'Desconjurado'

‘O PT registrará Lula em agosto como candidato’, diz Gleisi

Presidenta do partido pede que militância não acredite em 'intrigas' e afirma que candidatura tem base legal. Posição endossada por Marinho, do PT paulista, e Vagner, da CUT, durante passeata no ABC

Ricardo Stuckert

Passeata toma a Rua Marechal Deodoro, no centro de São Bernardo: defesa da unidade no campo progressista

São Bernardo do Campo (SP) – Com discurso de agradecimento a outros partidos do campo progressista, a presidenta nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), refutou o que chamou de “especulações da direita e da mídia” e reafirmou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva será o candidato do partido nas eleições. “O PT registrará Lula em agosto como candidato. O Lula pode e vai ser o nosso candidato”, disse Gleisi, quase ao final da passeata realizada em São Bernardo, no ABC paulista, na noite de ontem (7), quando a prisão do petista completou um mês. Segundo a senadora, Lula disse que está “desconjurado” com a situação do país.

De forma simbólica, a concentração foi na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, onde Lula permaneceu durante três dias, até seguir para a Superintendência da Polícia Federal no Paraná, em 7 de abril. E a passeata seguiu pela Rua Marechal Deodoro, uma das principais vias de São Bernardo, até a Praça da Matriz, tradicional palco de assembleias dos metalúrgicos no início dos anos 1980 – quando Lula ainda comandava o sindicato da categoria –, inclusive na própria Igreja Matriz. O local fica a pouco mais de cinco minutos do edifício onde mora o ex-presidente.

Já na praça, perto das 21h, Gleisi citou visita feita ao ex-presidente na última quinta-feira (3), na sede da Superintendência da PF. Segundo ela, Lula afirmou: “Eu estou desconjurado com a situação do Brasil. Foi para isso que tiraram a Dilma e me prenderam? O que motiva ser candidato é parar com a destruição do Brasil”.

“Por que não registraríamos?”, questionou a senadora sobre a candidatura Lula. Ela lembrou que o ex-presidente mantém seus direitos políticos. Mesmo que seja enquadrado na Lei da Ficha Limpa, acrescentou, será defendido na Justiça Eleitoral. Gleisi citou o artigo 26-C da Lei Complementar 135, que fala em suspensão da inelegibilidade sempre que houver “plausibilidade” no recurso. “Não estamos fazendo retórica. Temos base legal”, afirmou.

A presidenta do PT pediu ainda aos manifestantes que não acreditem “nas intrigas da imprensa” em relação a outras candidaturas. “Estamos contigo, não vamos arredar pé da sua defesa e não vamos abrir mão de tê-lo candidato a presidente do Brasil”, afirmou Gleisi, acrescentando que a prisão se efetivou sem que os recursos em segunda instância tivessem sido esgotados – e sem prova – e que ainda há outros “recursos importantes” em andamento. “Lula está preso sem definição de um crime. Não vamos admitir a ‘normalização’ de sua prisão.”

Independentemente da candidatura Lula, a senadora afirmou que há uma “aliança política” com outros partidos. Citou nominalmente os pré-candidatos do PCdoB e do Psol. “Não vamos esquecer nunca a presença da Manuela d´Ávila e do (Guilherme) Boulos naqueles dias fatídicos”, disse, citando o período no Sindicato dos Metalúrgicos que antecedeu a prisão do ex-presidente. Destacou outros, como PDT e PCO. “Não estamos fazendo uma disputa entre os de esquerda e centro-esquerda.”

“Candidatíssimo”

Presidente do PT em São Paulo e pré-candidato ao governo estadual, Luiz Marinho reforçou a posição de Gleisi, citando comentário do teólogo Leonardo Boff, que conseguiu visitar Lula nesta segunda-feira. “Ele (Lula é candidatíssimo)”, disse o ex-prefeito de São Bernardo. “Vamos derrotar o golpe nas urnas”, acrescentou.

O presidente da CUT, Vagner Freitas, afirmou que a central já decidiu orientar seus militantes no sentido de que não existe “plano B” para a eleição presidencial. “Nosso candidato é Lula. Vamos com ele até o fim”, afirmou, propondo uma “grande discussão nacional contra a violência”. O presidente da CTB, Adilson Araújo, pediu união entre centrais sindicais e movimentos sociais. “Precisamos compreender mais do que nunca a importância da unidade das esquerdas.” Todas as centrais devem se reunir na próxima segunda (14) e concluir um documento com propostas para o próximo governo. Também estavam na passeata dirigentes da Intersindical e da Nova Central.

Depois de apresentações musicais em um carro de som diante do Sindicato dos Metalúrgicos, a passeata saiu por volta de 19h30 em direção à Rua Marechal Deodoro, importante via de São Bernardo, em área comercial, percorrendo aproximadamente dois quilômetros até a Matriz durante uma hora e meia. No trajeto, a vereadora Marielle Franco foi homenageada. O ato foi encerrado pelo presidente do sindicato, Wagner Santana, o Wagnão: “O que nós estamos construindo nestes 30 dias não seria possível se os movimentos sociais não estivessem unidos numa única luta”.

Segundo ele, as candidaturas expressam posicionamentos políticos, mas existe apenas um inimigo: “os que mandam bala” em trabalhadores urbanos e rurais, em sem-terra e sem-teto. “Queremos fazer um país diferente do que está sendo construído agora”, afirmou Wagnão, lamentando o atual “país do ódio” e considerando a prisão de Lula uma tentativa de “intimidação”.

 

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