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Diante de política ‘nazista’ de Trump, governo Temer tem posição apenas formal

Para professora da Uerj, com 51 crianças brasileiras isoladas de seus pais por medida do presidente dos Estados Unidos, reação do governo é acompanhar a situação sem posição crítica

José Cruz/Agência Brasil

No encontro com vice dos EUA, Temer se limitou a dizer que seu governo quer “colaborar” no transporte das crianças brasileiras

São Paulo – A política de “tolerância zero” para imigrantes, posta em prática pelo governo republicano de Donald Trump, separando crianças de seus pais e isolando-as em centros para crianças imigrantes, pode ser definida como uma política nazista, na opinião da professora Miriam Gomes Saraiva, pesquisadora do departamento de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). “O governo poderia expulsar ou extraditar sumariamente um imigrante. Ou fazer um processo, um procedimento jurídico, se a lei não permite que seja imediato. Mas tirar as crianças e mandar para locais onde são desconhecidas parece algo nazista, perverso. Como se essas pessoas fossem totalmente desprezíveis”, comenta. 

Mais de 2 mil crianças, entre as quais 51 brasileiras, foram separadas dos pais pela política do presidente norte-americano. A professora explica que, como a legislação dos Estados Unidos não autoriza a extradição de imediato, Trump fez uma manobra: “Já que não pode expulsar sumariamente, ele prende e faz isso com as crianças, como uma forma de desincentivo aos imigrantes”. 

Diante desse quadro que Miriam define como “assustador”, a reação do governo brasileiro de Michel Temer é acompanhar a situação “de maneira estritamente formal, sem posição crítica e pouco incisiva”. 

Para ela, declarações mais fortes exigindo que as crianças fossem entregues a suas famílias com urgência poderiam até não dar resultado, já que Donald Trump não é conhecido exatamente pela diplomacia. “Nem sei se adiantaria muito o governo brasileiro ser incisivo. Mas quando um país faz um declaração contundente, pública, e vai para a imprensa, isso acaba se tornando um movimento de mobilização na região e nos outros países, principalmente os que têm muitos imigrantes.”

Temer e Mike Pence

Para a professora, o encontro de Michel Temer com o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, nesta terça-feira (26), no Palácio do Planalto, não trouxe nenhuma novidade, seja em relação à postura de Pence, seja a de Temer. Isso porque, segundo ela, “os dois países atualmente confluem nos seus interesses”. No encontro, Temer se limitou a dizer que o governo brasileiro está disposto a “colaborar” com o transporte das crianças brasileiras.

Na reunião, Pence tocou em assunto mais importante para os Estados Unidos: a Venezuela. Ele afirmou ter certeza de que seu governo está “firmemente com você (Temer) e com os países do hemisfério em todos os esforços para ver a democracia restaurada na Venezuela”. O vice estadunidense acrescentou: “chegou a hora de vocês fazerem mais”. 

“Durante a presidência de Lula, quando o Brasil foi uma liderança na região, nos encontros com Bush, o presidente americano sempre pedia que o Brasil tivesse um papel ‘importante na região’ etc. A diferença é que Lula nunca aceitou isso.” 

O pedido de Mike Pence para o Brasil ser mais atuante na questão venezuelana, portanto, não é novo, e aconteceu tanto no período de Lula, quando os EUA eram governados por George W. Bush, como na época dos governos militares brasileiros e seu diálogo com o secretário de Estado Henry Kissinger.  “As posições críticas que o governo Temer adota nem são, na verdade, para agradar os Estados Unidos particularmente. São porque os membros do governo brasileiro, sobretudo do PSDB, têm realmente uma posição contrária à Venezuela.” 

Desde que José Serra assumiu o Itamaraty, em 2016, ela lembra, o Brasil passou a adotar uma posição muito crítica à Venezuela. “Esse é um comportamento característico do governo brasileiro, já que ele é contra a Venezuela (de Nicolás Maduro).” 

Apesar de o Brasil não adotar atualmente uma posição tão radical quanto a da Argentina de Mauricio Macri, que propôs a formação de um grupo na região para fazer um embargo à Venezuela, o governo Temer mantém sua posição anti-venezuelana. O Brasil defende atualmente a suspensão do país da Organização dos Estados Americanos (OEA), o que foi explicitado pelo atual chanceler brasileiro, Aloysio Nunes Ferreira. A Venezuela já foi suspensa do Mercosul.

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