Eleições 2018

Marinho: ‘Golpistas se transformaram em nosso grande cabo eleitoral’

No programa 'Roda Viva', pré-candidato petista faz desagravo a Manuela, reafirma candidatura de Lula e diz que a disputa em São Paulo está aberta: 'Estaremos no segundo turno'

Divulgação

Pré-candidato petista ao governo de São Paulo diz que PSDB, há duas décadas no poder, deixou ‘gargalos’ em todas as áreas

São Paulo – Pré-candidato do PT ao governo do estado de São Paulo, o ex-prefeito e ex-ministro Luiz Marinho afirmou no programa Roda Viva, da TV Cultura, que “os golpistas do impeachment se transformaram em nosso grande cabo eleitoral”, na medida em que a situação do país piorou depois da saída de Dilma Rousseff, em 2016, enquanto diziam que era só tirar a presidenta que “tudo se resolveria num passe de mágica”. Marinho reafirmou a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República: “Vamos registrá-lo em 15 de agosto”. Disse ainda que a disputa em São Paulo “está totalmente aberta” e que estará no segundo turno.

O programa de entrevistas foi ao ar excepcionalmente na noite desta quarta-feira (4) – é exibido às segundas. Segundo a emissora pública, para que haja tempo de ouvir todos os candidatos, devido ao calendário eleitoral. Logo no início, Marinho pediu licença ao âncora, Ricardo Lessa, para fazer um “desagravo” à pré-candidata do PCdoB à Presidência, Manuela D´Ávila, interrompida dezenas de vezes em um recente Roda Viva. Segundo ele, o episódio revelou “machismo, preconceito, misoginia”.

O petista quase não foi interrompido. Fizeram parte da bancada de entrevistadores, além de Lessa, os jornalistas Pedro Venceslau (O Estado de S. Paulo), Sérgio Roxo (O Globo), Evaldo Novelini (Diário do Grande ABC) e Luciana Araujo (veículo não apresentado – é coordenadora de comunicação do Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Federal no Estado de São Paulo, o Sintrajud), além do cientista político Rubens Figueiredo, que em sua página na internet se apresenta como diretor do Cepac, empresa de pesquisa e comunicação, e coordenador de conteúdo da Fundação Espaço Democrático, ligada ao PSD.

Consórcio PSDB-MDB

As perguntas se concentraram na administração de Marinho como prefeito de São Bernardo do Campo, no ABC paulista – durante duas gestões –, e seus planos para o governo estadual, além da política de alianças para as eleições. Ele repetiu suas críticas ao governo tucano que comanda São Paulo há mais de duas décadas. “Em 24 anos, eu brinco que é possível fazer chover”, ironizou, para acrescentar que mesmo à frente do estado durante todo esse o PSDB deixou “gargalos” em todos os setores. Durante o programa, o petista se referiu várias vezes ao “consórcio PSDB-MDB” como responsável pelo golpe de 2016.

Segundo ele, a prioridade de seu governo será a educação, “casado com esporte, cultura e tecnologia”. Marinho assumiu o compromisso de, em quatro anos, dobrar o salário inicial dos professores, criticando a política do governo tucano no estado. O petista não se mostrou preocupado com os 3% de intenção de votos, lembrando que também tinha esse percentual quando se lançou candidato a prefeito – e ficou perto de ganhar no primeiro turno, vencendo o segundo com 59% dos votos. “Eu tenho confiança de que podemos disputar para valer. Pesquisa é que nem fotografia, é o retrato do momento.”

Sobre uma pergunta a respeito de contas atrasadas na prefeitura de São Bernardo, disse que o atual prefeito, o também tucano Orlando Morando, “mente demais, parece uma prática do PSDB”, e disse ter deixado uma cidade “com planejamento”. Marinho afirmou que o Tribunal de Contas aprovou suas contas em 2015, ao comentar que “estranhamente” a Câmara Municipal as rejeitou, “no calar da noite”. O ex-prefeito lembrou ainda que melhorou os indicadores sociais da cidade e investiu em habitação acima da média nacional. “Seguramente, se fizermos de forma transparente e participativa, é possível fazer muito mais”, comentou, sobre a gestão estadual.

