Eleições 2018

Entrega do petróleo após mudança do regime de partilha será desfeita, diz Ciro

Em sabatina realizada pela Abimaq, pré-candidato do PDT afirmou que promoverá debate entre trabalho e capital para rever pontos 'aberrantes' da reforma trabalhista

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“Se a empresa se sente fragilizada, imagine o trabalhador, com 13,7 milhões de desempregados”

São Paulo – Em sabatina promovida pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), em São Paulo, o pré-candidato pelo PDT à Presidência da República, Ciro Gomes, afirmou que, se eleito, todas “as entregas” do petróleo depois da mudança da lei de partilha vão ser desfeitas. Os campos de petróleo comprados por multinacionais serão “desapropriados, com a devida indenização”. Ele disse ainda que enviou uma carta à Boeing pedindo para que a empresa norte-americana não consolidasse o negócio de compra da Embraer.

Um dos momentos polêmicos do evento, que se tornou um debate entre o pedetista e pessoas da plateia, foi a discussão da reforma trabalhista aprovada durante o governo de Michel Temer. Segundo Ciro, a reforma tem coisas boas mas tem “aberrações e defeitos de origem”. “Esses defeitos exigem conversa, para que não fique uma parte derrotada e humilhada e a outra com uma vitória de Pirro”, disse Ciro. De acordo com ele, uma das coisas aberrantes é o artigo que pode “alocar uma grávida num ambiente insalubre, se o patrão entender que não é insalubre”.

Ele afirmou que seu compromisso “não é conservar coisas erradas do passado, mas trazer a bola de volta ao centro do campo e fazer uma discussão. Não sou contra uma reforma, sou contra esta reforma. Não é revogar pura e simplesmente, mas convocar um diálogo aberto (entre trabalho e capital) e modernizar o Brasil”.

Questionado sobre a “fragilidade” de pequenas e médias empresas diante de sindicatos fortes de trabalhadores, o pré-candidato respondeu: “Se a empresa se sente fragilizada, imagine o trabalhador, com 13,7 milhões de desempregados.Tem que se proteger o lado mais fraco. Me comprometi com os sindicatos a botar a bola no meio de campo para conversar. A parte historicamente mais frágil é a parte do trabalho”.

“Se você introduz insegurança jurídica e econômica, você está matando a lógica do capitalismo de massa, que se afirma no consumo de massa. E o consumo de massa se afirma na renda. Se eu destruo a renda, não tenho escala para a economia.”

Ele foi também perguntado como governaria um país em crise político-institucional em um sistema conhecido como “presidencialismo de coalisão” falido. “Desde o general Dutra, todos os presidentes eleitos o foram com minoria no Congresso. É inerente à federação.”

Porém, afirmou que todos os presidentes desde o período Dutra (1946-1951) “tiveram poderes quase imperiais por seis meses”. Inclusive Fernando Collor (1990-1992), que adotou medidas autoritárias, como o sequestro de ativos. “O Congresso engoliu, o Judiciário engoliu e o povo bateu palma. O tempo da reforma são os seis primeiros meses. Tem que aproveitar esses seis primeiros meses”. Em sua opinião, “o Brasil está pronto para uma convergência”.

Mas, para o pré-candidato, o próximo governo vai herdar um país que virou “uma babel”, no qual não há segurança jurídica e 63 milhões de pessoas estão com os nomes em serviços de proteção ao crédito, por exemplo. “Pelo consumo das famílias não é provável que venha crescimento. O endividamento privado está em R$ 2 trilhões de divida, mais de R$ 600 bilhões de potencial inadimplência e o Brasil está em um colapso fiscal.”

Para piorar, segundo sua avaliação, “parece inevitável” que se o crescimento se aproximar de meros 2% do PIB, o Brasil teria uma crise cambial. “E voltamos a manipular a taxa de câmbio, o que me parece próximo do crime.” Ele defendeu uma reforma tributária que desonere a produção e declarou que não tem nada contra o mercado, “mas o mercado não sabe promover o desenvolvimento”.

Afirmou ainda que um de seus compromissos é recapitalizar o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “País como o nosso precisa de um banco de fomento.” Segundo ele, o país teve ‘a sorte’ de o governo Temer não ter conseguido tirar do banco R$ 200 bilhões como pretendia. “Mas conseguiu tirar 100.” Para Ciro, é possível recuperar o banco, “se ele não chegar morto” ao próximo governo.