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Onde está o transgênico

Selo identificando a presença de organismos geneticamente modificados em alimentos, exigido desde 2004, começa a aparecer nos produtos

Marcello Casal Jr/ABr

O consumidor que costuma ler os rótulos antes de comprar vai encontrar uma novidade nas prateleiras dos supermercados. O decreto que obriga empresas a identificar produtos que contêm componentes transgênicos (ou OGM, organismos geneticamente modificados), regulamentado em 2004, está se tornando realidade. A lei se aplica apenas aos alimentos com mais de 1% de OGM em sua composição, e as empresas garantiam, desde sua aprovação, que nenhum produto possuía mais de 1% de transgênicos – portanto, não teriam a obrigação de colocar o selo.

Em setembro passado, porém, o Ministério Público de São Paulo, baseado em denúncia feita pelo Greenpeace, entrou na Justiça com uma ação civil pública exigindo a rotulagem dos produtos. A partir de então, a gigante multinacional Bunge decidiu rotular os óleos de soja. Mesmo assim, enviou a seguinte ressalva ao Greenpeace, por meio da sua diretoria corporativa: “Como nós entendemos que pode eventualmente haver alguma preocupação por parte de alguns consumidores (…) resolvemos agir pró-ativamente e rotular nosso óleo de cozinha Soya, mesmo sabendo que os óleos vegetais não contêm nem 1% de componente transgênico (…) para melhor atender consumidores que considerem isso relevante”.

Dessa forma, rótulos das embalagens dos óleos Soya e Primor ganharam a indicação de substâncias transgênicas em sua composição. Pouco tempo depois, a Cargill também anunciou a colocação do selo em seus óleos Liza e Veleiro. O selo é um triângulo amarelo com a letra T e a frase “Produto produzido a partir de soja transgênica”. A soja, com OGM ou não, está presente, para se ter uma idéia, em margarinas, maioneses, chocolates e diversos tipos de biscoito. Por enquanto, apenas os óleos estão recebendo o indicativo de transgênicos, mas a tendência é que se estenda a outros produtos.

bolo

Transgênicos são perigosos?

É um direito do consumidor ter a informação para que possa optar ou não pela compra de um alimento que leve transgênicos em sua composição. Na maioria das vezes, o objetivo da mudança nos genes de uma semente é torná-la resistente a pragas e também aos efeitos colaterais dos agrotóxicos. Porém, existe o temor de que as pragas desenvolvam resistência aos agrotóxicos e isso exija um maior número de pulverizações ou uma maior quantidade de herbicida para mantê-las sob controle. 

Na visão dos ambientalistas, essa resistência extra da semente transgênica também representa uma ameaça à variedade tradicional. O problema é que uma lavoura transgênica pode “contaminar” uma plantação tradicional nas proximidades. Se, por acidente, o pólen da planta transgênica entra em contato com a planta natural, ele altera o DNA do espécime tradicional, que assim se transforma em transgênico. Esse tipo de acidente pode reduzir a presença da cultura convencional e, com isso, diminuir a biodiversidade.

Com a redução da biodiversidade, isto é, a redução do número de variedades, corre-se o risco de uma praga ficar resistente ao herbicida. Seria mais ou menos como se todos os seres humanos fossem idênticos geneticamente. Eles reagiriam de forma semelhante a todas as doenças. E, se houvesse um vírus para o qual não tivessem resistência, esse vírus aniquilaria toda a humanidade. Isso não acontece na realidade porque somos todos diferentes; enquanto um reage bem à gripe, outro tem capacidade de combater a conjuntivite, e assim por diante. No caso das plantas, também é importante preservar a diversidade genética para que se possa combater doenças e pragas.

A polêmica dos transgênicos tem levado a discussões acaloradas, mas conclusões definitivas ainda não existem. Isso coloca o consumidor consciente na difícil posição de refletir sobre o que considera mais importante, entre os diversos fatores presentes na questão dos transgênicos, e tomar a decisão que em seus valores e visão de mundo tenha menor impacto negativo e maior impacto positivo.

Texto produzido e cedido pelo Instituto Akatu pelo Consumo Consciente www.akatu.com.br