Outra questão recorrente foi sobre possíveis dificuldades do PT em São Paulo e a influência de Lula. “A Lei da Ficha Limpa não proíbe a candidatura do presidente Lula. Nós, em 15 de agosto, registraremos a sua candidatura a presidente da República. Aqui em São Paulo temos uma disputa que está totalmente aberta”, afirmou. Para Marinho, o partido está em recuperação, depois de momentos difíceis, principalmente no período do impeachment, após uma “eleição dura em 2014” e de ficar “no fundo do poço em 2016”, sofrendo o que chamou mais de uma vez de “massacre midiático”.

Marinho sustentou que é possível fazer mais, inclusive aumentar o orçamento, com planejamento, investigando em inteligência e reforçando a fiscalização, para combater a “corrupção sistêmica” e a sonegação no estado. Questionado, o ex-ministro do setor disse que a Previdência sempre precisará de ajustes, “mas o que o Temer quis fazer não foi ajuste, foi desmonte, para vender mais previdência privada”.

Em outra pergunta, Marinho foi apontado como contrário à “modernização” representada pela nova lei trabalhista. “Eu sou a favor da modernização. Sou contra o desmonte das relações de trabalho.” O ex-presidente da CUT e do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC lembrou que a “reforma” não criou empregos, algo que depende da dinâmica econômica. “Você gera emprego quando cria demanda.”

Mas a presidenta Dilma não errou?, quis saber um entrevistador. “A própria presidenta Dilma disse, numa entrevista, que a desoneração foi um excesso”, respondeu Marinho, para ressaltar, em seguida, que nenhum eventual erro do governo justificaria o processo de impeachment. “Na verdade, rasgaram a Constituição”, afirmou.

O pré-candidato petista defendeu também valorização da polícia e aumento do efetivo – segundo ele, parte que atualmente se encontra na “burocracia” será deslocada para atividades de rua. Ao mesmo tempo, pregou “outra orientação” na abordagem policial à população, principalmente na periferia, e investimento “pesado” em educação para combater a violência.

Outra pergunta foi sobre a alianças. Um repórter afirmou que havia conversas “avançadas” entre PCdoB e PDT em São Paulo e perguntou também sobre o PSB. “Tem muitas coisas que se anunciam na imprensa que não são bem assim. Eu costumo dizer o seguinte, tem muita água para passar debaixo dessa ponte. Vamos aguardar as convenções? Teremos surpresa em relação às alianças partidárias”, disse Marinho. Ele poderia abrir mão de sua candidatura em favor do atual governador, Márcio Franca, em nome de uma aliança nacional com o PSB? “São Paulo não está nessa rodada de debate.”

Alianças

Ele ressaltou que há “chance zero” no estado de alianças com “partido golpista”. Sobre conversas com o MDB em outros estados, afirmou que o partido é uma “federação” e que alguns de seus representantes foram contra o impeachment, caso do senador paranaense Roberto Requião. A respeito de uma possível aliança entre Ciro Gomes e o DEM, disse que não responde pelo candidato do PDT e que “de forma alguma” haverá acordo DEM/PT. E, mais uma vez, reiterou que não há plano B ou C. “Nem Haddad, nem Jaques Wagner. Ele (Lula) é o nosso candidato. Nós vamos inscrever o Lula.”

Sobre eventual perda de eleitorado petista no período recente, Marinho respondeu que boa parte já voltou a apoiar a legenda, que teve crescimento em pesquisas de preferência partidária. “A vida não é tão simples.” Ele falou ainda sobre obras em sua gestão, citando especificamente o Museu do Trabalhador, cuja construção foi interrompida após investigações. “Eu desafio qualquer um a provar qualquer desvio nessa obra. Se tem uma coisa que eu me arrependo nestes oito anos de governo, foi não ter acabado essa obra.”

No pingue-pongue final do programa, Marinho citou Lula como ídolo e destacou a música Meu Reino Encantado, com o cantor Daniel, e o livro Invictus – conquistando o inimigo, sobre Nelson Mandela. Sua frase escolhida foi “Só quem dialoga constrói pontes e vínculos”.

 

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