Debate

Questionamentos de 68 ainda buscam um sentido para a política

Pesquisadores refletem sobre eventos daquele ano e sua herança

AI-5: protestos foram pretexto para endurecer regime

São Paulo – “Parecem eventos longínquos, em nossa curta memória histórica”, diz o sociólogo e professor Pablo Almeida, da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), sobre 1968. Mas, ainda hoje, existe a busca de um “sentido da política”, com mais participação social. “(O ano de) 68 talvez revele que a política não é só institucional, dos partidos, mas pode ser feita no cotidiano”, afirma, durante debate promovido na última quarta-feira  (23) pelo Centro de Documentação e Memória (Cedem) da instituição de ensino.

A esperança de “transformação da sociedade” era uma questão unificadora naquele momento, avalia a também professora da Unesp Maria Ribeiro do Valle, apontando ainda a convivência, no governo pós-golpe de 1964, de uma “linha-dura” e setores mais moderados. A primeira foi ganhando espaço ao longo daquele ano, que terminou com a edição do AI-5. “Desde janeiro, o Gama e Silva (ministro da Justiça) já tinha o AI-5 debaixo do braço”, diz a pesquisadora. 

Para ela, os acontecimentos no Brasil não vieram “a reboque” do movimento que ocorria na França, inicialmente com os estudantes. Houve, segundo ela, “muito mais um simultaneidade”, com diferenças. “A ligação entre operários e estudantes não foi tão forte quanto na França”, afirma Maria Ribeiro, citando as greves dos metalúrgicos de Contagem (MG) e Osasco (SP). 

Pablo afirma que aquele também foi um ano de “diversificação das esquerdas”, que vinham de várias rupturas desde 1956, ano em que vieram a público denúncias, na União Soviética, contra o stalinismo. Agora, vive-se certa contraposição conservadora, uma negação em relação aos anseios da época. “Esse conservadorismo, hoje, está junto com uma ideia de liberalização do mercado”, diz o pesquisador. “Hoje, parece que a política desejada é técnica, feita pelo STF”, acrescenta. “Há um discurso autoritário, que exclui o outro e nega a ideia de que o indivíduo possa fazer política.”

 

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