Paralisação

Planalto tenta, mas não explica dificuldades para negociar com caminhoneiros

Eliseu Padilha diz que foram ouvidas muitas entidades, mas que governo não contava com 'horizontalidade' do movimento. Para a CUT, faltaram competência e seriedade para o governo

Antonio Cruz/Agência Brasil

Carlos Marun, Eliseu Padilha e Sérgio Etchegoyen: explicações sobre mais um fracasso do governo

Brasília – O Palácio do Planalto se viu em mais uma saia-justa nesta segunda-feira (28), diante dos questionamentos feitos pela imprensa, por integrantes da base aliada e até por técnicos do governo sobre o inusitado acordo fechado na noite de quinta-feira (24) com representantes dos caminhoneiros que, na verdade, não representavam totalmente a categoria. Durante entrevista coletiva, no início da tarde, três ministros foram perguntados sobre o tema.

A tropa de choque convocada para tentar apagar o incêndio foi formada pelos ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, da Secretaria de Governo, Carlos Marun, e da Secretaria de Segurança Institucional, Sergio Etchegoyen.

Mas suas justificativas não convenceram oposicionistas e representantes sindicais. Padilha, um dos primeiros a falar, afirmou que a negociação com os caminhoneiros foi iniciada dias atrás e que o Executivo buscou a princípio uma negociação com as entidades da categoria. Ele destacou que foram procurados e contatados representantes de 18 entidades.

“Chamamos para dialogar as confederações mais representativas do setor e até várias federações estaduais que integram estas entidades. Não tratamos do assunto de cima para baixo diretamente, pois nossos encontros contaram com muitos braços destas confederações. Infelizmente, entre os caminhoneiros também há um movimento horizontal, que dialogou por meio das redes sociais. Mas assim que percebemos isso, passamos a dialogar também de forma horizontal e não avalio que houve erro de nossa parte”, disse.

‘Negociação sem seriedade’

No último sábado (26), o presidente da CUT, Vagner Freitas, afirmou que a situação (em relação à paralisação dos caminhoneiros) só chegou a esse ponto porque o governo não sentou à mesa para negociar todos os itens reivindicados com seriedade e respeitando os representantes dos movimentos.

Em vídeos divulgados nas redes sociais, caminhoneiros com assento na Associação Brasileira de Caminhoneiros (Abcam) dos estados de Goiás, Paraná e Mato Grosso do Sul reclamaram que viajaram até Brasília para participar da reunião de quinta-feira, mas tiveram seus nomes retirados da lista de representantes dos seus estados que poderiam entrar no encontro – realizado a portas fechadas.

Impedidos de participar, eles se retiraram frustrados e alertando aos colegas que não parassem a mobilização até que tivessem um aceno dos que consideram os verdadeiros representantes do movimento.

Também a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) informou, em uma nota oficial, que a entidade “jamais aceitou as pressões para suspender a paralisação”, conforme foi divulgado na noite de quinta-feira. A entidade disse, no mesmo documento, que o que houve foi um comprometimento de apresentar a proposta do governo aos caminhoneiros que estavam nas rodovias para que eles avaliassem se suspenderiam ou não a mobilização.

Mas em vez disso, se surpreenderam quando o governo chamou a imprensa para comunicar que tinha sido fechado um acordo com a categoria. “O documento que assinamos com o governo foi para garantir que seriam mantidas as propostas apresentadas, caso a categoria as aceitasse. Nosso papel foi o de levar as propostas da categoria para que cada grupo de manifestantes decidisse”, ressaltou a nota divulgada pela entidade no final de semana.

Essa situação só chegou a esse ponto por conta da incompetência do governo em negociar seriamente com os manifestantes quando enviaram a pauta de reivindicações”, disse ainda o presidente da CUT.

Preços nos postos

Apesar de quase todos os pedidos solicitados terem sido oferecidos ontem por Michel Temer, não houve uma comunicação oficial das entidades de que a mobilização acabou. Sabe-se que vários caminhoneiros estão parados nas rodovias se organizando para avaliar a proposta e definir, nas próximas horas, se vão seguir com a paralisação.

Há, ainda, uma parcela de caminhoneiros que pretende só retirar seus caminhões das estradas quando, de forma efetiva, a redução de R$ 0,46 no custo do óleo diesel chegar nos preços praticados pelos postos de combustíveis.

“Em relação a isso temos um impasse que precisa da atenção e da compreensão de todos, não apenas dos caminhoneiros como da sociedade”, ponderou Carlos Marun. “Não temos como garantir que essa redução vá chegar nos postos até quarta-feira. Os postos que compraram diesel lá atrás, que está estocado para ser encaminhado daqui por diante, não poderão cobrar esse preço agora, porque terão prejuízo”, disse Marun.

“A redução foi determinada e será fiscalizada pelo Procon, mas só poderemos garantir a diminuição direta para o combustível que for vendido daqui para a frente”, acrescentou.

O titular da Secretaria de Governo foi irônico ao falar sobre avaliações a respeito da falta de cuidado com as negociações. “Não há nada a se dizer sobre as negociações que fizemos. Dialogamos e tivemos abertura para conversar com o setor de forma muito melhor e mais ampla do que pregaram muitos PHDs que ficam aí alardeando suas opiniões”, desconversou.

Conforme informações de assessores do Planalto, dados que chegaram no final da manhã constatam a existência de 557 pontos de concentração de caminhoneiros nas estradas, em 23 estados. Por isso, o governo está intensificando os pedidos para que, diante da publicação das medidas provisórias no Diário Oficial da União (DOU), tais grupos retomem com suas atividades normalmente.

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