaterra. É TV e é internet. No Brasil, a editora Abril lançou a prima pobre da Current, a FIZTV (http://fiztv.abril.com.br). O conteúdo da programação é construído pelos interatores e exibido para assinantes da TVA.