Resumo

Trabalho escravo

A Pagrisa, usina de açúcar e álcool do Pará, comemorou recorde de produção em agosto, apesar da “crise” causada pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Qual crise? Em mais de […]

A Pagrisa, usina de açúcar e álcool do Pará, comemorou recorde de produção em agosto, apesar da “crise” causada pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Qual crise? Em mais de 12 anos de atuação, o grupo móvel de fiscalização ao trabalho escravo retirou 25 mil trabalhadores de situação análoga à escravidão; a maior operação, em junho, alcançou 1.064 empregados. Onde? Na Pagrisa. Um grupo de senadores ligados ao agronegócio contestou os resultados e foi visitar a usina, mais para fiscalizar a fiscalização do que as condições dos trabalhadores. Kátia Abreu (DEM-TO) quer rediscutir o conceito de trabalho escravo e “compatibilizar legislação para garantir emprego”.

Compatibilizar a lei para que não haja inconveniente em alojamentos superlotados? Jornadas de até 14 horas? Falta de água potável? Humilhações e ameaças? A secretária de Inspeção do Trabalho do MTE, Ruth Vilela, suspendeu as ações do grupo móvel, temendo que essa tentativa de desqualificar a fiscalização agrave a situação de risco em que vivem os integrantes do grupo móvel (agentes da PF, do MTE, Ministérios Públicos do Trabalho e Federal), freqüentemente ameaçados por fazendeiros. O MTE aguarda posição da Advocacia-Geral da União sobre as reações do Senado para retomar as operações, que fazem do Brasil referência internacional no combate ao trabalho escravo.

Avanços no Fórum

O Fórum Nacional da Previdência ainda não terminou. Mas previsões e pressões por reforma que volte a atacar direitos não se confirmaram. Até aqui a CUT, que tem levado o Fórum a sério, conseguiu emplacar alguns consensos entre os representantes das centrais, dos empresários e do governo federal: o piso dos benefícios permanece vinculado ao salário mínimo; as regras continuam diferenciadas para homens e mulheres; tempo de recebimento de seguro-desemprego será contado como tempo de contribuição; é preciso criar mecanismos que facilitem a adesão e inclusão de mais trabalhadores no sistema e agilizar a cobrança dos devedores; empreendimento privado que receber crédito público deve gerar empregos formais; a gestão da Previdência deve ter participação da sociedade.

Que é isso, companheiro?

O governo teve de se desdobrar entre opositores e aliados para prorrogar a CPMF até 2011. Lula, opositor do imposto, quando criado, verificou que o governo não se preparou para conseguir viver sem ele. Falta um plano que aponte a redução gradual de seu peso no orçamento da União e no bolso dos brasileiros, até se tornar algo irrisório, que preserve apenas a função de patrulhar movimentações financeiras e combater a sonegação. As centrais sindicais também dão seu puxão de orelha pela lição de casa não feita. Na reunião do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, no último dia 20, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopez Feijóo, defendeu o fim dos 0,38% da CPMF sobre os salários.

Raquel CamargoIvalda
Ivalda: “Quero meus direitos”

Questão de honra

Ivalda Silva (foto) nasceu em Alagoinha (PE), tem 42 anos e chegou com a família a São Paulo quando tinha 3. Enquanto parentes e amigos logo tiraram proveito da emergente indústria automobilística, o emprego com que sonhava só viria em 1993, na fábrica de autopeças Fris Moldu Car, em São Bernardo. Começou uma era de muitas realizações. Até que uma amiga de fábrica precisou sacar o FGTS, em 2000, e descobriu que a empresa não o recolhia. Com o tempo, a cesta básica foi cortada e Ivalda passou a pagar pelo plano de saúde. Há um ano, com 260 funcionários, a empresa parou de pagar salários e direitos trabalhistas. Os administradores são acusados de saquear a fábrica. Um grupo de empregados acampa em frente ao portão há sete meses, para que os donos não tirem nenhum patrimônio. O grupo não desiste. “É questão de honra. Quero meus direitos. Só isso”, desabafa Ivalda. Ela espera que a fábrica ainda retome a produção, mas em forma de cooperativa, sob controle dos trabalhadores.

valter camapnato/abrProtesto
Protesto: 19 mil empregos ameaçados

Fusão e ebulição

Bancários de todo o Brasil estiveram entre os dias 25 e 27 de setembro em Brasília para cobrar do Executivo e do Congresso regras contra demissões em massa caso se concretize a compra do banco ABN Amro pelo espanhol Santander. A direção do Santander já previu 19 mil degolas em todo o mundo. Como na Europa há acordos e leis mais rígidos na proteção ao emprego, os brasileiros temem que as demissões se concentrem por aqui, onde o ABN controla o Real e não há leis que regrem processos de fusão entre empresas. Os sindicalistas cobram reconhecimento à Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho, que obstrui demissões imotivadas. Conseguiram apoio de parlamentares e do Ministério do Trabalho. O assunto assunto será aprofundado na Comissão de Trabalho da Câmara.

Mundo animal

Atlético x Cruzeiro é rara oportunidade de ver mineiro nervoso. Mês passado, finzinho de um 4 a 3 para o Cruzeiro, o jovem atacante Kerlon (foto) faz a sua jogada característica: avança contra a área adversária “petecando” a bola com a cabeça. Por causa do drible da foca, o atacante da Raposa levou um safanão do zagueiro Coelho, do Galo, que acabou suspenso pelo tribunal desportivo – por 120 dias em primeira instância, mas no fim por cinco jogos. O agressor até recebeu manifestações de solidariedade. Um zagueiro carioca disse que chutaria a cabeça da foca. Assim caminha o futebol-arte.

Irado pero no mucho

A reação às declarações do presidente da Philips – de que o Piauí não faria falta se sumisse do mapa – ainda rende frutos. Para o megaempresário João Claudino, a ira popular foi oportuna. Dono da principal rede de lojas de departamentos de Teresina, o barão tirou os produtos Philips de suas prateleiras. Mas Claudino os mandou para lojas que mantém em outras cidades do Nordeste, segundo gente bem informada da capital. E, enquanto espera a raiva passar, negocia preços e melhores margens de lucro com o fabricante.