neoliberalismo

Brasil e Argentina confirmam vigência de direita e esquerda

Governos de Mauricio Macri e de Michel Temer têm seu núcleo em equipes econômicas que aplicam o mesmo programa econômico dos anos 1980 e 1990

PRESIDÊNCIA DA ARGENTINA/DIVULGAÇÃO

Temer e Macri: governos atacam frontalmente as realizações dos antecessores, que representam seu contraponto

A queda do Muro de Berlim representou, para alguns, um álibi para se distanciar da polarização entre direita e esquerda. Antes, era necessário um processo mais traumático de abandonar a esquerda – com críticas ao “estalinismo”, à URSS e outros temas afins – e aderir à direita.

A partir daquele momento, entrou-se na era do “pós”: pós-moderno, pós-capitalista, “pós-tudo”. Entre eles, o pós-esquerda e direita. Os paradigmas estariam superados,  não haveria mais direita e esquerda. Surgiram conversões de partidos de esquerda para o centro ou diretamente para a direita.

Uma nova geração de líderes assumiu esse novo lugar. Tony Blair foi um dos que surgiu para ocupar essa “terceira via”, entre o estatismo e o mercado, buscando superar as polarizações anteriores. Por aqui, Marina Silva e, em geral, os líderes ecologistas se somaram a modalidades dessa via.

Mas quando governos de esquerda são substituídos por governos de direita – que em geral não se assumem como direita, porque “é feio” –, o que eles realizam enquanto poder público, embora prometam manter avanços dos seus antecessores de esquerda, são caricaturas dos modelos mais exacerbados da direita.

Os casos recentes da Argentina e do Brasil recolocam com força não apenas como a direita assume seu programa histórico de governo mas como, em contrapartida, os governos que foram substituídos por eles representam o programa histórico da esquerda – como se previa, o retorno da direita representa processos de restauração neoliberal.

Na América do Sul,  Mauricio Macri e Michel Temer têm seu núcleo em equipes econômicas que aplicam o mesmo programa dos anos 1980 e 1990, centrado em duros ajustes fiscais, processos de privatização de patrimônios públicos, ataque aos direitos dos trabalhadores e às políticas sociais. Colocam em prática o projeto da direita no período histórico em que o capitalismo assume o neoliberalismo como seu eixo central.

Esses governos atacam frontalmente as realizações dos governos que os antecederam, que representam seu contraponto. A direita busca desfazer tudo o que a esquerda fez enquanto foi governo: reinstaurar o Estado mínimo e a centralidade do mercado; fazer do ajuste fiscal o ponto em volta do qual tudo gira, relegando as políticas sociais a um lugar intranscendente; rebaixar o custo da força de trabalho mediante corte nos direitos dos trabalhadores; manter uma política internacional de baixo perfil, de subordinação aos interesses dos Estados Unidos.

O cenário político desses países se configura em torno do modelo neoliberal, por um lado, e da alternativa anti-neoliberal, de outro. Da alternativa da direita e da alternativa da esquerda.

Para quem pretendia ter equidistância em relação aos partidos da direita e aos governos do kirchnerismo e do PT, não sobrou espaço político alternativo. A centralidade da referência ao modelo neoliberal no período histórico atual do capitalismo faz com que essas sejam as duas grandes alternativas que se enfrentam em todos os países: a neoliberal, de um lado, e a anti-neoliberal – ou pós-neoliberal – de outro.