Na Segunda Turma

Dilma: ‘Processo contra Gleisi tem todas as características de uma farsa’

Em nota, ex-presidenta afirma que senadora 'passou a ser o principal alvo da perseguição jurídica e política que levou ex-presidente Lula à prisão'. Gleisi será julgada nesta terça no STF

Divulgação/Facebook

Lula, Gleisi e Dilma, três dos principais alvos da perseguição do sistema de Justiça do país nos últimos anos

São Paulo – “O processo contra Gleisi, o ex-ministro e ex-deputado federal Paulo Bernardo e o empresário Ernesto Kugler tem todas as características de uma farsa – repleta de mentiras evidentes e depoimentos contraditórios.” A afirmação é da ex-presidenta Dilma Rousseff, sobre a ação penal em que a senadora Gleisi Hoffmann é acusada pela operação Lava Jato de participar do “esquema da Petrobras”. Ela será julgada nesta terça-feira (19) pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), composta pelos ministros Ricardo Lewandowski (presidente), Celso de Mello, Gilmar Mendes, Edson Fachin e Dias Toffoli.

Segundo Dilma, a presidenta nacional do PT “passou a ser o principal alvo da perseguição jurídica e política que levou o ex-presidente Lula à prisão”. Ela afirmou que a farsa consiste no fato de que os acusadores tornaram-se delatores premiados para obter vantagens jurídicas, como a própria  liberdade, e o acesso aos recursos financeiros  ilegalmente obtidos.

“Estão, portanto, dispensados de restituir o que roubaram. Esta situação absurda – criminosos confessos forjando acusações contra inocentes em troca da impunidade — é parte ponderável das investigações baseadas em delações premiadas sem quaisquer provas.”

A ex-presidenta da República lembrou na nota que os acusadores de Gleisi, ao longo do tempo, mudaram suas versões, feitas originalmente em 2014, à medida em que iam sendo desmentidas pelos fatos, embora as delações já tivessem sido “criminosamente” divulgadas para a mídia. “O inquérito aberto pela PF era secreto  e, no entanto, foi vazado para a  imprensa a fim de destruir a reputação dos acusados, notadamente Gleisi Hoffmann”, acrescenta Dilma.

“Ao mesmo tempo em que a polícia e os acusadores não apresentavam prova alguma, a defesa demonstrou, de maneira cabal, que: a) Gleisi nunca recebeu dos delatores mentirosos recursos para a sua campanha ao Senado em 2010; b) Gleisi não poderia jamais ser acusada de corrupção passiva, como foi, porque não exercia nenhum cargo público na época do suposto episódio; c) é mentira, portanto, que Gleisi tenha praticado algum ato de ofício para beneficiar quem quer que seja em troca de dinheiro, inclusive porque, na época do suposto crime, sequer conhecia o executivo da Petrobras que teria sido beneficiado por ela.”

Dilma lembra ainda que o inquérito da Polícia Federal contra a senadora petista foi montado com informações obtidas a partir da quebra do sigilo telefônico sem autorização da Justiça. “Em todos os sentidos que se possa examinar, a ação contra Gleisi é um processo de exceção, arbitrário, autoritário e, neste sentido, ilegal e abusivo.”

Para ela, como Lula, Gleisi é vítima de lawfare e “é a vítima da vez porque é uma política relevante do campo progressista, é presidente nacional do PT e é interlocutora importante de Lula”. Dilma conclui afirmando esperar que, “pelo bem do nosso País, se faça justiça aos acusados”.

Na opinião do jurista Pedro Serrano, na Segunda Turma do STF Gleisi tem chance de ser inocentada. Porque, para ele, esse colegiado é composto por alguns ministros “mais preocupados em aplicar a lei e a Constituição”, como Lewandowski, Gilmar Mendes e Celso de Mello. Em nota, na semana passada, Gleisi afirmou estar serena em relação ao julgamento.

Segundo a defesa da senadora, as delações contra ela são contraditórias e inconsistentes. O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, por exemplo, disse ter ouvido do doleiro Alberto Youssef que teria sido procurado por Paulo Bernardo, pedindo R$ 1 milhão para a campanha eleitoral. Por sua vez, Youssef afirmou que Paulo Roberto, e não ele, fora procurado por Bernardo. Depois, Paulo Roberto alegou que Alberto Youssef não lhe disse se foi o próprio Paulo Bernardo ou algum interlocutor que o procurou.

Youssef apresentou versões diferentes sobre a suposta entrega do dinheiro. Primeiro, afirmou ter entregue pessoalmente R$ 1 milhão a um intermediário em seu escritório em São Paulo. Em outro momento, a versão era de que o dinheiro foi entregue “em duas ou três” parcelas. E, na última, sob risco de sua delação ser anulada, Youssef apresentou o amigo e sócio Antônio Pieruccini como suposto portador, até Curitiba, de quatro parcelas de R$ 250 mil, que teriam sido entregues ao empresário Ernesto Kluger.