Em Transe

Desprezo pelo impossível

Ao comemorar dez anos, o fenômeno Google deveria nos?deixar com um pezinho atrás: pode nossa vida estar nas mãos?de uma única empresa, com tantos e tão necessários serviços?

google/divulgação

Page e Brin: garimpeiros de idéias simples e funcionais

Faz dez anos que Sergey Brin e Larry Page, os dois gênios por trás do maior sucesso empresarial da cultura digital, trancaram seus doutorados na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e foram para uma garagem tentar fazer dinheiro com a vigorosa ferramenta de busca que inventaram nas manhãs e madrugadas universitárias: o Google. A história dos dois é quase um chavão do capitalismo contemporâneo. Dois jovens inteligentes e ambiciosos, que dentro do ambiente de pesquisa e desenvolvimento da universidade têm uma grande idéia, recebem uma montanha de dinheiro de “anjos” (como são chamados os investidores das novas empresas por lá) e se tornam multibilionários.

No entanto, há algo de distinto na empresa de Brin e Page. Eles são mais simpáticos que o Yahoo!, muito mais bonzinhos que a Microsoft, mais famosos que a Sun… A que se deve isso? Talvez seja a forma como eles fazem as coisas, sempre passando a sensação de que o dinheiro é o menos importante. Ou a facilidade que eles têm de antever o que os outros querem antes da concorrência. Pode ser também o desprezo pelo impossível: nas falas públicas, Brin e Page sempre deixam claro que mudar o mundo é o objetivo que eles compartilham. Com certeza, é um pouco disso tudo, mais sorte e um cenário econômico favorável. Isso fez com que os dois empreendedores, agora na faixa dos 30 e poucos anos, escrevessem um capítulo da história.

No Brasil, o Google é responsável por três dos cinco maiores sucessos de público. O Orkut, criado por um dos engenheiros da empresa, é o maior fenômeno da web no Brasil. A já clássica ferramenta de busca está em segundo lugar e o YouTube, o site de vídeos on-line que começou numa garagem (seguindo o mesmo roteiro de sucesso), ganhou popularidade e foi comprado pelo Google, é o quinto da lista. Isso sem contar todos os serviços que utilizamos diariamente, como o Gmail (cliente de e-mails on-line), a agenda virtual, os leitores de RSS (Google Reader e IGoogle), o Blogger (ferramenta para a criação de blogs), o Picasa (para fotos), o Google Docs (que oferece editor de textos, software de planilhas e apresentações on-line), o Google News (jornal on-line que pode ser customizado pelo usuário), o Google Maps, o Google Earth… Sacou?

A lista vai longe. É como se, ao entrar na web, fosse impossível, para qualquer ser humano, não ser agarrado por um dos tentáculos da empresa, que se espalha em alta velocidade. Eles estão cada vez mais onipresentes, mais fortes e avançam sobre terrenos que antes não lhes interessavam. É bom que seja assim? Nessa década de existência do Google, há, evidentemente, aspectos bacanas, que devem ser destacados. Eles ajudaram a web a evoluir, a ser melhor, a oferecer boa parte daquilo que hoje faz a alegria de milhões de usuários ao redor do planeta. É como se a vida não existisse antes. Pensando nisso, como é que a gente fazia mesmo para encontrar o endereço daquele restaurante? Ou, como é mesmo o nome do presidente que governou o Brasil na virada do século 19 para o 20?

De repente, se informar se tornou fácil, rápido, a um clique. E tudo o que você quer fazer, o Google oferece, com charme, operando sem grandes arroubos de marketing. Tem hora que, realmente, eles nem parecem uma megacorporação. O único problema dessa história é que o Google é uma megacorporação. Uma megacorporação que acaba de lançar um browser, o Chrome, para competir com o Internet Explorer e o Mozilla Firefox, o que demonstra o objetivo dos rapazes de oferecer tudo aquilo que precisamos para uma qualificada interação homem-máquina. Acho que isso, aproveitando o momento de balanço, deveria nos deixar com um pezinho atrás. Ou não é demasiado arriscado deixar as nossas vidas nas mãos de uma empresa, uma única, com tantos e tão necessários serviços?

* Título emprestado do primeiro capítulo ?do livro Google, de David A. Vise e Mark Malseed, Ed. Rocco

Se a idéia é…

Um googol é o número 10100. Ou seja, o número 1, seguido de 100 zeros. Em princípio, não tem uma função. É uma forma diferente de dizer: “Isso é mais coisa do que a gente pode imaginar”. Para comemorar seus dez anos, o Google, cujo nome é inspirado no googol (com grafia diferente), criou o projeto 10100. A empresa separou US$ 10 milhões para premiar as melhores idéias que pretendem mudar o mundo, em oito categorias: comunidade, oportunidade, energia, desenvolvimento, saúde, educação, acolhimento e outros. As inscrições estão sendo feitas no site www.project10tothe100.com/

…mudar o mundo…

O Google também é uma das empresas que financiam o projeto 3BNetwork – Connecting the Other 3 Billion. Traduzindo: conectando os outros três bilhões. Trata-se de uma empresa de telecomunicações que pretende construir uma infra-estrutura de acesso para os 3 bilhões de seres humanos que vivem no planeta Terra e não têm acesso à internet. Por meio de comunicação via satélite e ondas eletromagnéticas, pretendem cobrir o globo terrestre com conexão de alta velocidade e garantir o fim da exclusão digital. No site www.o3bnetworks.com (apenas em inglês), falam em entregar a estrutura no final de 2010. Vale ficar atento.

Ao futuro

Uma das empresas do Google, o YouTube, líder em vídeos sob demanda, anunciou que vai, a partir do dia 22 de novembro, oferecer aos usuários a transmissão de vídeos ao vivo. Outros sites já fazem isso, como o Ustream (www.ustream.com), o Mogulus (www.mogulus.com) ou o Yahoo Live (live.yahoo.com/). O Google também entrou na disputa pelos celulares. Como os computadores que temos em casa, os aparelhos móveis também precisam de sistemas operacionais para rodar. O do iPhone foi desenvolvido pela Apple, a Nokia tem o Symbian e agora o Google criou o Android. O sistema “roda” por enquanto apenas no aparelho G1, da HTC, com serviço da operadora americana T-mobile. A idéia da empresa é permitir o uso do software nos demais aparelhos.