Eleições 2018

Campanha pretende aumentar número de mulheres nos parlamentos do país

No Brasil, numa Câmara Federal com 513 deputados, apenas 10% são mulheres, enquanto, no Senado, o sexo feminino tem 16% de representação, entre 81 parlamentares. Feministas criam uma rede de apoio para candidaturas

Midia Ninja/Reprodução

Mesmo em partidos políticos de esquerda, representação feminina está muito abaixo de sua presença na sociedade e da importância das lutas pelos direitos das mulheres

São Paulo – O Brasil ocupa o 154º lugar entre 193 países no ranking de igualdade de gênero no parlamento, considerando a Câmara dos Deputados. O país tem apenas 10% de deputadas em exercício, o dobro da representação na Câmara que elaborou a Constituição de 1988. No Senado, são 13 mulheres entre 81 parlamentares (16%). Nas Câmaras municipais, há sete vereadores homens para cada mulher. Primeira mulher chefe de Estado do país, a presidenta Dilma Rousseff foi deposta por um impeachment cujo processo não provou crime algum.

A primeira mulher eleita para um governo estadual no país foi Roseana Sarney, apenas em 1994. O cargo de governadora foi ocupado por apenas 10 mulheres na história brasileira. No caso das mulheres negras, elas não chegaram a 1% de candidaturas na disputa por prefeituras nas eleições de 2016. No Congresso Nacional, não há mulheres indígenas ou trans.

Só em 24 de fevereiro de 1932 as mulheres puderam votar no Brasil, e mesmo assim com várias restrições: somente mulheres casadas e com autorização dos maridos, além de viúvas e solteiras com “renda própria” podiam exercer o direito, que foi ampliado em 1934, com a eliminação das restrições ao voto feminino. 

Pensando em transformar essa realidade, militantes feministas lideradas pela Mídia Ninja criaram a Campanha de Mulher, projeto de comunicação cujo objetivo é apoiar mulheres candidatas nas eleições de 2018. O objetivo, diz o coletivo, é dar “suporte operativo” (design, fotografia, audiovisual, assessoria de imprensa, redes sociais) e “romper com a ideia de que mulheres não pertencem à política”. O movimento convida comunicadoras e pré-candidatas para “provar que política é coisa de mulher”, reunindo ativistas e pré-candidatas feministas para eleger mulheres.

“A situação que temos no Brasil hoje advém da própria estrutura da sociedade. Desde pequenas, as mulheres são ensinadas a estar no espaço privado, e não no espaço público. Por isso é difícil ver mulheres na política. Nossa ideia com a campanha liderada pela Midia Ninja é chamar a atenção e criar uma rede de apoio para candidaturas femininas”, afirma Carina Vitral, ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) e pré-candidata a deputada estadual pelo PCdoB.

“Se não temos financiamento de grandes empresas e dos poderosos, vamos ter uma rede de solidariedade em comunicação, pessoas e militantes que possam ajudar voluntariamente nas campanhas”, acrescenta.

Mas Carina explica que, para participar da Campanha de Mulher, as candidatas têm de estar  comprometidas com pautas que influenciam a vida das mulheres diretamente, como empregabilidade, direitos reprodutivos, licença maternidade, creches, educação e políticas voltadas para as mulheres de modo geral. “À medida que a gente tenha mais mulheres na política, o comprometimento com essas pautas será maior. Mas não são todas as mulheres que se candidatam que estão comprometidas com essas pautas.”

Para a vereadora Juliana Cardoso (PT), as mulheres seguem sem o devido espaço nos partidos políticos. “Em todos eles, por mais que tenhamos partidos de esquerda”, ressalta. Pré-candidata a deputada federal pelo PT, Juliana considera muito bem-vinda a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que, em maio, definiu que as agremiações partidárias devem repassar 30% dos recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) para candidaturas de mulheres.

A vereadora acredita que a decisão do TST deve proporcionar mais estrutura às campanhas femininas, e destaca o papel da imprensa alternativa na divulgação das candidaturas. “Toda a mídia alternativa é extremamente importante para romper a bolha da imprensa, que só dá espaço para os homens e coloca as mulheres em subgrupos”, diz Juliana.

Carina Vitral lembra que não é por ser uma campanha de mulheres feministas  que os homens não podem dar seu apoio. “Tem muitos eleitores homens que estão sensibilizados com essas questões, que podem procurar votar em mulheres para superar as desigualdades. Essa não é uma campanha destinada somente às mulheres, mas a toda a sociedade, para acabar com a desigualdade de gênero na política.”

Hoje, há 10 países cujos chefes de Estado são mulheres: Chile, Croácia, Estônia, Ilhas Marshall, Libéria, Lituânia, Malta, Ilhas Maurícias, Nepal e Taiwan. As nações governadas por uma primeira-ministra são sete: Alemanha, Bangladesh, Namíbia, Noruega, Polônia, Reino Unido e Escócia.

Assista ao vídeo de lançamento da campanha:

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